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secao 4!

Três esquinas:

ensaio sobre o espaço público

Eduardo Bella Lisboa

Luís Antônio Jorge

O objetivo do trabalho é reconhecer e refletir sobre as questões componentes do espaço público cotidiano urbano. É predominantemente através desse espaço que se experimenta a cidade, sendo nele onde os conflitos e especificidades se manifestam de forma mais clara.

A primeira parte do TFG se concentrou em leituras teóricas e práticas do espaço urbano. Os livros que se destacaram foram “O declínio do homem público: as tiranias da intimidade” de Richard Sennet e “Walkscapes: o andar como prática estética” de Francesco Careri. Além destes, também contribuíram os catálogos de exposições visitadas antes do trabalho: “Post-it city: cidades ocasionais” e “A rua é nossa... É de todos nós”. Este último definiu a metodologia inicial da pesquisa, que foi levantar uma série de temas e organizar os estudos e as reflexões em torno destes.

Vendo a necessidade de atritar a teoria com a realidade, foram realizadas três experiências de leitura de espaços na cidade. As três consistiram em passar um período de 24 horas observando uma esquina e realizando registros de hora em hora. A primeira foi na esquina da R. Fradique Coutinho com a R. Cardeal Arcoverde em Pinheiros e foi registrado por escrito, em fotos aéreas, tudo que chamava a atenção naquele momento. A segunda foi no cruzamento da Av. Paulista com a Av. Brig. Luís Antônio, também com registros escritos em fotos aéreas. A terceira foi um retorno ao local da segunda, só que dessa vez, de hora em hora, foi filmado uma volta completa a partir da ilha no meio da avenida.

Com o fim do TFG 1 ficou claro que o produto final seria composto por reflexões teóricas e abordagens do espaço. No início do TFG 2 foram definidos três lugares em São Paulo para serem estudados, seriam as duas esquinas utilizadas para as experiências anteriores e uma na Barra Funda. Isso possibilitou um aprofundamento em cada local, além de estabelecer relações entre eles. A escolha se deve ao fato de os três participarem do meu dia-a-dia, já que o foco do trabalho é estudar o espaço público cotidiano. Além dos lugares, também, depois de muitas combinações e arranjos, chegou-se em quatro temas chefes em torno dos quais se organizariam as reflexões teóricas. Com isso o trabalho tomou forma, sendo dividido em ensaios teóricos e representações do espaço.

Os quatro temas dos ensaios são: Formal e Informal, sobre a produção do espaço público; Códigos, sobre a comunicação entre os elementos do espaço; Deslocamentos, sobre o deslocamento nesse espaço; e Redes, sobre a conexão entre as pessoas e os espaços. A seguir um trecho de cada um:
Formal e Informal: “Denominar aspectos da cidade como formais ou informais suscita muitas discussões. Os conflitos surgem a partir das diferentes definições desses dois termos. De um ponto de vista legal, formal é algo oficial, conforme a lei, previsto e regulado e informal seria o contrário. Formal também pode ser aquilo com forma definida, necessariamente material e informal seria algo imaterial, subjetivo. As relações entre estes aspectos produzem territórios, que se relacionam e produzem a cidade.”
Códigos: “Códigos são como os elementos integrantes da paisagem comunicam algo. As mensagens são infinitas. Podem servir para se localizar na cidade, para determinar ou restringir certa atividade, para indicar quando e onde atravessar a rua, para estimular ou inibir uma interação, dentre muitas outras funções. As pessoas transmitem muitos códigos. A roupa, os objetos que carregam, a velocidade com que se deslocam, as expressões faciais, o isolamento ou agrupamento, a presença ou ausência no espaço, tudo transmite uma mensagem.”
Deslocamentos: “Francesco Careri, no livro “Walkscapes: o andar como prática estética”, apresenta o monolito erguido por grupos nômades para demarcar rotas como a primeira produção arquitetônica da humanidade. Essa ideia vai contra o pensamento comum de que o início da arquitetura se deu com os assentamentos sedentários, posteriores aos monolitos, mas reforça a importância do ato de se deslocar na dinâmica humana. Nas cidades contemporâneas tal importância é percebida pela participação das estruturas associadas ao deslocamento no desenho urbano.”
Redes: “O crescimento das cidades e o desenvolvimento dos meios de transporte fragmentaram geograficamente a vida nesse ambiente. Os espaços onde se realizam as diversas atividades humanas urbanas, dentre as quais morar e trabalhar predominam, estão espalhados pela cidade, podendo ser compreendidos como fragmentos da mesma. Tais partes estão conectadas pelo espaço público, mas é o indivíduo que, ao percorrer esse espaço de uma parte a outra, cria relações e significados para e entre elas.”

Em busca de uma coesão para o trabalho, foram realizadas as mesmas representações das três esquinas. Na primeira, denominada “Volume”, o espaço entre os edifícios foi modelado como um volume maciço, com o intuito de contrapor a ideia de “vazio”, abarcando a densidade de relações existentes naquele espaço. A segunda é uma descrição de um fato que aconteceu naquele local, com registro do dia, hora e temperatura. Se chama “Narrativa” e discute a mutabilidade do espaço ao longo do dia. A terceira, “Componentes”, tem como objetivo representar, em linguagem arquitetônica, os componentes humanos daquele espaço, reforçando os seus caráteres de agentes produtores do espaço. A quarta, intitulada “Vista aérea”, é uma foto aérea da esquina com a identificação das coordenadas e altitude. Nesta última se pretendia uma representação mais convencional do espaço.

Essas representações aparecem em fichas com 9x9 cm. Os ensaios são sanfonas que, quando fechadas, ficam com as mesmas dimensões das fichas. Tudo isso está dentro de uma caixa que também contém uma “ficha capa” com a bibliografia no verso.

O formato do trabalho estimula a construção de diferentes leituras por quem entra em contato com ele, assim como a estabelecer relações entre as peças e com questões, referências e memórias pessoais do espaço público da cidade.

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