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secao 4!

sobre o nome das coisas

felipe fuchs

giorgio giorgi jr

Este é um trabalho prático, investigativo e lúdico sobre o nomes das coisas. Ele se propõe a lidar com duas linguagens distintas e, portanto, se insere no âmbito de investigação da intersemiose, mais especificamente, no campo de estudo das relações entre a palavra e o objeto. O trabalho busca as brechas oferecidas pela língua brasileira que, através da riqueza polissêmica, nos expõe ambiguidades em seus significados. A palavra serve de força geratriz para a criação dos objetos que, por sua vez, brincam com o significado da palavra que o nomeia. Nesse âmbito, o trabalho segue o caminho do humor e do "nonsense". A intenção principal é chamar a atenção aos automatismos do nosso dia-a-dia e nos colocar a refletir sobre os nomes e os significados que damos às coisas.

Referências

Foram três as referências principais para a concepção do trabalho.

A obra "one and three chairs", do artista norte-americano Joseph Kosuth. Composta por uma cadeira, uma fotografia da cadeira e uma definição de dicionário ampliada da palavra cadeira, o conjunto dos três elementos pode ser visto como um simples, mas complexo modelo de signos. Através do uso de linguagens distintas, Kosuth investiga e questiona as formas de produção de significado e nos convida a refletir sobre o conceito que as coisas carregam.

O "Catalogue d'objets introuvables" do francês Jacques Carelman. Usando uma boa dose de humor e crítica social, o francês desenhou objetos que reinterpretam o modo como estamos acostumados a ver. Dentre esses objetos, o "guarda-chuva para regiões secas" surgiu como símbolo para a concepção do trabalho. Um guarda-chuva que tem seu 'casco' de proteção voltado para cima, e que nos faz pensar sobre o conceito que o termo 'guarda-chuva' carrega, talvez, mais condizente com o 'guarda-chuva para regiões secas' do que com o nosso guarda-chuva.

O livro-objeto do brasileiro Guto Lacaz, conhecido por criar a partir dos objetos vários tipos de aparatos e de 'engenhocas'. Dentro de sua produção, encontrei o ponto de tangência definitivo em relação ao trabalho, a obra "cheque mate". Ao associar a imagem de um cheque de banco com um saquinho de chá-mate, Guto reverte o sentido de um termo usual da língua. Sua visão, bem humorada, serviu como inspiração mostrando que a arte não é nada além de convenção e, portanto, pode ser proposta como simples divertimento, sem deixar de ser levada à sério.

Materializações

Os processos de materialização são o corpo principal do trabalho, a parte prática e mais significativa da proposta. O caderno mostra as etapas do processo, detalhando as ideias, intenções, e a construção dos objetos. O resultado foi a criação de quatro objetos a partir dos termos, 'banco de dados', 'concreto armado', 'porta-retratos' e 'vidro temperado'.

Para esses processos de materialização, o caminho seguido foi o de buscar a síntese através da referência do objeto à sua materialidade. Procurei as respostas através de conceitos e características que a própria coisa carrega consigo. Exemplo disso, são as citadas 'diretrizes de concepção do objeto', cada uma ligada a especificidades de sua própria natureza. Nessa configuração a essência conceitual dos objetos vincula-se à sua realização singular, unindo o significado a seu corpo material.

Considerações

O intuito de produzir algo colocando a 'mão na massa' levou à experimentação e ao uso de diversos processos manuais e materiais. Movida pelos termos escolhidos, a variedade de temas surgidos gerou a necessidade de aventurar-se por diversos papéis ligados à produção da arquitetura como os de marceneiro, pedreiro, pintor, vidraceiro, costureiro, ilustrador e fotógrafo.

O gesto de concepção dos objetos foi conduzido pelas análises do professor Julio Plaza apresentadas em seu livro 'Tradução intersemiótica'. Procurei exercer o papel do que o autor chama de 'tradutor', aquele responsável por recodificar e transmitir uma mensagem existente de uma linguagem à outra. Para isso, segui na linha da 'transcriação'. Plaza defende que através da 'intervenção criadora' do 'tradutor', a linguagem verbal é capaz de instaurar uma desarranjo nos hábitos, expectativas e convenções instituídas, tornando possível deslocar os signos e recriar seu entendimento, isto é, programar os efeitos. Desse modo, o gesto de 'tradução intersemiotica' deve ser visto como método criativo, capaz de repensar a condição original, transformando-a numa nova configuração, seletiva e sintética.

Com a experiência passada ao longo da criação dos objetos, foi possível perceber cada caso trouxe problemas próprios e exigiu soluções específicas. Procurei resolvê-los da melhor maneira possível, buscando equilibrar todas as variáveis existentes, tanto conceituais, como materiais. Como experiência acadêmica, o trabalho foi colocado como síntese prática-crítico-criativa, tendo se resolvido no trajeto entre o pensar e o fazer.

Reflexões gratuitas

Ao longo do processo de produção dos objetos recebi uma série de opiniões, sugestões e contribuições importantes. Como resposta a esse envolvimento, resolvi produzir e disponibilizar algumas 'reflexões gratuitas'. Levantei alguns vocábulos, normalmente usados na arquitetura e ilustrei algumas dessas situações. Em seguida, criei pequenos espelhos que quando abertos, colocam de um lado o termo, sua definição e sua ilustração, e de outro, o espelho. A intenção foi que as pessoas levassem esses espelhinhos consigo no dia da apresentação servindo como uma espécie de lembrança, um convite à reflexão, gratuita, levando a discussão e a imaginação adiante.

A banca

A proposta de construir os objetos e a busca por uma maior interação me levou a realizar uma pequena exposição dos objetos no dia da apresentação. Com isso, passei então a pensar nos outros elementos que também estariam presentes no dia e como poderia incorporá-los. Surgiu então a ideia de criar, a partir do termo 'banca', uma estrutura que configurasse uma referência à banca das feiras livres semanais e, desse modo, reforçaria o caráter lúdico e interativo do trabalho.

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