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secao 4!

O Imaginário da Cidade:

Cinema e o Espaço Urbano

Amanda Stenghel de Aguiar Whitaker Raimondi

Artur Simões Rozestraten

A dificuldade de refletir, representar e construir espaços arquitetônicos conduziu para a aproximação da arquitetura com outras correntes artísticas. As artes, a música, a fotografia, o cinema e a literatura serviram como ferramentas que dinamizaram a criatividade e aumentaram o repertório de soluções, fugindo de métodos convencionais e racionais. Sendo assim, o trabalho consiste nesta pluralidade de linguagens para a investigação e experimentação do espaço, tendo com principal foco a relação entre o cinema e a arquitetura e urbanismo.

O cinema aparece como mecanismo capaz de explorar imaginários da cidade moderna e contemporânea. Manipula ângulos, percursos, iluminação e outros artifícios que modificam o ambiente real, enriquecem a trama e caracterizam seus personagens. O espaço urbano é recriado, adquirindo formas sensíveis, capaz de produzir uma experiência tridimensional, temporal e ativa.

Para o trabalho foram feitas revisões de filmes considerados significativos no que se refere à visão da arquitetura e do urbanismo, uma cumplicidade que se manifesta desde o surgimento da linguagem cinematográfica e que, como foi dito, possibilita a compreensão desse espaço.

O estudo convergiu para um único filme, Asas do Desejo de Wim Wenders, que foi escolhido pela temática que explora questões como a melancolia e a solidão de seus personagens relacionadas ao espaço, a complementação da vida, a dissecação dos aspectos mais individuais do seres humanos e a busca por um sentido existencial. Além disso, Wim Wenders destaca-se pelo minucioso trabalho com o movimento de câmera, que conduz a experimentação do espaço através de pontos de vista inusitados. Suas produções abrangem diversas áreas como: arquitetura, fotografia, música e dança.

Foram examinados alguns filmes de Wim Wenders que ajudaram na compreensão de questões como o percurso, a transição e a movimentação como forma de libertação presentes em Asas do Desejo.

Paralelamente ao estudo cinematográfico, foram realizados ensaios fotográficos, desenhos e experiências de audiovisual como exercício de criação um imaginário próprio para a cidade São Paulo. A partir da linguagem do vídeo, aprendemos a entender o processo do cinema e a experimentar técnicas e práticas aparentemente distantes. A produção é reflexo da experimentação aberta à realidade, tendo que lidar com imprevistos, sem suporte e sem cenários. O vídeo se mostra como uma inquietação de revelar a cidade.

Enquanto nas narrativas cinematográficas mais tradicionais é apresentado ao apreciador um filme fechado, uma história com começo, meio e fim, de conteúdo e forma específicos, e com objetivos e efeitos pré-determinados, nas obras de caráter ensaístico o apreciador é cúmplice do realizador em um processo em que ele mesmo (o realizador) não parece tão preocupado com os efeitos. São oferecidas muito mais questões do que respostas, um jogo aberto de possibilidade de acertos e erros.

O vídeo permite uma experiência de vertigem, sem tantos controles e domínios cênicos. Trata-se de uma lógica mais visual do que narrativa, mais um modo de pensar do que uma possibilidade de narrar [Machado, 2004]. Seria uma inquietação, produção aberta que se apresenta como fluxo de ideias. Por isso o seu caráter de pensamento ao vivo. É operado como mecanismo relacional, como ambiente de desconstrução, contaminação e compartilhamento.

O pensamento visual é instantâneo. Nos permite manipular, inscrever, combinar, recomeçar, apagar, acrescentar, precisar, deslocar, fazer gambiarras. As imagens em movimento são uma pensamento em ação, diretos, sem rodeios e de fácil acesso.

Nessa condição foi realizado um vídeo para retratar o imaginário de São Paulo, partindo da ideia de captar espaços isolados da cidade conectados através de cortes inusitados.

Para a produção do vídeo foram mapeados e escolhidos alguns lugares da cidade que evocassem a história, marcas, registros e descompassos. Desde espaços residuais até as grandes avenidas foram registrados, pensando sempre em mesclar lugares conhecidos e característicos de São Paulo, com outros desconhecidos e esquecidos.

Os ensaios fotográficos anteriores contribuíram para o estudo da locação das filmagens do vídeo. A partir delas, foi possível estudar ângulos, planos, texturas e cores.

Foi pretendido utilizar o movimento para a execução das imagens, em uma tentativa de trazer o deslocamento como tema, além de trazer a câmera próxima ao olhar do espectador, revelando o espaço gradativamente.

A intenção inicial era unir lugares que não tivessem relação um com o outro, capaz de fantasiar um espaço que não existe, como no caso de Wim Wenders, em Asas do Desejo em que o anjo se desloca pela cidade de maneira etérea, entrando por janelas, passando por paredes, criando seu próprio percurso livre.

Pelo vídeo, pretendia-se trazer a liberdade, a facilidade e fluidez para a cidade de São Paulo, que quase sempre se apresenta com aspecto truncado e amarrado, cheia de nós, paisagens fragmentadas como se fossem várias cidades diferentes, incompatíveis. A partir desse desejo de mudança, foi construído um espaço em que qualquer elemento se torna uma possiblidade de transporte para outro lugar completamente diferente. Seja uma parede, janela, a brecha do sol ou do tapume, tudo permite o escape, o transporte para outra realidade.

Pela montagem foram estabelecidas analogias e contraste de espaços, ligando, através do corte, situações impossíveis. Foram agregados efeitos no ritmo, efeito sonoro, ajuste de cor, enquadramento, tudo para construir o lugar imaginado. A sucessão de quadros das passarelas, pessoas, ruas e edifícios são mostrados de maneira dinâmica e contínua, como um passeio sem interrupções. Mais do que uma simples ordenação de imagens, a montagem cria espaços e tempos próprios.

Desta experiência, apresento o vídeo do imaginário de São Paulo como investigação pessoal, sem tantas sofisticações, nem práticas anteriores.

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