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secao 4!

REVOLUÇÃO DIGITAL NA ARQUITETURA

Bárbara Villanova

Paulo Eduardo Fonseca Campos

"Alguns dos procedimentos utilizados pelos homens para produzir objetos de uso ou construir máquinas, para modificar e alterar a natureza através do trabalho das mãos, favorecem o efetivo conhecimento da realidade muito mais do que aquelas construções intelectuais ou aqueles sistemas filosóficos que acabam por impedir ou limitar a exploração ativa das coisas naturais por parte do homem."(ROSSI, 1989)

Em seu livro, Os Filósofos e as Máquinas, Paolo Rossi traça um panorama sobre as relações entre os cientistas e os artesãos na revolução científica, de 1400 a 1700, e defende a convergência entre as teorias e as artes mecânicas. Suas análises mostram o quanto essa relação pode ser delicada, e de que forma os craftsman foram sendo distanciados do processo intelectual ao longo da formação das universidades da forma como as conhecemos hoje.

Há uma transição histórica decisiva quando, na modernidade, é rompida a unidade entre desenho e canteiro. É nesse momento que o arquiteto se emancipa da obra, como parte da divisão entre trabalho intelectual e manual. Ocorre, a partir de então, uma perda progressiva tanto do saber dos demais trabalhadores sobre os meios criativos, como da criação sobre os fins da produção.

Essa ruptura ocorre no Renascimento, momento em que, a partir da configuração do sistema científico de codificação e representação da arquitetura, iniciado por Brunelleschi, o projeto sai do ambiente da realização, para se limitar ao da criação.

A partir de então, com as transformações e configuração do mercado da construção civil da forma que se dá atualmente, sem, em geral, participar das decisões tomadas a princípio, as quais conformam o projeto e suas prioridades, a maioria dos profissionais desenha fragmentos do produto, limitando-se a produção de folhas.

De forma díspar, a revolução digital das duas œltimas décadas vem permitindo cada vez mais que os profissionais de projeto se aproximem do objeto projetado, e direcionem seus processos produtivos, através das ferramentas digitais de projeto e fabricação. Muito mais do que um discurso formal sobre as incríveis possibilidades que permitem um controle da complexidade da forma, resultando em geometrias œnicas, através dos computadores e softwares é possível reinserir o arquiteto à sua função como agente decisivo na definição real das qualidades do projeto.

Este Trabalho Final de Graduação se propõe a discutir a importância e potencial da revolução digital na produção arquitetônica atual e futura. Esta arquitetura, estruturada a partir de um novo processo de projeto, que se apoia em novas tecnologias e é capaz de produzir objetos com alto nível de complexidade, só pode existir concretamente mediante a disponibilidade de tecnologias de fabricação, cujo desenvolvimento e, principalmente, disseminação ainda apresentam grande oportunidade de melhoria.

A tecnologia disponibilizou ao longo de sua evolução um novo ferramental de criação de projetos e construção. Este, por sua vez, permite que tornemos realidade projetos até então não exequíveis.

Para disseminação destas novas ferramentas se faz necessário uma nova forma de ensinar e aprender. Portanto, as universidades precisarão readequar seus espaços e práticas de ensino, para que formem profissionais com conhecimentos suficientes para julgarem por si próprios a aplicabilidade destas ferramentas, e a melhor forma de encaixá-las em suas práticas profissionais.

"Muito do mundo material atual, de simples produtos a aviões, é criado e produzido usando um processo no qual o projeto, a análise, a representação, fabricação e montagem estão se tornando um processo colaborativo contínuo que é exclusivamente dependente das tecnologias digitais - Uma continuação digital de projeto até produção." (KOLAREVIC, 2003)

Tendo em vista este cenário, e analisadas as estruturas da faculdade de arquitetura e urbanismo da USP, considerando o edifício Vilanova Artigas e o LAME anexo, foi identificada a oportunidade de se explorar um programa arquitetônico para um novo espaço de aprendizado, o qual seria dedicado exclusivamente ao ensino e prática das tecnologias digitais de projeto e fabricação.

Utilizando-se apenas ferramentas digitais de projeto, e prevendo-se uma construção através de ferramentas de fabricação digital, foi desenvolvida uma proposta de um novo edifício, o qual conectaria fisicamente o andar das máquinas do LAME ao andar das salas de aula no edifício Vilanova Artigas.

Este seria composto por salas de aula e espaços de trabalho, além de acomodar uma área destinada às máquinas de fabricação digital.

O partido arquitetônico escolhido - tecnológico, de linguagem orgânica, de forma a permitir a exploração das ferramentas digitais - direcionou o projeto para uma grande cobertura de formatos curvos. Parte de sua estrutura, feita em concreto com painéis de dupla curvatura, foi criada para apresentar um desafio de construção a ser simulado. Ë fachada, por sua vez, foram estipulados alguns pré-requisitos. Esta deveria ser ambientalmente responsável, e responsiva, composta por sistemas possivelmente eletromecânicos que interagissem com o meio externo.

Para tal, foi proposta uma fachada composta por painéis triangulares, os quais estariam dispostos dentro de hexágonos, criados a partir das superfícies curvas de base. Para cada hexágono existiria um sensor, ora de luz, ora de presença, que traduziria informações do meio externo em movimento da fachada.

Após desenhada e simulada a proposta, foram criados protótipos, utilizando ferramentas como arduino e máquinas FDM e CNC, através dos quais foi possível simular o processo construtivo, comprovando as possibilidades reais, já existentes no momento presente, de se projetar e construir através de ferramentas digitais.

Espera-se através deste exercício se comprovar a necessidade de ampliar o estudo das ferramentas digitais, suas aplicações possíveis atuais, e fornecer subsidios para que o mercado da construção civil explore com mais liberdade opções não antes disponíveis.

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