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secao 4!

Percepção espacial pelo pedestre:

proposta de sistema de espaços livres públicos para a R. Vergueiro

Beatriz Mickle Griesi

Silvio Soares Macedo

O tema deste TFG foi o dos espaços livres públicos para o pedestre, sob uma abordagem qualitativa que buscou entender de que maneira e em que medida bons projetos são capazes de influenciar a percepção que os usuários têm do local. Também buscamos explorar o desenho urbano como ferramenta de requalificação de áreas obsoletas, degradadas ou subutilizadas nas cidades, tornando-as propensas a abrigar e estimular o convívio entre pessoas e a diversidade de atividades, formas e usuários.

Partimos de uma pesquisa conceitual visando estabelecer qualidades próprias de um lugar – entendido como aquele onde há de fato identificação e apropriação pelo público, em detrimento a meramente um “espaço” –, bem como da exploração sobre como a composição de elementos no ambiente pode estruturar o espaço urbano. Uma das conclusões atingidas durante a pesquisa teórica foi a da impossibilidade de condensar num só conceito as características desejadas para um projeto de espaço livre público. Trata-se de uma série de aspectos (cujos parâmetros para sua classificação como “qualidades” são uma interpretação pessoal) que possuem como traço comum o fato de estarem intimamente ligados ao modo como os espaços são percebidos por seus usuários: materialidade, qualidades sensoriais, texturas, cores, a sensação de surpresa, descoberta ou experiência, os diversos tipos de apropriação que os espaços e seus elementos permitem.

Alguns autores foram importantes para explorar conceitos e técnicas compositivas que viriam a ser aplicados no projeto desenvolvido mais adiante. Com Castello exploramos o conceito de lugar e sua classificação por tipos; com Cullen investigamos as maneiras através das quais o espaço é percebido pelo pedestre; e com Ashihara apreendemos alguns conceitos como de espaço positivo x espaço negativo, exploramos as relações entre alturas e distâncias dos elementos urbanos e qual a interferência em sua percepção, etc. Também foram destacados projetos de revitalização urbana como referência, nos quais podemos verificar uma boa estruturação dos sub-espaços numa sequência articulada, e nos quais ficam claras as qualidades sensoriais, o cuidado com os detalhes, materialidade, cores, luzes e texturas.

Passamos então à análise da nossa área de intervenção, sobre a qual buscamos aplicar conhecimentos adquiridos nas pesquisas teóricas e referências projetuais ao projeto de requalificação de espaço livre público em São Paulo. A área escolhida para tal é um percurso de aprox. 1,3 km ao longo da R. Vergueiro, englobando as estações Paraíso e Vergueiro do metrô. Sua escolha foi feita tendo em vista o grande fluxo diário de pedestres, bem como as potencialidades identificadas. Além de importante nó no sistema de transportes públicos (especialmente pelo encontro das linhas Verde e Azul do metrô na estação Paraíso e pelas numerosas linhas de ônibus com parada nos arredores), a área possui pontos de atração de público importantes, como o Centro Cultural São Paulo (frequência média de 2 mil visitas/dia) e a Catedral Ortodoxa – ponto marcante na paisagem. Quanto aos usos predominantes na área, destacam-se o comércio diversificado, torres de escritórios, grande quantidade de hospitais na região, bem como o uso educacional, com vários colégios, universidades e cursinhos nos arredores. Com isso pudemos ter idéia do perfil do público a ser atendido em nosso projeto. Outro dado relevante é a topografia, bastante marcada pelo desnível entre a R. Vergueiro e demais ruas lindeiras em relação à Av. 23 de Maio, construída sobre o vale do rio Itororó.

A partir de visitas de campo, pudemos identificar problemáticas e potencialidades do local. Dentre as problemáticas, podemos destacar a dificuldade da travessia de pedestre em diversos pontos, especialmente da Av. Bernardino de Campos e entre os dois lados da R.Vergueiro; bem como a presença de numerosos canteiros elevados na praça do metrô Paraíso (alguns funcionando como respiro para a estação), que dificultam a livre circulação dos pedestres e a leitura do espaço como uma unidade. Em termos de potencialidades podemos ressaltar a arborização de grande porte ao longo da Av. 23 de Maio; as grandes áreas desocupadas e estacionamentos; as diversas visuais interessantes, especialmente sobre viadutos; e o público expressivo já existente na área, em especial estudantes e visitantes do CCSP.

Após nossa análise da área de intervenção, foram delineadas as intenções projetuais: requalificar o local escolhido através do projeto de um sistema de espaços livres públicos que não só tirasse proveito das potencialidades e do público existentes, mas que transformasse o caráter da área de um mero ponto de passagem a um lugar que convide ao estar e ao passeio. Para tanto, buscamos trabalhar com diversos elementos paisagísticos e do Desenho Urbano, bem como diversificar usos e atividades. Procuramos proporcionar variadas oportunidades de percepção, apropriação e experiência do espaço na cidade — sensorial, lúdica, topográfica – dentro de uma sequência de espaços como parte de um todo. Adotamos como partido uma linguagem geométrica, contemporânea, com a previsão de uma determinada palheta de materiais e família de mobiliário urbano que ajudariam na criação de identidade facilmente percebida pelo usuário.

O processo projetual teve início na escala 1:2000 nas primeiras análises, chegando à 1:500 em planta na versão final e 1:125 / 1:100 em corte. O estudo através dos cortes se mostrou essencial para a compreensão da complexidade do terreno e para a exploração de diversas formas de contato com a arborização dos taludes da 23 de Maio. Do mesmo modo, fizeram-se fundamentais as indas e vindas nas diversas escalas de projeto, permitindo seu desenvolvimento trecho a trecho (segundo os usuários e as questões específicas identificadas no local) e ao mesmo tempo buscando a coerência do projeto como um todo. Acreditamos ter alcançado, assim, um sistema de espaços livres públicos que atenda à demanda da região e que ofereça novas oportunidades de usfruir a cidade enquanto lugar da vida coletiva urbana.

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