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secao 4!

Projeto Três Gargantas:

Cidade e Território na China

Mariana Strassacapa Silvério

Alexandre Delijaicov

Este Trabalho Final de Graduação é uma monografia cujo título já evidencia sua estrutura: 'Projeto Três Gargantas: Cidade e Território na China'. Aqui, basicamente, venho estudar o Projeto Três Gargantas para falar de cidade e território na China. Resta especificar o que é cada um desses elementos, e o que significaram no trabalho.

Três Gargantas é um trecho do maior rio da China e terceiro maior rio do mundo, o Yangtze. Trata-se de uma sucessão de três grandes gargantas, onde o rio estreita e as montanhas das margens são altas e abruptas. O Projeto Três Gargantas se refere à barragem, usina hidrelétrica e reservatório que foram construídos nesse trecho cênico do rio. O Projeto Três Gargantas é o maior do mundo, ou seja, é a maior barragem, a maior usina e o maior e mais volumoso reservatório de água, construído durante as duas últimas décadas, e hoje praticamente inteiro finalizado. Há imagens e reportagens sobre esse Projeto em referências inúmeras da mídia convencional e, à primeira vista, podemos perceber que é tido como um exagero equivocado e mau (mais um) da 'nova China'. Também por conta dessa sua imagem consolidada e rasa é que se desejou que fosse mais investigado; no final das contas, ele apresenta uma vocação especial em abrir portas para o aprofundamento dos mais diversos assuntos. Neste trabalho, ele foi base para falarmos de cidade e território: a 'cidade' do título corresponde às questões urbanas em geral, como um tema emblemático para a China, cheio de discussões próprias, que aqui permeiam o processo que estabeleceram as cidades chinesas, o que significaram e significam para o país, configurações de seus edifícios etc; o ÒterritórioÓ, por sua vez, é a princípio essa concepção mais geral da relação estreita entre o homem e a natureza transformada, considerando certos limites políticos. Mais detalhadamente, ele foi tido aqui como as várias camadas no espaço de geologia e geografia física, de história social e de projeto, ou seja, de ações humanas de intervenção no espaço com determinados fins e recursos. Não é porque 'cidade' e 'território' são duas palavras distintas no título que implicam que seus significados não possam se encontrar; a cidade não está de forma alguma oposta à noção de território, podendo ela mesmo ser um. Mas neste trabalho a 'cidade' se refere à questão urbana da China, como uma discussão digamos mais especializada do que a do território.

Como falar de temas tão amplos e múltiplos a partir do estudo do Projeto Três Gargantas? O trabalho foi dividido em cinco capítulos, correspondentes a cinco ações: Controlar, Liderar, Reconstruir, Migrar e Transformar. Essas ações são como diferentes pontos de vista que utilizo para olhar para o Projeto Três Gargantas, mas também para o universo mais amplo da cidade e do território na China, onde o Projeto é então inserido; elas chamam sujeitos, objetos, motivos e objetivos, consequências e resultados, interesses. Observando com cuidado cada uma dessas ações historicamente, podemos então entender como acontecem no Projeto Três Gargantas, e em outras intervenções decisivas no espaço na China como um todo.

Tal interesse por aprofundar esses variados assuntos sobre a China parte, claro, de uma curiosidade pessoal que deu o impulso de início, e também do conteúdo e das referências que vim a encontrar sobre a arquitetura, o território, as cidades, as intervenções e construções recentes da China. Primeiro, são escassas; em português se restringem a notícias e matérias de jornais. Segundo, têm qualidade e aprofundamento bastante limitados. ƒ verdade que os jornais vêm diariamente munidos de novidades da China, principalmente por conta da proeminência econômica que ela vem apresentando atualmente, nos oferecendo uma enorme quantidade de imagens, dados e fatos. Mas apesar desse aparente incontável de informações, notícias, símbolos que chegam a nós cotidianamente, e há uns 15 anos cada vez de forma mais intensa, apenas uma ilusória sensação de familiaridade com a China se constitui em cada um. Uma provável razão é a pobreza científica dessas referências, que se aproximam mais de pré-conceitos do que de conhecimento produzido; a mais antiga civilização contínua, ocupante de um dos maiores territórios nacionais do mundo e com a maior população, ainda é 'exótica'. Ficamos predominantemente com uma China muito fragmentada, em que as mais diversas camadas de espaço, de tempo, se apresentam confusas e embaralhadas; de forma geral, olha-se para uma suposta realidade, esquecendo o quão grande é o país, sua diversidade e história milenar, buscando ansiosamente conclusões e verdades que interessam primordialmente à história da arquitetura e urbanismo ocidental. Distancia-se da complexidade, e da necessidade de identificar as especificidades, de entender de maneira mais profunda.

Este trabalho parte então da busca de uma leitura mais penetrante, unificada e menos ofuscada desses processos complexos pelos quais a China passou e passa, encontrando por meio do estudo do Projeto Três Gargantas uma possibilidade de alcançar essa dimensão mais ampla que é, ao meu ver, urgente. Assim, aqui, a preocupação central foi levantar discussões, que convidem a sair do trabalho constantemente, muito mais do que chegar a conclusões que o fechem em si; a própria história milenar chinesa e a realidade atual nos lembram o quão problemático é chegar a afirmações definitivas sobre esse país, e mesmo todo este trabalho está sujeito a oposições, contestações, rebatimentos e diversidade. Espero aqui despertar interesse pelos diversos assuntos que percorro, lançando constantemente para fora do trabalho, contando algumas histórias, mostrando um pouco mais do que aconteceu e está acontecendo nesse país; acima de tudo, levantando questões que contribuam para a riqueza do debate, ainda pequeno, sobre cidade e território na China.

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