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secao 4!

HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO,

UM PROJETO DE QUALIFICAÇÃO URBANA

Natália Harumi Tanaka

Antonio Carlos Barossi

O trabalho se propõe a tratar a habitação não como um objeto encerrado no desenho da unidade ou do prédio, mas como um elemento da cidade. Assim, a partir de um projeto de habitação em um terreno específico, pretende se discutir a qualificação da habitação como uma forma de qualificação da cidade.

O que freqüentemente vemos na produção de habitação social brasileira é a falta de cuidado com o projeto, mal justificado pela urgência de demanda e falta de recursos. Porém, é através do projeto que nos tornamos capazes de encontrar soluções econômicas e de qualidade e por isso o trabalho tanta recuperar o valor da etapa do projeto.

Através de uma análise da produção atual, procura-se chegar a parâmetros de projetos que ajudem a guiar novas propostas. Destaca-se três escalas de análise da qualidade da habitação: a da inserção urbana, a da implantação e da unidade habitacional. Acredito que só uma solução que englobe essas três escalas é capaz de garantir a habitabilidade ideal, que seria aquela que permite o desenvolvimento da vida domiciliar e da vida urbana. A inserção urbana diz respeito a escala da metrópole e leva em consideração a localização em relação as infraestruturas e serviços urbanos. A implantação diz respeito a escala da vizinhança próxima e fluidez do projeto. A unidade remete ao espaço familiar restrito e suas relações entre os cômodos e usuários. Somente com um projeto que abranja essas três escalas é possível chegar a um patamar ideal de qualidade necessária para a habitação.

MEMORIAL DESCRITIVO

área intervenção: 36.270m2
área construída: 145.000m2
coificiente de aproveitamento: 4
unidades habitacionais: 553

O projeto ocupa uma área no centro de São Paulo, e faz parte da operação urbana centro. Apesar de sua boa localização, próximo a diversos meios de transporte e equipamentos urbanos, a área não aproveita seu potencial construtivo e está isolada da cidade. O terreno é delimitado por grandes vias metropolitanas que desconfiguram a escala local, por isso hoje a área desconexa ao uso do entorno e é ocupada em grande parte por estacionamentos. A configuração morfológica do sítio também funciona como uma barreira urbana: o vale da Av. 23 de Maio (vale do Itororó) divide o triângulo histórico e o centro expandido em direção ao bairro Bela Vista. Para reverter esse cenário, o projeto adensa a área ocupando os lotes de estacionamentos e de casas sobradas, configura novos passeios que vencem o desnível, e dinamiza o uso através da inclusão de uma nova função: o uso habitacional. A intenção é criar uma unidade de vizinhança que configure e dê vida ao lugar, ao mesmo tempo que configure a cidade com um desenho claro e contínuo. A nova habitação se beneficia de toda a infraestrutura existente no centro, e potencializa o lugar ao garantir o uso da área em horários não comerciais.

Hoje a ocupação da Rua Maria Paula já é consolidada com prédios altos de uso comercial e de serviços. Nessa rua mantém se o uso e cria-se uma entrada para o interior da quadra. A Rua Asdrúbal do Nascimento apresenta prédios residenciais intercalados com lotes de estacionamentos térreos e sobrados antigos. Nela o uso residencial é reforçado e a morfologia da rua é consolidada criando uma continuidade para a quadra. Na Rua Santo Amaro encontra-se um casarão tombado que deve ter a fachada e a volumetria preservadas. Esse imóvel é incorporado em um projeto de creche que vem suprir a necessidade dos novos moradores da área. Nessa rua o gabarito baixo e as ruas de pedestres permitem a visualização da praça interna a quadra.

São propostos 11 edifícios habitacionais, 2 de serviços, 1 de estacionamento, 1 de creche e comércio no térreo. Essas novas construções adensam a quadra, utilizando um coeficiente de aproveitamento 4,5. Elas respeitam a morfologia do entorno e criam uma continuidade da fachada. Ao mesmo tempo configuram uma praça interna a quadra e uma esplanada junto ao viaduto. Esses espaços de encontro qualificam o lugar e permitem a ventilação e insolação dos edifícios.

Novos percursos de pedestre também são criados no interior da quadra através de marquises que conectam a cota baixa do vale até a cota alta da Rua Maria Paula. Esses percursos criam novas rotas entre o ponto de ônibus no Viaduto Brigadeiro Luís Antônio, a movimentada Rua Maria Paula, a nova praça interna e o Terminal Bandeira. Eles configuram um passeio público agradável, protegida do tráfego intenso de veículos e é ocupada por comércio local. Com isso, apesar do uso residencial dar um caráter mais doméstico às quadras, pessoas que trabalham na área ou que estão de passagem podem usufruir desse espaço para o descanso, encontro e lazer, fugindo do ritmo acelerado das vias do entorno.

o projeto propõe atender a diferentes grupos familiares para garantir a diversidade da população. Parte-se do princípio que a integração de grupos de diferentes renda e composição familiar trás uma riqueza para o convívio urbano e evita segregação sócio-espacial preconceituosas. Assim são propostas unidades de HIS (população de até 6 salários mínimos) e de HMP (população de até 16 salários mínimos). Dentro dessas duas categorias o projeto também tipologias de diferentes tamanhos para atender diferentes composições de família.

A organização interna da habitação leva em conta as mudanças atuais da família brasileira. Estudos sociológicos e estatísticas de censos demográficos revelam o número crescente mulheres chefes de famílias, pessoas que trabalham em casa, núcleos familiares de pais separado, etc. Essas mudanças afetam o modo de vida doméstico. Hoje as tarefas são divididas entre todos os membros da família, então a divisão da casa tradicional brasileira, de área social e de serviços, não faz mais sentido. E com tantos perfis diferentes de família, é importante que a unidade habitacional seja flexível, possibilitando a apropriação de cada usuário segundo suas necessidades.

O projeto então tenta criar uma independência entre cômodos que permita cada membro da família desenvolver sua atividade sem interferir no outro membro.

No projeto, o uso habitacional é pensado como o ativador do lugar. E o desenho da habitação como o desenho da cidade.

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