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secao 4!

Os Limites na Arquitetura -

aspectos perenes mediados pela construção

Marina Masetti Faggin

Antonio Carlos Barossi

A busca de um sentido amplo na arquitetura - intrínseco à característica essencialmente humana desta disciplina - somada à possibilidade de utilizar o tempo desta pesquisa para investigar uma grande quantidade de soluções, relações e elementos arquitetônicos, formaram o embrião das reflexões que tive a oportunidade de produzir neste trabalho. O recorte temático se guiou naturalmente e então foi sendo lapidado pela minha própria curiosidade. Já de início, me despertavam interesse os espaços nas alturas - em contato direto com o ar e separados do plano horizontal - e os espaços subterrâneos, que pareciam reproduzir o chão para lugares que, a meu ver, exigem um "habitar" específico e peculiar.

Logo me depararia com uma associação vertical entre céu, mundo habitado e terra, como se houvesse uma hierarquia e uma ordem para estes nomes. Neste momento, pude conectar virtualmente aqueles espaços que me pareciam importantes: dos coroamentos aos subterrâneos existe sempre uma linha, um percurso construído, que tem seus extremos nos limites entre a matéria edificada e o meio pré-existente, manipulado e alterado pelo homem. Em um desenrolar consequente, deu-se um passo à procura da hierarquia dos espaços no eixo horizontal, ou seja, dos interiores e exteriores e dos fenômenos arquitetônicos que poderiam ocorrer paralelos à superfície terrestre. E assim fui ampliando os estudos e bifurcando os caminhos da pesquisa, pairando sempre nos limites propostos na arquitetura.

Estudar uma sequência de espaços semelhantes traz uma sensação de reincidência, porém de início, não sabia precisamente se esta reincidência provinha de lógicas naturais às quais sempre estivemos sujeitos ou da repetição de certas tipologias no imaginário humano, como se todo o nexo que encontrava na evolução da arquitetura estivesse atrelado à influência que um edifício primitivo pudesse ter em um sucessor. Percebi contudo, que as relações que posso encontrar e tentar decifrar estudando estes espaços peculiares e recorrentes têm um laço estreito com condições perenes à própria arquitetura. Estas condições são "coisas" dependentes da arquitetura, e ao mesmo tempo, a arquitetura também se vê dependente destas "coisas".

Na prática, este trabalho tornou-se um levantamento de soluções arquitetônicas em tempos e espaços diversos, que exigiram uma organização em grupos, que retratam alguns aspectos curiosos e persistentes no desenrolar da história da arquitetura e da construção. A partir de então, concebeu-se a metodologia de trabalho: a reunião de formas que dialogavam entre si não por suas circunstâncias sociais, programáticas ou históricas, mas sim por suas formas, por suas relações com o meio ou por paritcularidades de seus elementos. Posto este olhar para as referências, se configurou naturalmente a estruturara de montagem das coleções que figuram os capítulos deste livro.

Com o amadurecimento que provém do percurso do trabalho passei a entender que meus objetivos se afastavam da construção de um catálogo de obras pois já se faziam protagonistas os pensamentos nascidos ao estudar cada uma delas. Dessa maneira, as imagens que compõem as figurações do trabalho passaram a ser acompanhadas de textos que procuram "redesenhá-las em palavras" ao mesmo tempo que as remetem às motivações que as mantiveram agrupadas sob reflexões acerca de um mesmo aspecto.

Sinto prontamente aquela sensação ampla, uma sensação global que se tem ao nos darmos conta da real pertinência dos fatos arquitetônicos individuais aos sentidos magnos que delineiam a arquitetura. É esta sensação que procuro difundir neste livro.

Desde o primeiro sinal de sua existência, a arquitetura teve que lidar com certas relações às quais sempre esteve sujeita, seja por sua própria natureza, seja por lógicas impostas pelo meio pré-existente.

Diante da impossibilidade de discutir todo universo de relações inerentes à arquitetura, tomou-se como critério para a composição deste trabalho a eleição de certos aspectos perenes que estão diretamente ligados à ideia de limite.

O entendimento de limite, em uma significação pertinente a este trabalho, torna-se mais claro ao reconhecermos na atividade arquitetônica a capacidade de definir espaços e, de certa maneira, separar o meio construído do não construído. Ao edificar, o homem limita espaços, indicando fronteiras, demarcando o início e o fim de sua construção. Existem, contudo, no imaginário dos limites, aqueles que cumprem as separações entre "as coisas do meio", como por exemplo a divisa natural entre o espaço celestial e o espaço terrestre demarcada pela superfície horizontal sobre a qual estamos pisando.

Construímos, então, uma imagem: uma casa pousada sobre a terra, debaixo do céu. Nesta imagem simples encontramos as três questões perenes reunidas neste livro: "estar sobre a terra", "estar sob o céu" e "estar dentro ou fora". São três lógicas soberanas e eternas, seja para a vida humana, seja para suas atividades.

Contudo, voltemos nossa reflexão para a casa, pois, na imagem que compusemos, ela representa a arquitetura. A casa limita um "pedaço de mundo" separando-o do céu, da terra e do exterior. Por ter um papel ativo, uma vez que tem a capacidade de limitar, a arquitetura porta-se como mediadora de relações entre os universos que separa e é conformada pelo homem - através do manuseio da técnica na manipulação da natureza - às necessidades e anseios humanos. Estas relações - provenientes das lógicas que foram enunciadas há pouco, somadas ao papel delimitador da arquitetura - são produto de três amplos diálogos que ocorrem entre "interior e exterior", "céu e mundo habitado" e "terra e edificações". Estes diálogos formam a estrutura deste trabalho, dividido em três capítulos.

Dentro de cada um dos capítulos encontram-se figurações, tomadas como exemplos de "comportamento" do homem e da arquitetura por ele produzida, postuladas estas três dialéticas principais. Para fazer uma leitura destas figurações, a fim de agregar reflexões mais amplas à este elenco de "formas construídas", foi aplicado um olhar pessoal amparado pelo triângulo meio-homem-arquitetura e pelo entendimento da disciplina "arquitetura" de um ponto de vista essencialmente humano.

Este olhar detectou e selecionou, dentro de um imenso universo de possibilidades, alguns sistemas e aparelhos desenvolvidos pelos humanos e suportados pela arquitetura e algumas relações e questionamentos que creio poderem ser lidos nas formas e tipologias arquitetônicas. Estes dispositivos e relações bifurcam-se dentro dos capítulos e compõem os subcapítulos deste trabalho.

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