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secao 4!

RADIAL LESTE:

ensaio projetual na metrópole contemporânea

Vinicius Langer Greter

Jorge Bassani

A motivação e objetivo principais do presente trabalho é propor uma ideia de metrópole mais justa socialmente. Para atingí-lo, o trabalho cruzará duas linhas de pesquisa consideradas paralelamente, uma em cada capítulo. A pesquisa sobre as principais teorias urbanísticas que deram forma às maiores e principais cidades do mundo é a primeira delas. Nesse capítulo uma breve antologia teórica comentada tentará dar conta de explicar no campo urbanístico: qual era o projeto de metrópole do início do século XX (a cidade funcional modernista); porque ele não funcionou como se pretendia; e quais foram as reações que gerou um novo projeto, esse ainda em fase de teste, a ‘cidade contemporânea’. No capítulo seguinte e também de forma breve, será apresentada uma análise de São Paulo mostrando histórica e conceitualmente como se formou enquanto metrópole, espelhando-a à evolução conceitual apresentada no capítulo anterior.

A intenção, por um lado, é mostrar como apesar de muito descontrolada e rápida, toda sua trajetória de desenvolvimento se deu paralelamente à evolução das teorias urbanísticas e, por outro, como essas teorias foram subvertidas em favor da injustiça social ou simplesmente não deram conta de intervir num contexto diferente dos quais elas foram geradas. No último capítulo será apresentado um ensaio projetual que se baseie nas leituras dessas teorias aplicando-as no universo metropolitano paulistano, mas tomando um justo cuidado para se diminuir as possibilidade de ser subvertido e aplicado como uma “ideia fora do lugar” (Roberto Schwarz).

Uma motivação secundária, mas muito importante, é totalmente de cunho pessoal. Desde muito antes de iniciar o Trabalho Final de Graduação, imaginava como ele poderia me fazer evoluir como pesquisador/projetista apto a exercer a profissão de arquiteto e urbanista. Nesse sentido, os temas escolhidos e a escala da intervenção foram propositalmente e conscientemente definidos por saber que eu teria enorme dificuldade em compreendê-los em sua complexidade, principalmente ao tentar relacioná-los. A cada olhada para as plantas da cidade me mostrava uma dimensão mais profunda; a cada página lida de alguma teoria me revelava mais dimensões possíveis. E a cada tentativa de relacionar um com o outro me colocava mais inseguro sobre o primeiro traço a ser desenhado e a primeira palavra a ser escrita. Por esse motivo - e tenho consciência de que não é uma justificativa muito convincente – o texto foi escrito de forma relativamente fragmentada. Em algumas vezes a sequência de temas se confunde um pouco, inclusive com algum grau de prolixidade e redundância. Isso se deveu a uma tentativa de não engessar a articulação das ideias expostas a uma linearidade que explique passo a passo a discussão. Espera-se que o leitor compreenda no conjunto dos temas levantados paralelamente, muitas vezes em tópicos, as relações estabelecidas pelo trabalho que nem sempre estarão muito explícitas e claras.

No contexto das metrópoles contemporâneas, multidões se cruzam diariamente em atividades múltiplas, mas quase sempre subordinadas de alguma forma ao processo produtivo de mercadorias e cultura, seja para produzir ou consumir. Compõem uma intensidade de fluxos que ocupa as 24 horas do dia conectando moradias, comércio, empregos, instituições, espaços culturais ou simplesmente nas tarefas cotidianas como ir à padaria ou visitar amigos. Essa rede de fluxos está intrinsecamente conectada à estrutura de cada lugar: onde se localizam os empregos, como as classe sociais se dividem pelo território, qual o nível de qualidade da infraestrutura viária e de transportes que cada bairro tem, etc. Por sua vez, a análise do território tendo em mente as relações que as diversas partes mantém entre si revela sua estrutura social: uma sociedade segregada em classes econômicas, na qual, como desvendou Marx há mais de um século, uma pequena parcela da população detém os meios de produção e submete ideológica e coercivamente todo o restante em seu próprio benefício. Ao se observar as origens e destinos dos fluxos e como cada parte da cidade é equipada revela-se quem são e onde estão cada ator desse cenário. Quanto mais uma cidade esteja inserida dentro da estrutura globalizada da economia de mercado, mais esse quadro pode ser aplicado a ela, pois esta estrutura depende e estimula, entre outras coisas, a hierarquização social em classes de distintos poderios econômicos. Entretanto, por condições em comum como proximidade geográfica e política ou fatos históricos compartilhados, essa estrutura se manifesta com definidas peculiaridades comuns a um grupo ou outro de cidades.

No presente trabalho, apesar de estudarmos a capital paulista, propõe-se, mais profundamente, uma investigação sobre as metrópoles latino-americanas, pois muitas delas apresentam semelhantes processos históricos de formação. Portanto, a importância desse recorte se coloca ao supor que o ensaio projetual apresentado poderia ser adaptado as metrópoles latinas e brasileiras, respeitando suas questões locais, ao passo que não teria a mesma facilidade de aplicá-lo a metrópoles com outras características como Tóquio ou Nova York.

Concluindo, no século XX observamos a humanidade praticamente abandonar a vida rural para viver nas cidades. Essa inversão do modelo de interação social até hoje se coloca como uma incógnita aparentemente longe de desfecho razoável. Passamos um século inventando cidades, observando, repensando num jogo repetitivo de erros e acertos. Cada vez a visão sobre a cidade foi se complexando tentando capturar suas dinâmicas sob os mais diversos prismas: psicológico, cultura, filosófico, espiritual, etc. Este trabalho tentou apenas compreender um pouco desse universo. Saio dele com uma sensação de leve desespero, pois as informações levantadas e as conclusões atingidas revelam o caráter excludente e destrutivo que as cidades impõem aos seus habitantes. E mesmo que as soluções pareçam já serem desvendadas, não faz sentido como caminhamos contra elas. Talvez estejamos no caminho certo, basta seguir tentando. Como eu tentei.

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