problemáticas da transição para a nova sede
Adriana Bestle Turrin
Vera Maria Pallamin
A escolha do tema deste trabalho final de graduação pautou-se na vontade de entender as implicações decorrentes da mudança da sede do MAC-USP para o Palácio da Agricultura no Ibirapuera. São muitas as questões que esta transição suscita, e de naturezas variadas, de forma que é possível abranger uma série de campos de estudo diferentes, todos eles intrinsecamente relacionados com os assuntos abordados ao longo do curso da FAUUSP. Trata-se do maior museu de arte contemporânea da América Latina, pioneiro no Brasil, pertencente à maior universidade do país e que comemora seus 50 anos de existência durante uma mudança física para o mais importante complexo arquitetônico modernista da cidade de São Paulo. É, sem dúvida, uma oportunidade de compreensão e revisão de aspectos importantes relacionados à arte, à arquitetura, ao desenho urbano e também à própria universidade.
Algumas instituições museológicas/expositivas participam ativamente da economia das cidades onde estão localizadas e atraem, consequentemente, uma crescente atenção por parte dos governos locais e de outras instituições privadas, atenção que se traduz na criação de leis de incentivo fiscal à cultura e às artes, patrocínios de grandes corporações, parcerias, etc. O crescimento das atividades culturais também afeta o campo da arquitetura, pois surgem a todo momento novos centros culturais, novas galerias de arte, novas casas de espetáculo e novos museus, que requerem espaços, novos ou adaptados, para expansão das suas instalações, do seu acervo e de suas atividades; a arquitetura desempenha um papel muito importante neste processo, podendo fazer toda a diferença, para o bem ou não, no futuro destas instituições.
Os museus têm provado, ao longo das últimas décadas, sua qualidade especial na transformação da dinâmica social e urbana no espaço onde se inserem, mas nem por isso é justificável acreditar que a simples existência de uma instituição museológica em determinado local possa, sozinha, garantir a transformação do espaço existente ou a produção de novos espaços urbanos. Outros elementos devem ser considerados e devidamente estudados anteriormente à implantação de um museu, sem os quais torna-se difícil não só a reabilitação da região como também o bom funcionamento da instituição.
O MAC-USP encontra-se atualmente desmembrado, ocupando três espaços distintos: uma pequena sede e um edifício-galpão anexo, ambos na cidade universitária, além de uma parte do terceiro andar do pavilhão da Bienal, no Parque Ibirapuera. A nova sede do museu será um espaço adaptado. O museu ocupará o Palácio da Agricultura, edifício que integra o conjunto modernista projetado por Oscar Niemeyer para compor o Parque Ibirapuera na década de 1950. A inserção urbana deste edifício pode ser considerada privilegiada, pois encontra-se em um bairro nobre da cidade, em frente ao parque urbano mais frequentado do município, cujo conjunto arquitetônico é palco de atividades e eventos culturais internacionalmente reconhecidos. No entanto há elementos da atual situação do MAC-USP denunciando que somente a mudança para este local não é suficiente para promover a articulação do museu com estes equipamentos ou com o restante do entorno urbano – o museu já ocupa um espaço no Pavilhão das Indústrias, sede da Bienal de São Paulo, e nem por isso ganhou em visibilidade ou em integração com os demais equipamentos culturais e de lazer da região.
Além disso, as mudanças ocorridas no traçado urbano do bairro desde a década de 1950 causaram um desmembramento na articulação física entre o Palácio da Agricultura e os demais edifícios do complexo modernista no interior do parque.. A ruptura não é apenas física, pois dela derivou um entendimento geral de que o “edifício do Detran” não faz parte do mesmo complexo de edifícios instalados dentro do Parque Ibirapuera. As problemáticas desta configuração urbana não podem ser menosprezadas.
Tendo em vista o caráter acadêmico e educativo do museu, que não condiz com a atual onda de exposições ligadas ao crescente mercado da arte como entretenimento, e somado à falta de articulação física adequada e convidativa entre a nova sede e os demais equipamentos culturais da região, é possível que o museu deixe de atrair potenciais visitantes.
É também muito relevante considerar a mudança do ponto de vista da adequação de um edifício moderno, administrativo funcionalista, a um uso diverso daquele ao qual se destinava originalmente, algo talvez inédito na cidade de São Paulo. Trata-se de uma oportunidade de avaliar a relação entre a arquitetura moderna e a arte contemporânea, representada pelas obras pós-modernas e contemporâneas presentes no acervo do MAC-USP.
Ao passo que também encerra, pelo menos em teoria, o “nomadismo” e a fragmentação da instituição, a mudança para a nova sede engessa possibilidades de expansão e de grandes transformações físicas no espaço expositivo, considerando o denso tecido urbano em que se insere e a condição de patrimônio tombado do seu edifício.
O processo também enseja a análise da transformação do edifício sob a ótica da preservação do patrimônio arquitetônico, conforme as diretrizes dos órgãos responsáveis; diversos aspectos devem ser levados em consideração, como a manutenção ou não das características que conferem ao Palácio da Agricultura seu caráter de documentação do modernismo arquitetônico assim como a adequação ou não do projeto de reforma ao seu funcionamento como museu de arte contemporânea.
Como aluna, considero importante o conhecimento e usufruto do patrimônio da USP, do seu funcionamento e do seu papel perante a cidade. Do ponto de vista da formação em Arquitetura e Urbanismo, o objeto de estudo tem importância pela multiplicidade e relevância das questões que suscita - no âmbito político, social, urbano, arquitetônico e artístico, e corresponde ao caráter pluralista e variado do ensino na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
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