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secao 4!

CEU Baixada

Min Chul Kim

Antonio Carlos Barossi

Este Trabalho Final de Graduação surgiu da premente necessidade de revitalização do bairro da Baixada do Glicério, que atualmente se encontra vítima do descaso do poder público e das escolhas precipitadas de sucessivas gestões no que concerne à supremacia do transporte particular automotor em detrimento da integridade do tecido urbano.

Portanto, antes do TFG, havia já o interesse em estudar a região para conceber um projeto que pudesse ser uma força motriz para a fixação dos moradores, valorizando o bairro na melhor das hipóteses, ou, na pior das hipóteses, preencher alguma carência específica do bairro.

A alta rotatividade dos moradores locais tem diferentes origens, mas podemos resumir em: habitação de baixa qualidade, carência de equipamentos de lazer e cultura e falta de perspectiva para o futuro.

A habitação de baixa qualidade possui causas interna e externa. Esta é o ambiente urbano que cerca as residências: tráfego intenso, alta poluição atmosférica e sonora, violência, vandalismo. Aquela é a própria qualidade das construções que se configuram em cortiços mal ventilados e iluminados.

A carência de equipamentos de lazer e cultura é evidente na região, repleta de bares que funcionam por 24 horas para atender uma população ávida por uma fuga da dura realidade cotidiana.

A falta de perspectiva para o futuro se deve principalmente à ausência de suporte para as futuras gerações. A educação é a pedra fundamental para que a esperança de um futuro mais digno retorne aos lares dessas famílias. Entretanto, dentre as escolas disponíveis no entorno, há uma estadual do fundamental, um CEI e uma creche.

Reconhecendo tais problemas, o TFG foi direcionado a solucionar dois dos problemas crônicos dos moradores locais: a carência de espaços para entretenimento (tanto cultural quanto esportivo) e escolas.

Este espaço deverá servir como um desafogo da pressão imposta pela dura realidade urbana, fornecendo não somente “pão e circo”, mas um alimento intelectual para a formação consciente das futuras gerações e lazer que traga saúde e cultura. Porém, não deverá ser apenas um desafogo social, mas também físico, sendo mandatório um amplo espaço livre no meio da densa malha urbana, que servirá de praça para os transeuntes passarem ou ficarem para relaxar, uma praça sem grades, uma praça integrada com a cidade.

A proposta de unir o ensino com a cultura e o esporte direcionou o TFG para a criação de um projeto de uma escola-parque, mais vertical por se tratar de uma zona mais adensada, mas sem deixar de lado a necessidade de espaços livres tanto para a população local como especificamente para os alunos.

Os Centros Educacionais Unificados (CEU) têm sido o resultado dos avanços sobre os estudos das escolas-parque nacionais que se iniciaram com o intelectual e educador baiano Anísio Teixeira, inspirado pelas escolas comunitárias americanas, organizadas no sistema Platoon, e pelas ideias do filósofo e pedagogo John Dewey, que defendia uma educação baseada na experiência prática diante de um mundo dinâmico, preparar o indivíduo para a sociedade (educar) ao invés de apenas instruir. Sobre esse aspecto, o educador baiano dizia:

“Educação não pode provir, nem do simples contato com as lousas, nem do simples contato com as pessoas, mas de uma participação que nos faz compreender cousas, acontecimentos e atos à luz do seu atual sentido social.(...) Tal escola não é um suplemento à vida que já leva a criança, mas a experiência da vida que vai levar a criança em uma sociedade em acelerado processo de mudança.”

Esses centros se destinam, portanto, não só a cumprir a sua óbvia função pedagógica junto às futuras gerações que ali residem, mas também a função de servir de espaço de convívio, lazer e cultura para as gerações presentes de proletários que não possuíam até então alternativas à dura realidade imposta pela lei do mercado.

Os CEUs precisam de terrenos de quinze mil metros quadrados para serem implantados, o que é viável nas áreas vulneráveis, que se localizam geralmente na periferia da cidade. Entretanto, a Baixada do Glicério já é uma região consolidada e altamente adensada, o que torna difícil a implantação dessa solução.

A verticalização da construção foi a solução encontrada por oferecer menos impacto à população já residente, além de não sofrer das limitações impostas pela reforma de um prédio pré-existente. Porém, não se pode esquecer que o partido da escola-parque perde o sentido se não houver espaços livres abundantes para a interação social e a troca que se estabelece entre a escola e a comunidade. Assim, o projeto se concentrou em colocar as áreas livres dentro da construção ao longo dos andares, trabalhando com a dualidade entre o restrito e o público.

O CEU Baixada será um complexo de dois blocos e duas praças que buscará tanto uma integração entre educação mental e física quanto uma integração da escola com a cidade. Os dois blocos do complexo possuem funções distintas, porém conectados tanto física (praça elevada) quanto pedagogicamente: um é dedicado ao currículo acadêmico e técnico, enquanto o outro se propõe a abrigar atividades físicas, visando sempre uma formação completa do aluno (mente sã em corpo são). A praça do térreo, por sua vez, propõe-se a convidar os transeuntes a entrarem e explorarem o seu interior, tornando o complexo vivo pela circulação constante de pessoas e o integrando ao tecido urbano.

Os dois blocos abraçarão em seu âmago uma praça, que terá livre fluxo de pessoas sem cercear com grades e rampas de skate que separarão seus usuários dos pedestres. Então, como será feito o controle de acesso?

A solução será isolar todos os equipamentos, tanto os acadêmicos quanto os comunitários, em seus respectivos blocos, onde haverá um maior rigor no acesso. A praça, portanto, ficará livre de grades, permitindo a presença contínua. Enquanto isso, os alunos podem disfrutar da praça suspensa com toda a segurança.

Ficha técnica

Centro Educacional Unificado
Local: Baixa do Glicério, São Paulo
Data do projeto: 2012
área do terreno: 8.923 m²
área construída: 19.158 m²

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