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secao 4!

Design gráfico e ensino:

questões acerca do livro didático infanto-juvenil

Tamara Crioruska Tarasiuk

Clice de Toledo Sanjar Mazzilli

O presente trabalho surge a partir da ideia de que a alfabetização é uma etapa muito importante na formação do indivíduo. Nessa fase, as habilidades pessoais são ampliadas, tornando a capacidade de comunicação mais eficaz. Produzir informação e discussões passa a ser uma ação espontânea.

O poder da educação e o hábito da leitura são determinantes para a formação da criança, abrindo caminho para a construção de uma postura crítica e ativa na sociedade. Ou seja, tomar posse do próprio idioma é tomar consciência do mundo.

O material didático é encarado aqui como um dos mecanismos do processo de despertar da criança para o mundo. O livro didático escolar, por sua vez, é entendido como uma coleção de informações distribuídas por páginas, cujo espaço permite a organização e o acesso ao seu conteúdo. Sendo assim, o design gráfico é a ferramenta que permite a transmissão do conhecimento de forma direta e adequada ao aluno leitor. Cabendo ao designer não só a preocupação com a apresentação do conteúdo, mas também a adequação do material ao usuário, no que diz respeito ao seu manuseio e durabilidade. Dessa forma, este trabalho procura analisar o livro didático segundo sua visualidade e materialidade.

O livro didático pode ser definido como um objeto escrito, editado, vendido e comprado para ser utilizado em aulas e cursos. É um material produzido em grandes quantidades, padronizado (as diferenças entre os exemplares são mínimas), destinado a grandes massas e, em certo caráter, efêmero.

Sua principal característica é ser um instrumento destinado ao ensino, contudo, devido às suas características de produção e distribuição, não deixa de ser um produto da indústria cultural. Sua aparência sofre influência da cultura visual em que estamos inseridos — proliferação de imagens, influência da internet, magazines, etc. — para ser competitivo no mercado editorial. Assim, esta situação mascara o processo contraditório de produção em que está inserido.

Apesar disso, não se deve ignorar o caráter diferencial deste produto — um ideal pedagógico que distingue sua essência dos demais produtos da indústria cultural — extrapolando suas características visuais, projetuais e comercias.

Suas peculiaridades prosseguem pelo modo como é consumido: o livro didático não propõe uma leitura contínua. É um livro que é consumido aos poucos, em unidades, lições ou consultas. Portanto, a interação com este produto está mais próxima do termo “uso”, que da leitura em si. Também apresenta, nesse quesito, uma estrutura complexa: é lido de forma sequencial — no que diz respeito a pagina —, temática — quando analisadas as duplas de páginas — e em rede — quando são tomadas como exemplo suas imagens, textos, ícones sinalizadores.

Dentro deste cenário, é desejável que o livro didático instigue o aluno, o que pode ser conseguido através do estímulo de sua dimensão afetiva, por exemplo.

Muitas vezes o interesse pela leitura é despertado quando o indivíduo se conecta a ela. Essa aproximação pode ser conseguida quando o objeto abre caminho para conexões pessoais com o aluno e suas experiências prévias. O uso de ilustrações e imagens (ou textos, também) relacionadas ao cotidiano do público alvo é um caminho para aproximar este do livro de forma afetiva.

O livro didático também se torna mais interessante quando seu conteúdo verbal se apresenta com um arranjo claro e limpo, que pontua bem partes que devem ser destacadas, trazendo dinamismo e interatividade para o leitor.

Essa composição clara da parte verbal é alcançada através de medidas tipográficas específicas para a faixa etária do leitor. Deve se atentar às questões do corpo do texto, comprimento de linha, tamanho da entrelinha, para que o olhar do leitor seja guiado da melhor forma, fazendo com que a leitura flua bem, seja fácil e prazerosa.

Através da análise das exigências do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) — o qual elenca uma série de requisitos quanto ao acabamento do livro (tamanho, tipo de papel, acabamentos de lombada e costura) e a sua visualidade (sendo mais vago aqui, apenas exigindo um arranjo visual organizado e claro) —, de levantamentos feitos na Biblioteca do Livro Didático da FEUSP, conversas com professores do Ensino Fundamental e com designers que atuam na área, esse projeto foi desenvolvido.

Foi escolhida uma coleção base — Tudo é Linguagem — para que recebesse um novo projeto gráfico considerando diretrizes específicas para a faixa etária alvo — anos finais do Ensino Fundamental, o que corresponde à faixa que vai dos 10 até os 14 anos, em média.

O projeto considerou a necessidade de o livro ser pensado para o uso dos alunos, os quais utilizam esse material como fonte de crescimento intelectual. Para isso, foram adotadas estratégias de tipografia e layout que permitissem um acesso confortável ao conteúdo, inibindo a perda de concentração por um mau arranjo de texto, ou espaçamentos entre letras, palavras, linhas, etc.

Também foi adotado um novo formato para a coleção. O livro, que originalmente se apresentava em um volume de 205mm x 275mm que deveria ser utilizado ao longo do ano letivo, foi substituído por duas unidades semestrais de 170mm x 240mm, as quais garantem melhor manuseio e um menor peso a ser carregado pelos alunos dessa idade.

Por fim, foi considerada a articulação entre os aspectos gráficos do livro didático e sua proposta de trabalho, de modo a garantir a ele um bom funcionamento do conjunto. Foi construída uma série de elementos integrados, que constituem a identidade do livro e, ao mesmo tempo, ordenam e sinalizam a informação.

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