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secao 4!

Mooca entre passado e futuro

Alex de Oliveira Sartori

Maria de Lourdes Zuquim

Os bairros da Mooca, Brás e Ipiranga estão passando por processos muito próximos de transformação. Depois de terem sido bairros de pujante atividade industrial, atualmente veem a drástica redução do número de fábricas, que migram para outras partes da cidade, do estado ou do País. Esta transferência pode ser chamada de desindustrialização quando vista numa escala reduzida, do bairro, mas não quando tratada em uma escala maior, da cidade, porque não há evidências da drástica redução das indústrias em São Paulo, pelo contrário, ainda é aqui que a produção se concentra, embora esteja crescendo no interior do estado. Podemos falar então em uma desconcentração industrial, ou seja, em uma reorganização espacial do setor secundário que tem crescido fora da metrópole paulistana, ainda assim em sua órbita.

A saída das indústrias dos bairros citados acima tem sido aproveitada pelo mercado imobiliário como uma oportunidade de construção de grandes edifícios residenciais, que seguem o padrão de condomínios verticais fechados, reproduzindo um modelo de cidade marcada pelo enclausuramento e segregação, além de apagar partes importantes da memória da cidade com a demolição de antigos galpões fabris com indiscutível valor histórico. Esta atuação ainda é marcada pela continuidade de uma postura bastante perversa de construção da cidade, que se caracteriza pela falta de visão de conjunto e iniciativa individual, pela desconsideração com a morfologia urbana e com a organização das atividades na cidade.

Acreditamos que o mesmo processo possa acontecer em outras áreas da cidade onde as indústrias ainda não estão sendo substituídas por edifícios residenciais nos padrões comentados. Uma delas é a Barroca, na Mooca, onde a atividade industrial predomina, mas que tem as características preferidas pelo mercado imobiliário: terrenos amplos e baratos. Há vários indícios de que a área já sofre pressões para ser transformada, como a construção de um shopping no lugar da antiga fábrica da Ford Caminhões, a Operação Urbana Mooca-Vila Carioca e projetos dos escritórios UNA e Foster+partners. Todavia é preciso considerar este processo dentro de uma reorganização espacial da indústria em escala de macrometrópole. Isto abre uma lacuna, uma incerteza com relação ao futuro do bairro.

Essa pressão e as mudanças em curso, acrescidas dos planos existentes de transporte que terão grande impacto sobre a Barroca, tanto para cargas quanto para passageiros, criam uma excelente oportunidade de inserir o bairro em um novo contexto, isto é, a organização das diversas atividades no território. A construção do rodoanel, os projetos do ferroanel e hidroanel e a segregação do transporte de cargas e passageiros na ferrovia, que integrados chamamos de “circulação de serviços” darão novas condições para a indústria da capital. A expansão da rede de metrô sobre o sudeste da cidade também a articulará melhor para o pedestre.

Imaginamos, então, o cenário que parte das indústrias será preservada, tanto como edificações como atividade, e que se acrescentarão novas atividades cujo eixo é o habitar, e abranje, portanto, comércio, serviços e equipamentos públicos.

Definimos como objetivo para o projeto a criação de condições para uma transformação da área condizente com suas estruturas, projetos futuros, mudanças da macrometrópole e também com um modelo de cidade desejável. Para isso foram colocadas como diretrizes: a implementação de estruturas de mobilidade e de estrutura de espaços livres; novas atividades, e preservação do patrimônio histórico.

As estruturas instaladas, ferrovia e galpões, constituem um importante testemunho histórico que deve ser preservado. Elencamos quais os edifícios devem ser avaliados e preservados e trabalhamos para imaginar de que forma eles seriam aproveitados. Concluímos que eles podem manter a atividade que já desempenham ou ser reaproveitados para novas atividades, como locais de trabalho, comércio, serviço ou equipamentos públicos.

A partir disso traçamos uma nova ocupação que dá suporte a novas atividades, centradas no habitar. Isso se revela pelo sistema de espaços livres que pensamos através da articulação do viário existente com o projetado a fim de estabelecer conexões importantes entre áreas livres públicas, Isto foi desenhado de forma a permitir a fluidez pelo espaço; a terra pertence aos homens e por isso foi tornada coletiva na sua maior extensão possível. Não há entraves, muito menos enclaves; ao invés disso espaços coletivos: praças largos, pátios e orla fluvial, onde os homens possam se reunir, se encontrar, transmitir e trocar conhecimentos e experiências e adquirir noções básicas de cidadania e a democracia seja construída de fato; lugares que se esvaziam de edificações mas se enchem de sentidos, musica, arte e sensações.

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