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secao 4!

O Delta Artificial na Zona Leste

Gustavo Vescovi Meirelles

Alexandre Delijaicov

Este trabalho procura estudar e desenvolver uma proposta de intervenção urbanística para a região do Tietê Leste e seus afluentes, entre os distritos de Ermelino Matarazzo e Jardim Helena, no contexto da implantação do Hidroanel Metropolitano. O trabalho estuda a questão dos corpos d’água no meio urbano, procurando desenvolver uma forma de recuperar os valores ambientais e paisagísticos do rio Tietê e seus afluentes, além de viabilizar novos usos na área de logística e transporte, procurando tambem tratar a questão das favelas e habitações precárias e irregulares, comuns no entorno dos corpos d’água da região. Analizando dados do IBGE, da prefeitura do município de São Paulo e do próprio projeto do Hidroanel Metropolitano, aspéctos sócio-economicos, geomorfológicos e urbanísticos são abordados de forma a desenvolver um plano de diretrizes a serem aplicadas em intervenções urbanísticas na região.

A partir deste ponto, um recorte é feito para a realização de uma proposta mais aprofundada. A região escolhida foi um trecho dodistrito Jardim Helena, uma área de 539 hectares, entre a Linha 12 da CPTM e o rio Tietê. Esta região apresenta uma geografia quase que completamente plana, com frequentes alagamentos que assolam a população local. Com poucas atividades econômicas, o principal uso da área é o uso residencial. Nas áreas mais próximas do rio Tietê se encontram diversas favelas, bairros inteiros de submoradia, ocupando áreas que deveriam estar desocupadas por estarem próximas ao rio. Estas favelas são as áreas mais prejudicadas pelas frequentes enchentes. Na foz do Rio Itaquera, há uma fábrica de níquel, oferecendo um potencial risco de contaminação das águas e do solo, e consequentemente oferecendo risco à saúde da população local.

Com a implantação do Hidroanel Metropolitano, o projeto de intervenção procura se aproveitar da grande reestruturação urbana e propõe o uso da água e da geografia como elementos principais da estruturação da cidade, questionando a lógica atual de produção e organização da área urbana, com foco especial na questão da habitação de interesse social.

Na área de intervenção são propostos canais de derivação por todo o terraço fluvial, procurando escoar a água que frequentemente se acumula na região plana do Jardim Helena e criando um delta articial. Estes canais seriam margeados por calçadões arborizados livres para circulação de pedestres. Na área são propostos ainda edifícios de 4 pavimentos, com uso residencial nos pavimentos superiores, e com térreo alternando entre usos comerciais e residenciais. Alguns pontos de interesse são detalhados com maior atenção para ilustrar as possibilidades de configuração do espaço e das atividades urbanas possibilitadas pelos canais de derivação cruzando a malha urbana.

Para a implantação deste projeto, são analisadas deapropriações para ajustes no sistema viário e a conquista do espaço público por onde correriam os canais. O projeto contabiliza as desapropriações e se preocupa em não remover as pessoas do bairro, para que elas não sejam removidas para áreas mais distantes dos centros de produção economica da metrópole ou com piores condições. As desapropriações e os novos edifícios resultam em uma situação com maior densidade demográfica e com mais área livre pública, com passeios, praças e equipamentos públicos de educação, saúde e lazer.

Para a implantação dos canais de derivação, que tomam o lugar de algumas das ruas do bairro, é necessário uma reorganização do sistema viário, que é proposta na forma de novas ruas e pelo traçado de algumas linhas de ônibus, pensando sempre na estação de trem Jardim Helena/Vila Mara como principal elemento de ligação da área de projeto com a metrópole e tendo como princípio a valorização dos passeios públicos dedicados a pedestres e o transporte público em detrimento do uso de automóveis particulares.

O projeto ainda propõe algumas alterações no projeto do hidroanel metropolitano e do parque linear que o margeia. São propostos equipamentos públicos de maior porte dispostos no parque linear e se relacionando com os caminhos sugeridos pelos canais. São propostos um mercado público ligado a um porto de destinação de hortifrut; Um centro cultural com espaços de esposição, auditorio, telecentro, salas de oficina; Um CEU, com salas de aula, biblioteca, piscinas e ginásio esportivo; Um centro esportivo, com quadras poliesportiva, pista de atletismo, campos de futebol com arquibanda; Um conjunto com salas de teatro e de cinema, para apresentações de filmes e companias de teatro, ligado a um centro comercial com bares e restaurantes; Um porto ligado às atividades logísticas do Hidroanel, e com uma marina para uso da população, servindo como base para atividades de lazer ligadas à água. Todas estas equipamentos se dispõe ao longo do parque linear às amargens do hidroanel, sendo ligadas por ciclovias e passeios públicos arborizados e com vista para os lago-canais navegáveis.

Ao final do trabalho, foi possivel observar a complexidade da questão das desapropriações, sua importancia na abertura de espaços públicos em tecidos urbanos consolidados, em contraste com o seu caráter desestruturador da vitalidade de um bairro consolidado. Observando o resultado final da proposta do delta artificial, é possivel questionar os critérios das desapropriações e a própria caracterização dos canais de derivação, procurando preservar ass características do bairro e os elementos da memória afetiva da população local. No entanto, o projeto se mantem como uma possibilidade para a cidade pensada a partir da água como elemento central da vida urbana, ao contrario da postura de relegar à água o papel de depósito de detritos e reduto dos marginalizados, postura esta adotada atualmente tanto pela sociedade quanto pelo poder público.

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