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secao 4!

Arquitetura como processo aberto baseado no uso de tecnologias digitais

Ivan Custódio dos Santos Souto

Artur Rozestraten

Entende-se por processo aberto, nessa pesquisa, aquele que permite:
1. Descentralizar ao máximo as tomadas de decisão, na busca por um projeto democrático e uma estética aberta, sem vínculos com estilos ou referências que não sejam as propostas pelos participantes do processo.
2. Promover o acesso livre a qualquer informação inserida no processo a todos os envolvidos.
3. Incentivar a produção colaborativa, incorporando ideias surgidas individualmente e coletivamente.

Essas diretrizes foram inspiradas na ética hacker identificada por Levy (1994), e serviram de base para a escolha e definição dos procedimentos utilizados, assim como a arquitetura participativa desenvolvida nos anos 60 na Europa, por arquitetos como Lucien Kroll e John Habraken.

A abertura do processo visa torná-lo um fator de desenvolvimento para a comunidade envolvida. Primeiro com o contato entre os usuários e todo o conhecimento aplicado, que lhes abriria novos caminhos para um aprofundamento no aprendizado acerca da organização da cidade e do seu próprio modo de vida, e depois com o fortalecimento do senso de comunidade e de participação política e social que esse tipo de processo evidencia.

Com o objetivo de explorar o potencial da modelagem generativa de maneira participativa, de baixo pra cima, buscou-se conduzir um processo de definição de diretrizes para a ocupação de um espaço. O processo é descrito a seguir.

O primeiro passo da pesquisa foi escolher um lugar da cidade. Os critérios utilizados levaram em conta a complexidade da dinâmica social e a diversidade de tipos de atores envolvidos com aquele espaço. O local escolhido foi um terreno de 40.000m² onde funciona um estacionamento na Zona Norte de São Paulo, próximo ao Terminal Rodoviário Tietê. Além da proximidade com o Terminal, esse terreno tem como limites a via marginal do Rio Tietê e outras avenidas importantes, e tem em sua proximidade uma estação de Metrô e uma universidade. Essa região é caracterizada pela grande área ocupada por estacionamentos, logo há uma dinâmica social e um potencial de vida urbana que não são abrigados pela configuração do espaço.

O público alvo das pesquisas e conversas iniciais foi formado por pessoas interessadas em habitar a região, usuários da rodoviária e estudantes da universidade. Assim foi possível obter uma amostra da diversidade de opiniões em relação à dinâmica social do bairro e às possibilidades de intervenção.

Desde o início as informações foram coletadas de modo a formar um banco de dados passível de ser utilizado na geração de uma geometria para a ocupação do espaço. Por exemplo, relacionando o item do programa referente à habitação com a via marginal nas perguntas direcionadas aos usuários foi possível ver o desejo de proximidade ou de distância desses dois itens, e quantificá-lo em relação aos limites possíveis. Foi feito o mesmo para todos os pontos de interesse no entorno do terreno e ítens do programa.

Esses parâmetros e as regras de formação da geometria foram passados para o Grasshopper, plug-in de modelagem generativa para o software Rhinoceros, que funciona como um ambiente de programação visual, permitindo combinar parâmetros e código através de uma interface gráfica. Conectores em formato de pilhas representam as funções, onde à esquerda são conectados os dados de entrada e da direita saem os resultados.

Nesse caso, através dos dados obtidos das conversas com os possíveis usuários, foram inseridos parâmetros representando as distâncias desejadas entre cada item do programa (habitação, serviços, área livre) e cada aresta do polígono que representa o terreno, representadas por alguma característica marcante. Assim, foram delimitadas áreas dentro desse espaço passíveis de serem ocupadas por cada item. Também foram delimitadas as intersecções entre essas áreas, como áreas separadas.

Para a ocupação de cada área, foram colocados parâmetros para a geração de uma volumetria, baseada em uma tipologia de lâmina, onde o conjunto de blocos foi definido com base na largura e altura de cada edifício, na distância entre eles e na rotação em torno do eixo z.

Todos os parâmetros estão vinculados num diagrama, de modo que a alteração de qualquer um deles altera todo o modelo. Assim, ao passo que a volumetria obtida é avaliada pelos usuários alguns parâmetros podem ser mudados e uma nova geometria é obtida rapidamente, podendo ser submetida a novo teste. São alternadas etapas de coleta de dados e opiniões e etapas de avaliação do resultado obtido por parte por parte dos participantes. Quando uma referência é sugerida pelos usuários, ela pode ser inserida na etapa seguinte de coleta de dados.

O sistema mostrou algumas utilidades da modelagem generativa para a maior participação do usuário nas etapas iniciais de projeto. O modelo volumétrico obtido, que reflete as opiniões coletadas em campo, pode ser mudado rapidamente de acordo com a avaliação do usuário, tornando mais ágil o processo de participação. Essa mudança pode ocorrer com a variação dos parâmetros iniciais ou com uma revisão das regras que dão origem ao modelo.

Além disso, deve ser levado em consideração que esse tipo de método pode ser usado também em apenas uma parte do processo de projeto, para a definição de algum aspecto, complementando métodos de criação de maior domínio por parte dos projetistas. Também podem ser incluídos parâmetros restritivos, incluindo relações com a legislação vigente e o desempenho do edifício. É possível limitar, por exemplo, o parâmetro relacionado à rotação do edifício em função da insolação. Outra possibilidade é basear os dados que alimentam o modelo em fontes de informação distintas, como medições de aspectos relacionados ao conforto ambiental ou ao fluxo de pedestres e carros nos espaços adjacentes.

O modelo obtido com o uso desse tipo de sistema pode também servir, quando é utilizada qualquer outra metodologia de projeto, para informar o arquiteto com relação a alguns aspectos importantes da demanda do usuário.

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