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O papel da tecnologia e da gestão na produção do arquiteto

Mariana Tassi Damião

Antônio Gil da Silva Andrade

O mercado brasileiro está em alta. Apesar da desaceleração da economia, os investimentos no setor da construção civil continuam, seja em infraestrutura ou habitação. Em um contexto de atual fortalecimento do setor da construção civil, com empresas construtoras e incorporadoras tornando-se mais exigentes e seletivas na contratação de seus fornecedores, com a entrada de mão-de-obra estrangeira frente a crise na Europa e Estados Unidos, além da histórica oscilação de demanda no setor, espera-se que as empresas de projeto estejam aptas a atender às expectativas de maior rigor técnico, produtivo e gerencial em distintos cenários.

O arquiteto, com o passar dos anos, foi perdendo seu reconhecimento.A profissão sofreu uma desvalorização que se reflete hoje no salário da categoria. Algumas razões podem ser apontadas: a primeira é o próprio afasatamento da técnica, deixando aos engenheiros trabalhos antes desenvolvidos por arquitetos; segundo é a desunião da classe, que apesar de ter fundado a Comissão de Arquitetos e Urbanistas, ainda não defende efetivamente seus interesses, uma vez que ainda não foi nem mesmo estabelecido o piso salarial, autorizando a continuação da prática de sálários irrisórios; terceiro é a pulverização de faculdades em que arrecadar dinheiro é mais importante que formar arquitetos, colocando no mercado de trabalho pessoas despreparadas.

A etapa de projeto é, dentre as etapas de produção, aquela com maior oportunidade de intervenção e agregação de valor ao empreendimento. No momento em que vivemos, não podemos ignorar questões como sustentabilidade, desempenho e tecnologia. Essas demandas exigem do arquiteto mais que um belo desenho, mas uma solução de projeto que se preocupe com o impacto ambiental, com o desempenho da edificação, com a construtibilidade.

Nesse sentido, o arquiteto deverá reaprender a construir. Com a aprovação da Norma de Desempenho, todos os projetistas deverão desenvolver seus projetos com a finalidade de garantir o desempenho do edifício como um todo do momento da execução até o pós-uso, de acordo com a vida útil de projeto. Com o Código do Consumidor, a partir do momento que algo no edifício desagradar o consumidor, este poderá entrar com um processo e isso se refletir de forma negativa tanto para a construtora quanto para o projetista.

Além desse aumento de responsabilidade, as novas ferramentas de projeto baseadas na tecnologia BIM, exigem do arquiteto o conhecimento de todo o processo construtivo, uma vez que cada elemento do desenho é alimentado por parâmetros que permitem avaliar o comportamento do edifício, as etapas de construção, elaborar cronogramas, etc. O BIM é mais do que uma ferramenta de modelagem 3D, é uma ferramenta que permite a construção virtual de todo empreendimento.

Fechando as novas demandas, a sustentabilidade vem influenciar na atividade de projetar na medida em que se busca por soluções mais econômicas do ponto de vista da utilização de recursos naturais, e que causem menor impacto à natureza. Uma forma de pensar, há muito tempo feita pelo arquiteto João Filgueiras Lima, é a industrialização da construção, seguindo as premissas da racionalização e da construtibilidade, e a análise de conforto presando pela iluminação e ventilação natural. Analisando somente esses três pontos, o arquiteto deverá ter o domínio da tecnologia construtiva, para poder desenvolver projetos que atendam os novos requisitos.

Com tantas mudanças acontecendo no setor da construção civil, as empresas de arquitetura deverão passar por reestruturação, necessitando de planejamento, organização e controle de seus processos para que possam atender à demanda, respeitando prazos e oferecendo um produto de qualidade. Porém estas, geralmente, apresentam características que limitam o seu desempenho, sobretudo quanto aos seus modelos de gestão, como falta de planejamento, predominante informalidade na atribuição de responsabilidades, falta de critérios na determinação de preços dos serviços prestados e de organização das informações. Há, portanto, a necessidade de promover o seu desenvolvimento e aperfeiçoamento gerencial.

Uma forma de se organizar é seguir as diretrizes apresentadas pela ISO 9001:2008 – Sistema de Gestão da Qualidade. A ISO 9001 é uma norma internacional para padronização dos processos internos, com foco na satisfação do cliente. Ela propõe um sistema de gestão da qualidade que pode ser utilizada por qualquer organização, independente do tipo, dimensão ou produto desenvolvido. Baseada no ciclo PDCA e na abordagem por processo, a norma tem como objetivos compreender e satisfazer os requisitos explícitos (requisitos do cliente) e implícitos (requisitos impostos pelas normativas relacionadas); considerar os processos como instrumento que agrega valor ao produto; obter resultados de desempenho e eficácia dos processos e buscar a melhoria contínua desses através de controles e avaliações sistemáticas.

Pensando nas empresas de projeto classificadas como pequenas empresas pelo SEBRAE, Oliveira e Melhado desenvolveram um modelo de gestão que trata das funções e processos administrativos essenciais às empresas de projeto, sempre procurando privilegiar a simplicidade e flexibilidade dos procedimentos a serem desenvolvidos/controlados. Ele é dividido da seguinte forma: Estrutura organizacional; Planejamento estratégico; Planejamento e controle do projeto; Gestão de custos; Gestão comercial; Sistema de informações; Gestão de recursos humanos; Serviços agregados ao projeto e Avaliação de desempenho.

No processo de gestão, não se pode esquecer que o principal capital da empresa é o intelectual. Dessa forma, a empresa deve investir na capacitação de seus funcionários sempre que possível e necessário. Mas não basta capacitar, é importante que o conhecimento seja difundido por toda a empresa para não baixar a qualidade do projeto caso sofram perdas. E isso quase não acontece nas empresas.

Para verificar como os arquitetos trabalham e se preparam para as novas exigências do mercado, foram desenvolvidos estudos de caso com três empresas de arquitetura.

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