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secao 4!

Unidade de internação da Fundação CASA no Pátio do Pari

Lucian De Paula Bernardi

Fábio Mariz Gonçalves

Projeto de uma Unidade de internação da Fundação CASA, implementado no no Pátio do Pari. O projeto avalia propostas de interação entre o espaço público da praça em volta e o espaço recluso da unidade, e como essa interação pode mudar a relação entre a cidade e a Fundação e como isso se reflete no processo de reeducação dos adolescentes.

O exercício da arquitetura nos é ensinado como - dentre muitas outras explicações - a modelagem do espaço para tornar agradável a relação entre pessoa e ambiente. O tema da instituição penal é especialmente desafiador por ter que conciliar sentimentos antagônicos: como fazer com que pessoas confinadas a um ambiente o apreciem e ao mesmo tempo que este ambiente cumpra todas as suas funções de opressão? Não apenas isso, mas se o ambiente está imposto 24 horas por dia, 365 dias por ano, as exigências de arquitetura são muito mais rigorosas: não há margem para má arquitetura pois não há possibilidade de fuga do erro, ao contrário de uma situação cotidiana de uma pessoa em liberdade, que pode mudar de ambiente, se deslocar, alterar o espaço e de infinitas formas corrigir o que lhe incomoda. A má arquitetura, neste caso, é tanto um perigo para a segurança, quanto um golpe à salubridade com o qual o interno será obrigado a conviver, possivelmente por anos, sem poder fazer nada a respeito.

O indivíduo interno é outro desafio. As dificuldades de se projetar um espaço exótico para o público geral já são muitas, mas se multiplicam quando se encontram com as particularidades de se projetar para o adolescente, que passa por uma das fases mais importantes da vida para moldar sua personalidade e caráter, que está em processo de educação, e que além de tudo se encontra afastado de todo seu círculo social e de sua estrutura familiar de apoio. Diferente de um local onde um preso adulto iria viver, a casa de internação é um local onde o jovem vai crescer e se desenvolver, vai se formar enquanto pessoa para um dia retornar à sociedade, espera-se, como membro produtivo e reformado.

A opção pela pesquisa de uma unidade da Fundação CASA (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente), que apresenta obstáculos em diversos níveis, é portanto um assunto tão interessante quanto desafiador. A CASA é uma oportunidade de estudo realmente única, pois permite combinar em projeto o conhecimento teórico de arquitetura reunido no curso de graduação da FAU com ideologias e posturas em relação à direitos humanos, dignidade, e tratamento de quem é considerado a escória do Brasil, como não seria possível em outro tema de estudo.

A meta principal do trabalho é reconhecer o propósito de ressocialização e punição da instituição penal, e utilizar da arquitetura e do espaço para elaborar um projeto hipotético que facilite o cumprimento desses objetivos, da maneira como prevista em lei. Criar uma unidade que tenha relação com a cidade, que não seja inóspita, e tratar seu entorno, por meio da implantação de equipamentos e do paisagismo, para que se torne agradável à população, transformando a visão da CASA de uma jaula segurando delinquentes para um elemento educacional e cultural, parte da cidade.

Nenhuma grade. Quase 9000 m² construídos sem uma única grade na Fundação CASA. A unidade de internação não é uma prisão, e o projeto pode refletir isso. Evidente que existem barreiras físicas, existe a restrição de liberdade, existe uma rotina imposta, mas o conceito da CASA é outro. Os motivos que trazem um jovem à internação são tristes e variados, mas a Fundação se encarrega de dar condições para que haja reparação e outra chance na vida. O projeto precisa refletir essa mudança de ideologia e precisa colaborar. O jeito mais fácil de colaborar é expondo a unidade (toda a interação com a praça do Pari é em virtude disso) para gerar curiosidade e divulgar um tema que é profundamente desconhecido pelo público geral. Quase todo o preconceito existente vem dessa ignorância sobre o assunto e é algo que limita a expansão e dificulta a própria existência da Fundação e suas idéias. Mas expor a Fundação é uma colaboração indireta. Colaboração direta é a que temos quando elementos específicos do projeto se relacionam com a proposta da Fundação.

Do projeto, busquei primeiramente tornar o ambiente algo verdadeiramente agradável, e boa parte dos conceitos vieram de projetos de escolas. Um ambiente amigável facilita o aprendizado e torna os adolescentes mais dispostos. Mais dispostos para tudo, para prestar atenção na matéria, para se relacionarem entre sí, para cobrar de sí mesmo um entendimento, para formar uma relação com os monitores, para executar corretamente uma tarefa, etc. e isso se refletirá nos resultados obtidos fora da Fundação. A utilização de elementos “diferentes” serve para surpreender e gerar curiosidade. Uma porta pivotante não é uma tecnologia nova, mas é suficientemente incomum para atiçar o interesse. Uma série de portas, quando aberta, vira uma parede inteira que se desconstrói e ilumina o ambiente. Um dormitório que é suspenso no ar por cima de outro edifício gera espanto, e esse espanto aumenta ao perceber que o seu quarto é semi-enterrado e novamente porque a cama fica acima da linha da janela, etc. O interesse traz melhores resultados. Junto disso, a não-hostilidade: não ter grades nas janelas, não se deparar com um muro e poder ter contato com a grama e o sol são fatores psicologicamente importantes. Ao invés de grades e o famoso “sol quadrado”, ter a chance de comer uma refeição com uma incrível vista do centro da cidade. Todos estes pontos benéficos são importantes porque o que se provou mais eficiente no processo de ressocialização foi o tratamento humanizado. E ainda que se tente chegar num bom nível de conforto jamais há de se causar inveja no observador atento, pois independente dos equipamentos, das atividades, da alimentação ou da vista, todas as pessoas que ali moram foram sentenciadas, estão ali contra seu desejo, e mesmo que por ventura aproveitem o lugar, todo o tempo passado é com uma enorme restrição de liberdade, da possibilidade de ir e vir. Certamente não é um bom mirante que faz valer a pena essa perda de liberdade, mas um bom projeto colabora com os esforços para que essa liberdade nunca mais seja perdida.

ficha técnica

Unidade de Internação
Capacidade: 53 internos / 17 internos
Pátio do Pari, um terreno com 69.000m².
Superfície ocupada de 9.200m²
Área construída 8.700m²

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