A história da conquista do Parque Pinheirinho d’Água iniciou-se na década de 80 e passou por muitas reviravoltas. Apesar de ter sido implantado, sua principal função — promover a qualidade de vida da população local, motivo sobre o qual foi construída toda a base da luta por esse espaço — ainda não foi conquistada efetivamente. O processo ainda está em andamento e ainda parece muito longe do fim. A Universidade de São Paulo, em parceria com as escolas da rede pública da região, tem o Parque Pinheirinho d’Água como objeto de estudo desde antes de sua implantação, participando ativamente do processo de conquista desse espaço junto com a comunidade local.
Este Trabalho Final de Graduação tem como objetivos conhecer o processo participativo de busca por um espaço público de qualidade, estudar o projeto executivo contratado, analisar o projeto executado e propor novas estratégias, que permitam que os moradores criem uma relação afetiva com o Parque Pinheirinho d’Água, fazendo com que, a partir da sensação de pertencimento ao local, desenvolvam um desejo de luta e zelo por esse espaço.
Através da Pesquisa de Cultura e Extensão, foi feito um levantamento da situação atual do parque em comparação ao projeto executivo, realizado pelo escritório do arquiteto Raul Pereira. Também foi realizada uma oficina junto com a EMEF Rogê ferreira, com o objetivo de fazer com que a comunidade escolar se envolvesse com a luta por um parque vivo, além de obter ideias dos desejos dos jovens moradores da região em relação ao que este parque poderia oferecer.
A partir da análise do processo histórico e das novas demandas da população, procurou-se projetar novas estratégias para que o parque pudesse finalmente cumprir sua função como espaço público, tendo sempre em mente a escola e a educação ambiental como pontos-chave para o desenvolvimento da consciência da construção coletiva do espaço público e da preservação de áreas ambientalmente sensíveis.
Na nova proposta para o Parque Pinheirinho d’Água foram selecionadas quatro áreas de intervenção:
Área A: é onde atualmente está localizada a EMEF Dep. Rogê Ferreira. Nesta área será implantado um deck-mirante voltado para o brejo q que se configura também como um anfiteatro voltado para a escola, além de uma horta, jardineiras para plantio de plantas medicinais e condimentares, pomar, galpão para armazenamento de ferramentas e composteiras. A área 11, uma das praças previstas no projeto de Raul Pereira, será construída e servirá como uma nova entrada para o Parque Pinheirinho d’Água, conectando a Estrada do Corredor (limite sul da área) ao restante do parque e às ruas de seu entorno.
Área B: contará com uma praça-mirante e um passadiço sobre o brejo, sobre o qual haverá um deck com painéis informativos sobre a fauna e a flora típicas desse tipo de ecossistema.
Área C: trata-se da área 3 do projeto original, onde está o campo de futebol. É a área de maior movimento do parque, com um uso mais intenso do que as demais. O playground, as churrasqueiras, mesas e quiosques serão transferidos para um local mais próximo do portão. Serão implantados nesta área uma estufa, sementeiras, um lago e bancos sombreados.
Área D: é onde se localiza o Centro de Educação Ambiental. Receberá outros equipamentos voltados para a educação e produção artística. Será construído um bosque de leitura e a antiga quadra de bocha será transformada em uma oficina de artesanato. O Centro de Educação Ambiental será o local das aulas teóricas sobre jardinagem, complementando as aulas práticas que serão realizadas nas áreas da estufa, sementeiras, horta, pomar e cultivo de plantas medicinais e condimentares.
Todas as intervenções foram projetadas tendo em mente a importância da educação ambiental na formação para exercício da cidadania. Foram criados diversos locais para observação do ecossistema do parque, pois o ponto principal em torno do qual gira a proposta é a ideia de que é necessário olhar, observar com atenção para compreender a importância da preservação de determinado ecossistema. Tão importante quanto o exercício do olhar é a associação deste ato à utilização de recursos pedagógicos que forneçam informações científicas que estimulem o surgimento de reflexões relacionadas às questões ambientais.
São inúmeros os problemas urbanos da maior cidade Brasil: questões relacionadas à moradia, transporte público, tráfego de veículos, violência. Dentro desta lista, as áreas de lazer não são postas como prioridade.
Infelizmente, é isso que se vê na cidade de São Paulo, e o Parque Pinheirinho d’Água é um grande exemplo do descaso do governo municipal com as poucas áreas remanescentes de preservação dentro da cidade, além de extremamente desrespeitoso em relação ao processo participativo organizado através de tanta luta pelos moradores da região de Pirituba. Não existe incentivo para a participação efetiva dos moradores da cidade na elaboração de estratégias de melhoria do ambiente em que estão inseridos.
Por esse motivo, a ênfase da proposta deste trabalho final de graduação é a educação ambiental; não o simples ensino sobre questões ecológicas, mas a associação entre as diversas áreas do conhecimento humano e o incentivo à observação e à reflexão das questões ambientais dentro do contexto urbano, de forma a permitir que os moradores da cidade compreendam e contestem as medidas tomadas pelo poder público. A educação ambiental configura-se como um importante instrumento de formação de pessoas que exercem sua cidadania, pessoas contestadoras, que tomam atitudes e exigem explicações e ações eficazes de seu governo. É importante que desde cedo haja esse tipo de incentivo na educação. Por isso, o envolvimento das escolas próximas ao Parque Pinheirinho d’Água no processo participativo é essencial para que os alunos se desenvolvam integralmente como cidadãos atuantes.
