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secao 4!

FAU MIDIATECA

EDUARDO VIANA RODRIGUES

MYRNA NASCIMENTO

O objeto deste projeto final de graduação é um edifício para a Midiateca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP - FAUUSP. O espaço da midiateca foi projetado para receber o acervo iconográfico, isto é, de fotografias, slides e vídeos, atualmente alocados na biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, projeto de Vilanova Artigas (1962-69).

O espaço proposto para a Midiateca se destinará não somente à armazenagem mais adequada destes documentos, mas também a promover o acesso mais facilitado dos seus conteúdos, atuando na sua democratização aos interessados da comunidade USP e aos usuários e pesquisadores da cidade. Por exemplo, documentários e fotografias podem, a partir deste projeto, ser emprestados e vistos pelo grande público em exibições temáticas.

Meu interesse em explorar esse assunto como tema de projeto se deu por uma demanda de espaço da nossa biblioteca, que constantemente recebe doações de livros e desenhos de projetos. Além disso, na atual conformação da biblioteca da FAU, o acervo iconográfico não dispõe da oportunidade de ser exposto, ou de estar ao alcance mais próximo dos próprios estudantes da FAU. A partir da proposição de um novo abrigo para este acervo, interessou-me a possibilidade de explorar a proposição de um espaço potencialmente rico em experiências sensoriais e detentor de um significado.

Pensando em proporcionar um espaço condizente com o conteúdo a ser acolhido, esse projeto propõe a construção de um lugar adequado ao seu uso, e ao mesmo tempo passível de diversas apropriações, à semelhança da própria FAU. Além da funcionalidade e da salvaguarda destas mídias em termos tecnológicos e ergonômicos, a arquitetura deste espaço foi pensada para proporcionar a recepção de futuras conformações espaciais na exposições destes documentos, de forma a possibilitar a criação de atmosferas e sensações pertinentes ao conteúdo que nele seja exposto.

O edifício da FAUUSP foi um enriquecedor objeto de estudo. Um projeto emblemático do período arquitetônico que testemunhou, e que expressa credos de um período marcante da história brasileira e da arquitetura moderna paulista. Intervir no domínio deste bem patrimonial representou um desafio projetual, dado seu valor respresentativo e icônico. A força dos conceitos embutidos no edifício por um raciocinio projetual tão consistente foi, por outro lado, muito inspirador.

O uso bruto do concreto armado como artifício estrutural e plástico foi aplicado largamente neste edifico, constituindo-o como um exemplar típico da escola modernista paulista. O uso recorrente do material no período entre os anos 1950 e 60 pela escola paulista se deu pelas possibilidades do material em proporcionar a execução de imensos vãos livres circundados por espacos funcionais adjacentes sob coberturas totalizantes, por vezes com caráter intencionalmente monumental.

Vilanova Artigas justifica o atributo de proporções tão monumentais para este edifício a uma homenagem aos alunos da escola de Arquitetura, ambicionando não o simples abrigo, mas propiciar ali a atividade politica, especialmente em face do contexto político do projeto, em plenos anos 60, de ditadura militar.

Entretanto, criticas certamente podem ser feitas à desatualização de alguns con ceitos embutidos no projeto, à obsolescência de uma flexibilidade espacial aclamada como ilimitada, que não acompanhou mudanças estruturais na atividade de projetar contemporânea. Por exemplo, tendo o eixo de produção do projeto arquitetônico pivotado para os computadores enquanto principal ferramenta, espaços com maior privacidade e quantidade suficiente de tomadas se tornaram necessários. Obviamnte o arquiteto nao poderia prever daquele momento tais mudanças e o impacto que causaram na atividade de projetar.

Contudo, apesar das criticas genuínas a aspectos funcionais do edifício frente a certas escolhas e decisões projetuais adotadas, deve-se ter em vista que não muitos outros projetos conseguiram expressar os valores de coletividade e de interação social com essa grandiosidade, que qualificam o edifício como uma ferramenta de ensino de arquitetura em si próprio.

De uma forma ou de outra, do conjunto de complexidades que constituem o projeto da FAUUSP, são muitas as lições que podem ser tiradas, tanto daquelas que se mostram pertinentes e positivas quanto daquelas que servem como aprendizado para próximas experiências.

O intuito com este projeto de Midiateca é não somente o de atender a um requisito funcional relativo a um acervo, mas também o de favorecer a democratizacao dos conteúdos deste acervo, em consonância com os valores de coletividade e democracia que moldaram o partido arquitetônico da própria FAU. E, acima de tudo, prestar um tributo à escola que à parte de formar brilhantes profissionais, afirma-se com o tempo como um ícone arquitetônico de onde podemos todos, como alunos, tirar valiosas lições.

Em se tratando de um bem patrimonial municipal e estadual, a intervenção de projeto nas imediações da FAU, como no caso deste anexo, demandou atenção a certos pontos relativos às teorias do Restauro, assim como a recomendações dos órgãos reguladores que o tombaram: CONDEPHAAT- Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico em 1982 (Decreto 21.736/81) e CONPRESP - Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo em 1991 (Resolução no. 05/91, Lei no. 10.032).

A legislação de tombamento incide não apenas no bem tombado em si, mas também implica restrições de ocupação e uso na área envoltória. Assim como o tombamento não inviabiliza transformações no bem protegido, também a área envoltória pode sofrer mudanças, desde que devidamente projetadas e circunstanciadas e que comprovem não prejudicar a leitura do bem tombado; isso se aplica a variadas ações como mudança de pavimentação, projetos paisagísticos e construção de anexos, por exemplo. Esses novos elementos, assim como explicitado nos itens 6 e 7, deverão ser concebidos levando em consideração o bem cultural, inclusive como dado projetual, inovando, mas de maneira compatível do ponto de vista formal, sem recair em neutros, em imitações ou entrar em competição.

Artigo 137 do Decreto no 13.426, de 16 de março de 1979, no que se refere à área envoltória dos bens imóveis tombados pelo CONDEPHAAT. ualquer intervenção em área envoltória a um bem tombado, inclusive a construção de anexos, devem ser feitas de modo a assegurar o respeito pelo bem e não prejudicar a sua leitura. (Carta de Veneza: Artigos 6o, 12o, 13o, 14o).

Artigo 10 - Sobre intervenções em áreas circundantes do documento: EDIFÍCIOS DA FAU COMO BENS CULTURAIS: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA PARA INTERVENÇÕES.

Tendo em vista as restrições usualmente decorrentes do tombamento do edifício da FAU, propõe-se este projeto de Midiateca como uma licença poética.

Como explica a própria legislação, a regulação não impediria um intervenção, apenas colocaria a necessidade que o projeto fosse discutido junto aos órgãos de preservação, municipal e estadual, para sua aprovação em acordo, de maneira a assegurar a integridade do bem tombado.

Tendo isto em mente, buscou-se atentar aos preceitos mencionados e tais leis que agiriam no caso da real construção do edifício anexo, buscando responder aos requisitos tangentes à leitura, percepção e manutenção da integridade do bem tombado, o edifício da FAU, desde o início da concepção do projeto do anexo.

Buscou-se tirar partido de possíveis restrições dos órgãos reguladores, transformando-as em oportunidades, no intuito de promover uma integração mais sinérgica entre os dois edifícios, mesmo se tratando de uma intervenção hipotética. A exemplo, o alinhamento da altura máxima do anexo ao gabarito da FAU em 19m de altura busca respeitar sua horizontalidade, sem interferir em sua leitura.

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