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secao 4!

PAISAGENS IMAGINáRIAS

O processo criativo: linguagens de representação do espaço

Julia Lopez da Mota

Giorgio Giorgi Jr.

O presente TFG nasceu de certas inquietações que foram sendo levantadas durante meus seis anos de formação na FAU. Durante esse tempo, desenvolvi trabalhos paralelos à faculdade no campo das artes visuais, que me levaram a levantar questionamentos em torno do tema do processo criativo. Dentre tais questões, as principais foram: o que é e como se dá o processo criativo; o que leva alguém a se expressar e a escolher determinada linguagem para tal; como a linguagem escolhida determina, condiciona e modifica o processo e o produto final expressivo; e por fim, como representar o mundo, o espaço?

Estão portanto na base deste TFG a vontade de representar e, simultaneamente, apreender e entender o espaço, e a tentativa de aprimorar minha sensibilidade visual.

O trabalho foi composto por duas partes: uma pesquisa visual, que visava a representação e recriação de espaços percebidos por mim em minha vivência cotidiana, criando paisagens imaginárias. Para isso, utilizei linguagens plásticas e visuais que se dispunham essencialmente no plano bidimensional, como a pintura, a gravura e a fotografia. Esta pesquisa visual foi apresentada em exposição no Caracol do FAU. Outra parte foi uma pesquisa teórica, que é um diálogo simultâneo ao processo de feitura da etapa prática. É o desenvolvimento verbal de questões que iam sendo formuladas durante o fazer no trabalho visual. Essa etapa tinha a intenção, mais do que definir ou delimitar conclusões, de gerar e propor questões para discussões em torno do tema do processo criativo.

Dentre as questões que foram surgindo com o fazer prático, podemos citar discussões em torno do processo criativo - como e porquê ele se dá -, além de indagações a respeito de o que é a comunicação humana; quais são as linguagens com que o homem pode se expressar, diferenciações fundamentais entre as linguagens verbais e as não-verbais; questões em torno do próprio fazer, ou seja, do materializar e dar forma a algo novo, trabalhando com a matéria; e questões em torno de o que é o espaço, como o indivíduo se relaciona com ele, e como pode se dar a sua representação.

O parte prática deste TFG, que chamei de Paisagens Imaginárias, é uma série de experimentações gráficas. Este trabalho prático surgiu de uma tentativa de compreender os espaços vividos cotidianamente por mim, constituindo uma pesquisa visual. Essas imagens evocam situações em lugares vividos em meu cotidiano pela cidade, e das paisagens vistas a partir de minha própria casa. Parte de uma relação sensível com a paisagem urbana. São interpretações desses mesmos lugares, observados, sonhados, imaginados e representados, ou seja, recriados.

A vivência em São Paulo permite uma apreensão clara entre os limites do externo e do interno: o limite do público e privado; do inseguro e seguro; da rua e a casa. Eu parti exatamente da comparação entre situações espaciais, procurando ressaltar a dialética interior x exterior, ou seja, do desconhecido e conhecido; do eu e o outro. Neste trabalho, a janela estabelece a noção de limite, porque é o ponto de partida de tais observações: a janela do quarto, do ônibus, do carro, do espaço fechado. Deve-se salientar a natureza de registro desse trabalho - de uma visão individual inserida em um contexto e momento cultural.

Dentre as hipóteses levantadas neste trabalho, cheguei em algumas conclusões em torno do tema do processo criativo. Em uma prática em que a criatividade fosse o próprio potencial sensível do homem ligado a uma atividade socialmente significativa para ele, qualquer atividade humana seria um criar. Dessa forma, seria possível que se realizassem conteúdos mais humanos em nossas rotinas, em nossas vidas, enriquecendo nossa experiência de vida de forma significativa.

Através desse trabalho, notei a importância de se incentivar um ensino criativo, onde haja o desenvolvimento da personalidade criativa do aluno. Criando, o aluno assimila conteúdos de uma maneira muito mais profunda e significativa. O ensino na arquitetura, infelizmente, parece se limitar à transmissão de um repertório de elementos visuais pré-estabelecidos, que são assimilados de forma pouco criativa. Dessa forma, acredito que deveríamos ir mais a fundo na tentativa de se trabalhar a capacidade visual criativa do aluno, desenvolvendo sua sensibilidade visual e espacial, baseado em uma experimentação criativa. A constante prática e o desenvolvimento da percepção visual deveriam, portanto, ser elementos fundamentais no ensino da arquitetura.

Com esse trabalho, espero ter conseguido transmitir essa minha interpretação da paisagem urbana, e contribuir na discussão em torno do processo criativo. Aqui, a produção visual é a constatação em si do percurso de um processo de elaboração mental. E como já disse a artista e educadora Fayga Ostrower, "o processo criativo enriquece espiritualmente tanto o indivíduo que cria, como também o indivíduo que recebe a criação e a recria para si" [Ostrower, 1978].

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