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secao 4!

Garagem de Barcos revisitada:

leitura e desenho

Guilherme Yudi Hayakawa

Antonio Carlos Barossi

O estado atual de abandono da Garagem de Barcos (1961) de Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi evidencia o descaso com a manutenção dos edifícios de valor arquitetônico, porém sua análise supera as questões técnicas e teóricas e se desenvolve na potencialidade de um novo programa arquitetônico.

A Escola de Práticas Náuticas busca desenvolver um contexto arquitetônico e programático que recupere a presença da Garagem de Barcos, inserido numa praça de equipamentos públicos com pavilhões em que se desenvolvem aulas de educação ambiental e a prática de esportes náuticos como vela e remo.

A metodologia básica de pesquisa e projeto parte da distinção entre produto e operação, ou seja, material e procedimento (ou em termos arquitetônicos, projeto e estratégia projetual). O método busca uma forma reflexiva de trabalho por meio de uma interpretação crítica-criativa das referências de projeto e do próprio percurso projetual desenvolvido.

Já a ferramenta dessa metodologia é o “ensaio de projeto”, definido como uma investigação livre a partir de um tema teórica com um desdobramento de desenho, ou seja, procura-se assim evitar divagações abstratas por meio do exercíco mais pragmático da arquitetura, o desenho e por consequência, o projeto.

A partir do reconhecimento da Represa Guarapiranga como um ponto estratégico para projetos de desenho urbano, que repercutem tanto da escala local quanto na metropolitana, definiu-se dois elementos estruturadores de projeto: a acessibilidade metropolitana e a macrodrenagem urbana.

Além dos acessos viários (Av. Robert Kennedy e Av. Interlagos) a região conta com linhas de trem da CPTM e uma ciclovia que corre na orla da represa por uma extensão de 12 km. Contudo o projeto reconhece a represa como uma grande potencialidade de deslocamentos humanos pela travessia de balsas, e não apenas como uma barreira física entre regiões vizinhas.

A análise da topografia e da hidrografia da região revela que o lago do Viveiro Jacques Costeau funciona como um anfiteatro de drenagem, captando as águas pluvias a montante. Dessa forma incorpora-se o córrego desde o viveiro até a escola com um redesenho da sua desembocadura articulada com pontões nas margens da represa.

São três ensaios básicos que definem o partido da escola. A leitura do Arsenal de Veneza como uma praça d’água, ou seja, a típica praça seca europeia qualificada através das fachadas do entorno. A única diferença do Arsenal é seu piso de água que muda constantemente de acordo com a maré.

O desdobramento no projeto repercute através do redesenho da topografia e a configuração de uma praça d’água nas margens da represa Guarapiranga, enquanto o nível oscilante da água é compreendido com uma condicionante de projeto, tal como a insolação e a ventilção. Dessa forma rampas laterais do conjunto desempenham o papel de diques que represam a água durante a época de estiagem.

O segundo ensaio de projeto busca no desnível entre a Av. Robert Kennedy e a represa guarapiranga uma questão de desenho do corte a ser desenvolvida. As principais referências são a própria garagem de barcos e alguns projetos de Paulo Mendes da Rocha, que busca articular o intervalo entre terra e água por meio de uma projeção do edifício sobre a lâmina d’água, como no projeto do Hotel em Poxoréu (1971) e na escola Jardim Calux (1972).

O corte do conjunto procura articular o nível de acesso à escola, dessa forma a primeira parte se define através da projeção da cobertura, depois a passarela que atravessa o anfiteatro da escola com pé-direito duplo e finalmente segue até as salas de aula voltadas para a represa, o anfiteatro é conformado através da escadaria (também arquibancada) e dos sucessivos lances de rampas até o nível de baixo onde se localizam as atividades práticas de carpintaria naval, oficina e museu.

Por fim o ensaio sobre a cobertura dos pavilhões da escola e da piscina explora várias referências da arquitetura paulista sobre o papel da sombra que unifica a construção como por exemplo a FAU (1961) e o Pavilhão de Osaka (1970). Outra referência são os pavilhões de Mies van der Rohe que buscam numa geometria precisa com alusões aos templos gregos, uma qualidade de atemporalidade e monumentalidade também em virtude da escala e dos materiais empregados.

No TFG a cobertura é entendida como uma máquina de conforto ambiental, sobretudo a luz e ventilação no pavilhão da escola, sendo assim a melhor referência está na Fábrica Olivetti (1959) de Marco Zanuso. Onde a cobertura formada de módulos triangulares defasados para cima e para baixo cria uma iluminação difusa e ventilção cruzada por diferença de pressão.

O módulo adotado é o quadrado divido na diagonal e seu corte funciona como um shed que resquarda da luz direta mais próxima do meio-dia e rebate a luz mais rasante dos outros horários, já a caixa do shed fechado por fiberglass desempenha a função de um colchão de ar adequado ao conforto térmico dentro da escola.

Outra questão pertinente do percurso do projeto foi qualificar todos os espaços de circulação como circulação e convívio, dentro de uma lógica mais humana em relação aos usuários da escola, ou seja, os futuros estudantes. Sendo assim a referência de Richard Neutra consolida uma arquitetura mais moldada no cotidiano pedagógico, no conforto e da flexibilidade das instalações.

As hipóteses finais do TFG se desenvolvem em dois vetores: o projeto como processo dialético de problema-partido-projeto, ou seja, a manipulação do problema através do procedimento triplo de contextualizar, interpretar e explorar; e o projeto como exercício metalinguistico, por meio da metodologia de separar projeto e estratégia projetual, e também da intenção crítica-criativa durante o todo o percurso.

Ficha técnica

Nome: Escola de Práticas Náuticas
Local: Orla da represa Guarapiranga
Área construída: 36.868m²

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