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secao 4!

Um ensaio sobre a cidade e um projeto de uma escola

Flavio Antonio Dugo Bragaia

Antonio Carlos Barossi

A idéia de escrever um ensaio sobre a cidade nasceu como uma forma de desenvolver um estudo sobre as questões que são colocadas diante dos alunos da graduação do curso de arquitetura e urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Eu estabeleci como objetivo criar um panorama teórico sobre as questões que se destacaram diante de mim como estudante, colocá-las uma do lado da outra e buscar as relações entre essas questões, e com isso construir uma postura diante da cidade a partir da qual os projetos de arquitetura podem se tornar parte de um esforço no sentido de construir uma cidade mais justa.

O quadro montado por Koolhaas sobre a cidade contemporânea descreve esta cidade a partir de seus arranha-céus. Antes do elevador, os pavimentos mais baixos de um edifício eram os mais valorizados. A introdução desse mecanismo representa a possibilidade de multiplicar infinitas vezes a área de um terreno, e cada pavimento de um edifício traz a possibilidade de construir um novo mundo, absolutamente separado de todos os outros e sem as falhas do mundo exterior, diferente, climatizado, privado. Com isso, a cidade se torna um conjunto de realidades autônomas justapostas, e um conjunto de lógicas independentes sobrepostas. Nesta cidade, o ato de se reunir como uma comunidade dá lugar à abdicação da identidade e à composição de massas disformes nos lugares a onde a população necessariamente está parcialmente reunida, cada indivíduo ignorando e sendo ignorado por todos os outros.

A cidade descrita por Robert Venturi e Denise Scott Brown é uma cidade na qual os principais elementos são a estrada e seus acessórios, que geram espaços para empreendimentos individuais, controlam o crescimento dos empreendimentos e acomodam “a ordem contrapontística e competitiva dos empreendimentos”, possivelmente o resultado da convergência entre a superioridade dos meios materiais e o prestígio da cultura. Em uma cidade como Las Vegas, o papel do Estado é fornecer a infraestrutura que os investidores precisam para instalar seus cassinos. Todos os espaços à margem das estradas são privados e controlados pelos interesses dos seus donos.

Esse trabalho também é um trabalho de projeto - é preciso investigar a forma no espaço de certas idéias. Um dos aspectos deste exercício é a vontade de desenhar um conjunto de edifícios que estabeleça relações com a cidade que vão além da analogia.

Por trás da construção da cidade que conhecemos existe a idéia de que um determinado espaço consegue ser autônomo em relação à cidade. Essa idéia é uma ilusão - a mão é distinta em relação ao braço, mas não é autônoma, ou seja, autonomia e distinção são coisas diferentes. A distinção é boa ou ruim – ruim se ela for a base da desigualdade de direitos. A idéia ilusória de autonomia é oposta à propria natureza da cidade, que é uma associação de indivíduos que em algum momento perceberam que o todo é maior que a soma das partes.

Ficha Técnica

A área de intervenção escohida para este exercício é composta por um terreno vazio, por um pedaço de um estacionamento e por um pequeno edifício que, segundo a população local, está ha dez anos sendo construído, mas o projeto aqui apresentado não inclui. No entorno estão a Cidade Universitária Armando Salles de Oliveira, a favela São Remo e a Avenida Corifeu de Azevedo Marques, ou seja, a área está no encontro de três situações urbanas distintas, e por isso parece o local ideal para a discussão de um projeto cujo objetivo é contestar a idéia de autonomia dos espaços.

O programa projetado está dividido em cinco blocos construídos. Na parte mais baixa do terreno estão os dois blocos que abrigam as atividades esportivas: em um bloco contém uma quadra coberta, um espaço para escalada e ginástica e uma quadra descoberta, em outro existem vestiários, salas para atividade física, uma piscina coberta e uma piscina descoberta. Na cota intermediária do terreno está o edifício de serviços, onde estão o restaurante, uma biblioteca, um espaço de exposições, uma midiateca e a administraçao do conjunto (que inclui diretores e coordenadores da escola propriamente dita). E na cota mais alta do terreno estão o edifício do teatro e o bloco didático, que abriga o equivalente a 36 salas de aula e nove estúdios, além de uma creche. As salas de aula oferecem a possibilidade de compartimentação e, mesmo quando nenhuma sala está fechada, ainda existem nichos nos quais grupos pequenos podem se reunir e desenvolver atividades. A sala de aula é “um ninho seguro”, um lugar para o qual “cada criança poderá trazer sua própria planta”, um lugar que ofereça condições de isolamente sem sacrificar a dimensão coletiva do espaço. O estúdio, por outro lado, que olha para a rua e para a cidade, é o local da escala coletiva. Nesses espaços podem acontecer experiências de biologia, aulas de arte, reuniões políticas, aulas com um quadro negro, podem ser simplesmente espaços de trabalho para diversos grupos pequenos, ou isso tudo pode acontecer ao mesmo tempo.

Os blocos estão no alinhamento do terreno configurando a rua e liberando o espaço interno da quadra. Essa praça interna é o local onde estão os principais acessos aos edifícios, é aonde acontece a transição entre a escala da cidade e a escala do edifício, e portanto é um espaço de passagem importante, mas também é um espaço de estar que oferece possibilidadesde apropriação em diversas escalas. É um conjunto de praças nas quais a principal atividade é o encontro.

Entre a cota mais alta e a mais baixa do terreno existe um desnível de quase 30 metros. Esse desnível sugeriu a compartimentação do programa e o desenho de diversas praças. Sugeriu também o desenho de uma estrutura que costurasse todo o terreno e que oferecesse uma maneira de vencer o desnível mais direta que a promenade oferecida pelo piso. Esta estrutura se tornou o anel de circulação que parte da cota mais alta, aonde ele é somente uma cobertura, se liga aos edifícios e, por torres de circulação, à pontos importantes do centro da quadra.

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