A nova orla fluvial de Manaus
Flávia Garofalo Cavalcanti
Luis Antônio Jorge
Este trabalho final de graduação apresenta ideias de projeto para a orla do Rio Negro e o desenho da cidade de Manaus, Estado do Amazonas. Estrutura-se a partir das problemáticas urbanas de Manaus, tendo o Rio Negro e seus igarapés como norteador da relação cidade/ambiente construído - água/ ambiente natural. O recorte escolhido foi a área central da cidade, à beira do rio, e seus equipamentos urbanos: porto público, mercado municipal, igreja matriz e igreja dos remédios, preocupando-se também com a presença da habitação como insumo necessário à vivacidade do espaço público.
A escolha da cidade de estudo, Manaus, e da escala de intervenção, projeto urbano, foi incentivada por uma vontade pessoal de alargar minhas fronteiras e conhecimentos sobre meu próprio pais. O olhar, que ultrapassou os limites paulistanos, procurou compreender o que é uma cidade de 2 milhões de habitantes à beira do Rio Negro, como se dá a relação dos habitantes com a sua cidade, com o seu Rio, e como a gestão pública do espaço urbano responde às necessidades presentes no território manauara.
Entende-se por Projeto Urbano um projeto físico-espacial das estruturas que organizam os espaços urbanos e metropolitanos, projetos que se apresentam como uma intervenção direta e única na cidade. Entende-se também que as infra-estruturas de uma cidade devem ser projetadas para, mais do que viabilizar um serviço específico, como a comunicação territorial no caso do sistema viário, colaborar para a criação de lugares adequados à vida urbana e imagens referenciais na paisagem, contribuindo assim para o surgimento de identidades urbanas e, consequentemente, para uma relação afetiva dos habitantes com suas cidades. Em suma, as cidades devem ser projetadas para as pessoas.
O trabalho parte de um estudo macro - região amazônica, sua situação geográfica e condicionantes como o ‘movimento das águas’, para aproximar-se gradativamente da cidade de Manaus e suas problemáticas urbanas. Neste percurso observou-se a configuração da Região Metropolitana de Manaus, identificando importantes diferenças entre a cidade-sede e as cidades vizinhas como Iranduba, Careiro da Varzea e Manacapuru. Diferenças que nos mostram como Manaus um dia foi em relação ao Rio Negro, contato direto e franco com suas águas, e como essa relação se transformou nos dias atuais. A partir dessa comparação foi possível compreender melhor o espaço intra-urbano manauara, analisando temas como transporte, habitação e espaços públicos.
Neste estudo ficou clara a existência de dois momentos distintos da cidade de Manaus. O primeiro, em um tempo passado, no qual a cidade e seus habitantes olhavam o rio, tinham suas águas como balizadoras do caminhar, do trabalhar, do habitar. O segundo momento, que se extende até o tempo presente, rompe com essa relação, afasta o rio do ambiente edificado da cidade através de aterros e avenidas, uma infra-estrutura que avançou sobre o espaço das águas e escondeu de nossa vista o Rio Negro. Considerando que este cenário, instituído e consolidado pela urgência do capital, anulou em diversos trechos a natureza de Manaus, seu verde, suas águas e seus hábitos, é que se coloca uma visão crítica e propositiva do espaço urbano da cidade manauara e de suas atuais políticas públicas.
Portanto, o percurso deste trabalho tem a intenção de traçar um panorama sobre Manaus, sua história e evolução, e convergir para um ponto central, local do projeto proposto, a orla fluvial urbana do centro de Manaus. O projeto proposto entra no âmbito da requalificação urbana de zonas centrais. Entende-se por requalificação a atribuição de qualidade à um espaço que a perdeu, nesse caso a área central de Manaus perdeu sua grande qualidade: proximidade com as águas do Rio Negro e igarapés. Pode-se dizer também revitalização urbana, uma vez que o intuito é de retornar à vida a orla fluvial central de Manaus, reviver a relação água-cidade perdida no tempo.
A cidade de Manaus e o encontro dos Rios Negro e Solimões
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