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secao 4!

Desenho Urbano de Passarelas:

o percurso do pedestre nas travessias do rio Pinheiros

Renata Cruz Rabello

Fábio Mariz Gonçalvez

O desenvolvimento da cidade de São Paulo caracteriza-se pela prioridade do uso do automóvel em oposição à valorização do espaço do pedestre, atestado pela condição das travessias sobre o rio Pinheiros que delimitam seu caminho. Além disso, a atual ocupação das margens do rio proporciona o esquecimento de seu potencial de lazer e de elemento tão importante na paisagem da cidade.

Os rios apresentam função essencial na drenagem da cidade e deveriam ser valorizados e cuidados, permitindo assim o usufruto de suas margens ao invés da negação de sua presença na paisagem. São Paulo não ofereceu a aproximação das pessoas a esse espaço, dificultando ainda mais o convívio, a exemplo da construção de novas formas de barreira como a ferrovia e as avenidas marginais. Se antes o objetivo era atravessar apenas sua largura, por volta de 90m, agora passou a 200m, acrescentando a difícil intenção de conectar de maneira harmoniosa os diversos modais existentes: trem, metrô, ônibus, bicicleta, automóvel e o pedestre.

Há carência visível em relação ao acesso de ambas as margens do Rio pelas escassas travessias feitas por modais públicos (trem, metrô e corredor de ônibus). Tanto o pedestre quanto a bicicleta possuem papel fundamental como complemento às outras formas de transporte, e merecem a atenção a fim de tornar o trajeto seguro e agradável.

O projeto de passarelas de pedestre consiste, portanto, em retomar a relação pessoal da cidade com o rio Pinheiros, de modo a revitalizar e conectar de maneira humana as suas margens, configurando-o não mais como barreira física e sim como percurso atrativo, tanto no sentido transversal quanto no decorrer de seu trajeto. O principal objetivo consiste em encaminhar o pedestre ao mirante formado no topo do arco, alcançado no eixo do rio Pinheiros, possibilidade única na cidade de São Paulo de vislumbrar a natureza e a paisagem nessa região da várzea do rio.

O encontro do tabuleiro plano com o arco que une as duas margens, na parte central, produz espaço coberto que funciona como praça suspensa, que poderá contar com instalações provisórias protegidas pelo tabuleiro do arco, tais como quiosques, comércio ambulantes, feira de livros, entre outros. Com exceção do trecho do arco que conduz ao mirante, todos acessos foram projetados para acessibilidade universal, com rampas, escadas e elevadores. A escadaria apoiada na base do arco, possui canaletas de acesso às bicicletas conectando à ciclovia do rio Pinheiros. Na outra margem do rio considera-se também a ocupação, com pistas de corrida e caminhada, até o encontro do Parque Linear proposto a partir da região de Santo Amaro, quando a margem é mais alargada, e a avenida marginal transfere-se para o outro lado do rio.

Cada ponto de acesso vertical auxiliar ao arco defini-se por estrutura de pórtico que se projeta sobre o tabuleiro da passarela encontrando a estrutura do elevador, de forma a sombrear a área de espera com pergolado na cobertura. Associado à pequenos equipamentos de apoio à margem do rio, de acordo com a necessidade do local, encontra-se banheiro público, bebedouro, ponto de ônibus, estacionamento de bicicletas, entre outros. Esse elemento foi pensado com linguagem única coerente, independente da estrutura principal da passarela, permitindo maior liberdade em seu posicionamento.

Após evoluir a maquete eletrônica até encontrar resultado interessante considerando todos aspectos descritos anteriormente, foi feita a análise estrutural, de modo a concretizar o estudo da passarela. A estrutura define-se pelo arco como elemento principal, essencialmente em compressão, e o tabuleiro atirantado. O estudo considerou duas alternativas para a condição de apoio:

- apoio liberado da base (A): permite o deslocamento horizontal, com a vantagem da não ocorrência de empuxo na fundação, onde haveria apenas esforços verticais. Nesse quadro a própria estrutura deve resistir aos esforços horizontais, com o tabuleiro central tracionado e uso acentuado de aço em todos elementos, enquanto a base é constituída de fundação leve;

- apoio travado horizontalmente (B): a rigidez da estrutura encontra-se na fundação, onde se concentra a resistência aos esforços horizontais. O tabuleiro não participa fundamentalmente do conjunto estrutural, ou seja, não está tracionado, permitindo esbeltez dos perfis, tornando a estrutura mais leve. O apoio, portanto, deve ser mais robusto por caracterizar-se como o elemento que sustenta e resiste a tendência de abertura do arco.

A análise da estrutura foi essencial para o entendimento de que certas diretrizes definidas pela intenção arquitetônica de promover a qualidade da travessia do pedestre não favoreceram a eficiência estrutural, como a condição do arco abatido, permitindo a integração dos diferentes acessos, o mirante no ponto mais alto e a interferência menos agressiva na paisagem.

A passarela proposta tem o objetivo de não apenas estabelecer simples conexão entre as duas margens do rio, como ocorre nas poucas transposições existentes que não resolvem a questão da travessia digna e segura, seja pela dimensão reduzida, pela deterioração, pela escuridão e inospitalidade do entorno.

A intenção principal, foco do estudo, volta-se ao pedestre e na qualidade da travessia em todos os aspectos e fragilidades. Este deve atravessar o rio e os demais obstáculos que estendem o trecho de transposição, de maneira segura, entre as calçadas e as margens.

Definindo-se como ambiente de passagem, ponto de encontro, estar, repouso, contemplação, tem a capacidade de tornar o espaço vivo, repleto de pessoas e atividades, aprimorando o entorno, o rio e a cidade, aproximando as pessoas desse elemento tão escasso na vida dos paulistanos.

A simplicidade do traço da passarela no desenho urbano tem o desejo de proporcionar essa vida colorida à cidade de São Paulo.

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