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secao 4!

Infraestrutura urbana:

uma investigação sobre pontes em São Paulo

Giselle Kristina Barbosa de Mendonça

Angelo Bucci

O trabalho estrutura-se em três partes: a primeira delas aborda o tema das infraestruturas urbanas de forma mais geral; a segunda parte tem como foco as pontes urbanas em São Paulo; e, por fim, a terceira parte é um projeto de intervenção no conjunto de pontes do Jaguaré. Busca-se explorar, assim, as duas facetas de atuação do arquiteto urbanista, teórica e prática; embora sejam formas alternativas de investigação, têm aqui um objetivo comum — o de contribuir com questões para o projeto das infraestruturas e, mais especificamente, das pontes em São Paulo.

1 Infraestrutura urbana

A partir do questionamento do paradigma da infraestrutura como um produto exclusivo da técnica e da engenharia, da constatação da ausência do profissional arquiteto-urbanista nesse processo e do reconhecimento de um forte potencial de transformação urbana no projeto das infraestruturas, propõe-se três caminhos para debater o tema.

Primeiro, propõe-se pensar as infraestruturas a partir de suas escalas diversas, do sistema ao objeto, reconhecendo a importância do projeto do objeto — ou seja, dos elementos físicos do sistema infraestrutural, onde se dá a interface do sistema com a população. A seguir, sugere-se um debate a partir da ideia de lugar: reconhece-se a possibilidade de subverter a ideia das infraestruturas como "não-lugar" a partir do incentivo, colocado no desenho, a uma apropriação ativa pelo coletivo e pelo indíviduo desses espaços. Por fim, aponta-se como caminho de reflexão o viés do programa: questionando a monofuncionalidade dos objetos infraestruturais, reflete-se a respeito de outros programas aos quais as infraestruturas poderiam dar suporte.

Resumidamente, a ideia principal é expandir o conceito de infraestrutura e o escopo do seu projeto, buscando reconhecer caminhos e raciocínios alternativos para qualificação do espaço urbano nas suas diversas escalas.

2 Pontes em São Paulo

O capítulo abre com uma perspectiva histórica das pontes em São Paulo — das construções primordiais do século XIX ao perigoso paradigma que se consolida com as construções recentes. Além desse panorama, são propostos três pontos de partida para pensar o projeto de uma ponte em São Paulo.

Em primeiro lugar, explicita-se a diferenciação entre os conceitos de ponte urbana e ponte rodoviarista. Em seguida, propõe-se pensar as pontes a partir de sua situação geográfica: evidencia-se duas situações geográficas típicas no território da metrópole de São Paulo que geram duas tipologias de pontes — o vale espraiado (dos rios principais da bacia, Tietê e Pinheiros) e o vale encaixado (dos afluentes). Fechando o capítulo, são conceituados três elementos que compõem o projeto de uma ponte: o tabuleiro, as cabeceiras e a sombra.

3 Uma ponte em São Paulo

O projeto se insere neste TFG como uma forma alternativa, além do debate teórico, de investigação a respeito das infraestruturas urbanas e, mais especificamente, das pontes em São Paulo. Objetiva-se provocar reflexões que se estendam a diversas outras pontes da cidade. Daí “uma” ponte em São Paulo — uma de várias.

Não se trata do projeto de uma nova ponte, mas sim de uma intervenção em estruturas existentes. Foi escolhido o conjunto de pontes do Jaguaré; a escolha se justifica em primeiro lugar pelos bairros do entorno, cujo uso industrial em obsolecência indica um grande potencial de transformação, e, em segundo lugar, pela existência de uma estrutura antiga, construída pela Light em 1938, atualmente abandonada e ladeada pelos viadutos da década de 1970.

O projeto se estrutura a partir de estratégias urbanas, de maior escala, e projetuais. Dentre as estratégias projetuais, destacam-se aquelas relacionadas ao tabuleiro, às cabeceiras, às sombras e, também, à estação da CPTM Villa Lobos-Jaguaré. Quanto ao tabuleiro, propõe-se a manutenção da estrutura essencial dos viadutos e o acréscimo de um elemento parasita de estrutura metálica com piso de madeira (passarela para pedestres e ciclovia); propõe-se também que, em dois trechos, estabeleça-se uma continuidade entre as passarelas de um viaduto e outro, resultando num amplo calçadão. Quanto às cabeceiras, propõe-se formas diversas de articulações verticais entre os níveis — sobretudo na cabeceira central, que articula o nível dos viadutos ao nível da ponte antiga e da praia fluvial proposta junto ao rio. No território das sombras, os espaços sob a ponte, sugere-se um grande cais delimitando um espaço público na margem do rio, uma pista de skate na margem do Jaguaré e pequenos programas acoplados à cabeceira do Villa-Lobos, como um café ou uma banca de jornal. Para reconfigurar a estação de trem da CPTM, propõe-se seu acesso por meio de um túnel (o inverso da ponte), que também funcionaria como articulação da praça pública à orla fluvial: ao invés de sobrepor-se, a proposta nesse caso é subpor-se aos obstáculos.

O alicerce deste trabalho está na formulação de uma arquitetura com potencial urbano e público — e as infraestruturas, como tema de projeto, são colocadas como um campo possível de ação, por meio do qual essa arquitetura poderia ser pensada e articulada. O desafio apresentado pelo projeto das infraestruturas remete a diversas escalas de atuação — do sistema metropolitano ao objeto local. Assim, a ideia principal, que está na base deste trabalho, é o entendimento das infraestruturas como hipóteses urbanas, a partir das quais seria possível, além de promover articulações metropolitanas, produzir espaços públicos qualificados na escala local. O trabalho se encerra sem propriamente um fim, configurando-se como uma abertura. A investigação apresentada se deu a partir da elaboração de questões, não de respostas, como um convite a um debate amplo sobre o tema das infraestruturas e pontes urbanas.

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