logofau
logocatfg
secao 4!

REPRESENTAçõES DA METRóPOLE:

UM ESTUDO SOBRE O PREçO DA TERRA

GUIDO D'ELIA OTERO

KLARA KAISER MORI

A leitura que se deseja realizar da metrópole pretende contribuir na associação das partes com o todo, na orientação, e fornecer subsídios para abordar a sua complexidade. Nesse sentido, este ensaio busca trabalhar a estrutura urbana da metrópole, caracterizar ela levantando alguns dados significativos na procura de uma linguagem coerente com esta caracteirzação. O mote deste trabalho é a elaboração de alguns mapas-síntese, na potencialidade que estes carregam de representar a relação entre o espaço e a sociedade que o ocupa.

Especificamente, o presente trabalho busca mapear o preço da terra da metrópole de São Paulo, e a partir deste mapeamento mapear a relação entre as ações estatais e as do mercado na organização do espaço metropolitano paulista, que é a forma como se dá a organização da produção na sociedade brasileira como um todo. O mapeamento do preço da terra se da através do levantamento de terrenos, lotes, na metrópole de São Paulo e por uma análise estatística dos valores de preços da terras obtidos a partir destas amostras.

As disparidades entre os preços da terra de diferentes porções do espaço podem nos dizer sobre o a atuação da especulação imobiliária, sobre o nível de homogeneização do espaço, sobre o nível de atendimento das infraestruturas e serviços, ou seja, servir como ferramenta para caracterizar a ocupação nesta metrópole.

A forte desigualdade na distribuição dos valores de preços da terra na metrópole de São Paulo nos revela uma regulação do espaço dominada, principalmente, pela ação anárquica do mercado. O preço da terra aparece assim, na metrópole de São Paulo, como ferramenta preponderante na regulação dos usos no solo urbano.

Os altos preços pagos nas regiões bem servidas da RMSP revelam uma escassez destes espaços qualificados no restante dela. Na medida em que espaços bem servidos de infraestrutura e serviços são raros na cidades o preço pago por eles tende a aumentar proporcionalmente à sua falta. Tais espaços são fundamentais para a efetivação das atividades necessárias para a produção e consumo de mercadorias, portanto, são a peça fundamental na organização do atual modo de produção. Na medida em que estes espaços são escassos, o desenvolvimento deste modo e das forças produtivas envolvidas nele se veem limitados diante de um processo entravado, marcado por crises e fortes desigualdades.

A escassez de espaços qualificados coloca em xeque as intenções das intervenções do Estado na cidade: na medida em que a oferta de espaços qualificados é escassa, qualquer intervenção pontual, em qualquer porção deste espaço, alavanca uma valorização dele por sobre as outras porções. A especulação, dessa forma, se realiza. É possível prever os locais de valorização na medida em que os espaços são qualificados pontualmente em detrimento da não qualificação dos outros. Por outro lado, uma ação abrangente na escala da metrópole poderia acarretar uma qualificação de espaços sem, contudo, elevar relativamente o preço deles. Somada a esta atuação fragmentada e parcial sobre o espaço, Deak acrescenta sobre a atuação do Estado e sobre estas operações especulativas:
"Os detalhes concretos das operações especulativas com terras são intrincados, devido a um sem-número de artifícios dos quais a atividade lança mão para fazer frente aos elevados riscos envolvidos nas previsões de evoluções futuras. Tampouco são os 'especuladores' meros especuladores, visto que frequentemente procuram, e conseguem, não apenas 'prever' senão também direcionar o 'futuro' por intermédio dos mais diversos meios e manipulações, inclusive ilegais e violentos -- motivo pelo qual foram sempre alvo de críticas generalizadas, e a atividade como um todo goza de má reputação -- e assim, a especulação acaba não apenas acompanhando como também moldando o processo de transformação do espaço." - DEAK, Csaba.1985

A gentrificação é resultado deste processo de valorização de locais em contraste com a manutenção de outros mal servidos. A gentrificação nos revela a natureza anárquica do processo de desenvolvimento da cidade pelo qual os usos que conseguem pagar por uma certa localidade melhor servida desbancam os usos mais frágeis para locais de preços menores. É assim que se efetiva a expulsão das camadas populares rumo às periferias distantes dos centros de empregos; tentativas tem acontecido na provisão de habitações nas regiões centrais porém a quantidade de favelas espalhadas no limite da mancha urbanizada e a quantidade de pessoas morando em locais mau servidos nos revelam um processo que requer uma atuação direcionada não apenas a esses centros mas para o espaço urbano como um todo. A desigualdade na distribuição dos valores da terra ajudam a qualificar as estratégias que tem norteado os projetos metropolitanos, estratégias que discursivamente procuram uma cidade compacta e densa e que na realidade só tendem a aumentar o abismo entre um "centro expandido" formal, qualificado e caro, e a região periférica informal, desqualificada e barata. Na medida em que os preços da terra são tão elevados nessa região em detrimento dos outros espaços torna-se difícil ali a efetivação de atividades que não consigam pagar por estas localidades; sendo o preço da terra um componente do preço das mercadorias a produção delas em locais valorizados torna-se cara.

Os mapas elaborados neste trabalho, assim como outros cruzamentos que poderiam ser realizados, são ferramentas para o planejamento da cidade. Apesar de algumas tentativas descontinuadas de estruturação nesta escala em geral vemos o abandono deste mote e o reforço de "intervenções estratégicas" concentradas como a forma de intervenção corrente efetivada pelo Estado. Este mapeamento, junto com outros, pode servir como ferramenta de projeto diante da eminente necessidade de reestruturação da metrópole de São Paulo.

slideshow image

If you can see this, then your browser cannot display the slideshow text.

 

topo