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secao 4!

Atmosferas da Penha

Natália Scromov Espada

Alexandre Delijaicov

Atmosferas da Penha é como chamo o produto final do meu TFG, que é um trabalho com ilustrações, fotografias e contos que desenvolvi para transmitir as atmosferas e impressões cotidianas sobre bairro da Penha, localizado na zona leste de São Paulo. Para explicar o que é exatamente o “Atmosferas da Penha”, preciso explicitar como cheguei neste conceito, que foi desenvolvido durante a primeira parte do trabalho, que chamo de “A Casa Sensível”

A Casa Sensível

A minha proposta de trabalho era tentar entender até onde o arquiteto pode projetar e prever a aceitação de suas obras para o campo afetivo, seja através do belo, seja por prever usos ou por criar situações premeditadas. Para isso analisei a formação do nosso museu imaginário, (repertório imagético), ao qual me refiro como um acervo particular de lembranças e imagens, que é consultado a cada novo problema a nós apresentado.

Quase contraditoriamente, percebo também que mesmo desejando entender se seria possível prever e produzir racionalmente, durante o projeto, relações afetivas entre espaço e pessoa, é muito encantador perceber na arquitetura suas surpresas, o que a obra construída apresenta a seus usuários e que não fora premeditado, como o desenho da luz ocupando espaços, o peso dos diferentes materiais e a temperatura das cores.

Sobre o nome “A Casa Sensível”, a “casa” refere-se à casa de infância e também à mente de cada um, onde moram nossas lembranças e ideias. O “sensível” diz respeito ao diferencial que faz lugares físicos reais transformarem-se em lugares afetivos.

Para que fiquem mais claras as referências que usei neste início de trabalho, falo brevemente sobre mim e sobre a minha família, já que o principal objeto de estudo foi minha memória afetiva.

Meus pais conheceram-se no bairro da Penha, em São Paulo, e lá mesmo construíram uma casa para a família alguns anos depois.

A Bolívia é para mim uma segunda nacionalidade, meu pai é boliviano de Cochabamba e sempre fez questão de nos mostrar sua cultura, de modo que naturalmente adotei a cultura do altiplano boliviano como sendo minha.

Todas essas lembranças e imagens estruturam o nosso repertório imagético, e para que eu pudesse entender como ele se organiza e como fazemos uso deste repertório quando buscamos referências e respostas para problemas, fiz alguns estudos e exercícios que me ajudaram a compreendê-lo.

O mapa afetivo

Criei um mapa afetivo logo no início do trabalho para organizar meus territórios. Trata-se de uma cartografia pessoal, com os lugares de maior relevância afetiva representados de forma simbólica apenas para esclarecer qual o peso dos territórios no meu repertório imagético.

A casa da infância

Comecei por analisar a minha casa da infância. Está localizada na Penha, foi construída pelo meu pai, cuja profissão não tem relação nenhuma com a construção civil, ele é dentista. Através de histórias que ele me contava sobre a casa onde ele vivia quando era criança e algumas fotografias antigas eu percebi uma série de características comuns entre a casa da infância dele, com a casa que ele criou para a sua família. Inconscientemente ele revirou seu repertório de lembranças e buscou na sua casa de infância boliviana as referências espaciais e soluções construtivas para a casa brasileira.

O nosso repertório imagético particular participa naturalmente do ato de projetar. Posso escolher uma referência específica para me guiar em um novo projeto, mas mesmo que eu tenha feito essa escolha, outros espaços que me tocaram de alguma forma irão participar desse novo trabalho. Nessa fase de estudos percebi que poderia me basear em boas soluções de projeto, mas é interessante deixar cada programa nos guiar com sua forma própria, natural e não baseado num manual de soluções positivas.

Montagens fotográficas

Parte da minha investigação fotográfica foi fazer montagens, usando fotografias de família que foram tiradas no mesmo lugar da nossa casa da Penha porém em épocas diferentes.

Este exercício ajudou a mostrar a dinâmica da casa e para mostrar como a casa participa da nossa vida, colaborando para o convívio e dando suporte para que a vida aconteça.

Atmosferas da Penha

O cerne do “Atmosferas da Penha” é a afetividade que tenho com este bairro da Zona Leste de São Paulo, onde vivi quase sempre. Apresento o bairro a quem não o conhece, mostro o que está contido além de suas paisagens físicas e faço com que o leitor rememore, sinta seus próprios lugares afetivos e revire seu repertório imagético. Foram desenvolvidos contos com temas cotidianos, desenhos e fotos de paisagens, para transmitir um pouco da atmosfera do bairro.

Como inspiradores desta investida, tenho: Fernando Pessoa, que com Alberto Caeiro soube cantar sua aldeia de modo universal, Ítalo Calvino, que em “Cidades Invisíveis” construiu espaços incríveis através de suas narrativas imaginárias e Peter Zumthor que soube expressar de modo sinestésico suas percepções espaciais no livro “Atmosferas“.

Considerações finais

Ao desenvolver este trabalho tive a oportunidade de entender o que estava ao meu redor, reconhecer meus territórios e tomar consciência de que não podemos prever que certos lugares sejam tidos como lugares afetivos. Como arquitetos somos capazes viabilizar situações que ajudem a conferir afetividade ao espaço.

Não é apenas atendendo às demandas ergonômicas referentes a cada uso que se realiza um bom projeto, mas considerando o espaço habitado, quais situações ele propicia, como a luz provavelmente incidirá, a sensação vinda dos materiais e de que forma as pessoas circulam. A afetividade é conferida principalmente pela forma como as pessoas usam o espaço.

Sobre a Penha, tive o prazer de tornar-me mais íntima dela, por conhecer seu passado que não se limita ao tempo da minha existência no local. Antes eu só tinha conhecimento da minha relação com o bairro e hoje vejo a relação dele com São Paulo.

“Atmosferas da Penha” ilustra o nosso olhar sensível, que nos mostra mais do que os olhos podem ver.

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