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secao 4!

Habitação Para Toda A Vida -

O Projeto Habitacional a Partir do Desenho Universal

Lenita Franco de Sena

Helena Aparecida Ayoub Silva

Na hora de se projetar uma habitação uma questão-chave é o dimensionamento dos espaços para abrigar as atividades e mobiliários necessários no dia-a-dia do usuário. Na maioria dos casos, quando o projeto não é realizado para um cliente específico e tem-se um programa de necessidades genérico, o dimensionamento é feito para o “indivíduo-padrão”, uma abstração matemática que estipula valores e medidas quantitativas, referentes a um o usuário adulto, do sexo masculino, de estatura mediana e saudável - algo como o “Homem Vitruviano” de Leonardo Da Vinci.

Porém, ao projetar para este homem-padrão os projetistas acabam por excluir os usuários mais “críticos”, aqueles que apresentam exigências físicas, mentais e/ou psicológicas determinantes para que consigam ou não realizar uma atividade - idosos, pessoas com deficiência, obesos, grávidas, crianças, enfermos, entre tantos outros. Quanto mais o usuário se diferencia do indivíduo-padrão, mais difícil é sua adaptação ao ambiente projetado, muitas vezes tornando impossível a realização de algumas atividades básicas sem ajuda de terceiros.

Todo indivíduo – independente da idade, condição física, mental e psicológica – mantém necessidades básicas para sobreviver e precisa de um ambiente que possa atendê-las. Ao longo da vida, todos passamos por diferentes fases, muitas vezes agravadas por doenças, influências ambientais, ou pelo próprio passar dos anos. Além disso, também podemos sofrer alterações físicas circunstanciais – causadas por acidentes, lesões, gestações – criando novas limitações a serem consideradas. Se o ambiente estiver preparado para receber - ou pelo menos se adaptar - as necessidades do usuário, este não precisará incluir em suas preocupações a procura e o deslocamento para novos locais onde elas sejam atendidas.

É dentro deste contexto que o Desenho Universal aparece e se mostra tão importante. Com uma população em crescimento e vivendo por mais tempo, faz-se necessário projetar pensando não apenas nas necessidades imediatas do usuário, mas nas futuras e, eventualmente, nas provisórias, ampliando sua satisfação por mais tempo e permitindo que ele não tenha que ficar continuamente procurando por um produto ao qual ele se adapte: é o produto que irá se adaptar a ele.

Os conceitos do Desenho Universal podem ser aplicados a qualquer instância da vida de um indivíduo, desde produtos simples até projetos arquitetônicos, públicos ou privados. Ele busca não equiparar os indivíduos “deficientes”, mas levar em conta as diferenças entre as pessoas e encontrar a melhor resposta que atenda ao maior número de usuários. No caso da habitação, sua aplicação permite que o usuário - se assim desejar - possa passar sua vida inteira segura e confortavelmente em um mesmo domicílio, promovendo pequenas adequações - como, por exemplo, instalar barras de apoio nos banheiros e trocar mobiliários sem que a circulação seja prejudicada - para que suas necessidades sejam atendidas.

Desenvolver um projetar de habitação segundo o Desenho Universal é colocar os interesses e necessidades do indivíduo acima de interesses econômicos e políticos, assegurando moradia de qualidade para o usuário e garantindo sua satisfação por um período maior de sua vida. Esta habitação estará preparada para abrigar qualquer família por toda a vida, sempre garantindo segurança e autonomia na realização das atividades para todos os integrantes, independente da idade, condição física, mental ou psicológica.

Mais do que “resolver a questão habitacional brasileira”, a proposta deste trabalho é assimilar os conceitos do Desenho Universal e aplicá-los a um projeto da habitação, de forma a gerar ambientes na sua condição ideal e universal de habitabilidade - por mais que sua realização seja inviabilizada pela realidade econômico-financeira atual do país. O que se pretende é apenas compreender espacialmente o Desenho Universal e a forma como tornar o projeto adaptável a qualquer usuário, os elementos e características necessários para garantir o bem estar de qualquer indivíduo a qualquer momento de sua vida.

Primeiramente, a partir da bibliografia sobre o tema foi criada uma lista detalhada de diretrizes para projetos habitacionais segundo o Desenho Universal, unindo referências nacionais e internacionais Estas diretrizes foram posteriormente traduzidas em desenho em estudos dimensionais detalhados dos ambientes que podem compor uma unidade habitacional: dormitórios, salas, cozinha, banheiro e áreas de serviço, todos colocados em comparação com os respectivos ambientes na forma como são inseridos na Habitação de Interesse Social.

Para finalizar o trabalho, os estudos e diretrizes foram colocados à prova em um projeto completo. Escolhido um terreno de 15.000m² na Avenida Brás Leme, no bairro da Casa Verde, na Zona Norte de São Paulo, projetou-se um condomínio habitacional combinando um edifício multifamiliar vertical e unidades unifamiliares térreas. Com base em “L” e duas torres verticalizadas, o edifício é composto por 102 unidades distribuídas em 13 pavimentos. Somadas com as 18 unidades horizontais, tem-se um total de 120 unidades, com variações nas tipologias para abrigar de 2 até 5 pessoas.

Por mais que grande parte das escolhas feitas no projeto final – materiais, dimensões, organizações – sejam ideais e atendam a uma grande gama de usuários, reconhece-se a inviabilidade do projeto, principalmente financeira. Entretanto, mais do que uma proposta real de projeto universal, pretendeu-se realizar um levantamento de diretrizes e métodos para produção de habitações universais, com um eventual ensaio ao final para exemplificá-las de forma prática. Longe de estar completo e ser uma solução definitiva, este trabalho é mais uma base para outros trabalhos no tema do Desenho Universal, uma iniciação no assunto. Ainda há muito que se trabalhar para se chegar a uma resposta satisfatória não só no contexto ideal mas no real e acessível à toda a população.

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