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secao 4!

Metropolitano, São Paulo.

[hipótese de ampliação do metrô]

Bruno Eduardo Nakaguma Gondo

Klara Kaiser Mori

A revisão integral do sistema metropolitano de transportes, trata de uma das operações essenciais à possibilidade de assegurar a liberdade e dar suporte à imprevisibilidade da vida. Ampara-se no desejo de transformar as condições cotidianas estanques da população, o que requer construir uma cidade que se afasta cada vez mais daquela em que vivemos.

O ensaio a seguir, tem como objetivo contribuir com o lançamento de uma hipótese de reorganização estrutural de São Paulo, apresentando um breve recorte propositivo sobre a ampliação de sua rede metroviária.

Em pouco mais de um século, o processo de formação do espaço metropolitano de São Paulo teve invariavelmente em sua matriz a submissão incondicional à imposição do imediatismo. O reflexo morfológico e institucional deste processo se revela cotidianamente através do agravamento desenfreado dos entraves impostos pela debilidade das infraestruturas metropolitanas de produção.

Compromete-se paulatinamente qualquer perspectiva relevante de crescimento econômico ou de transformação social, já que a intensificação dos desarranjos e disparidades regionais amplifica o entrave das funções urbanas essenciais da metrópole. Fica anunciada neste sentido, a opção histórica pela reprodução da precariedade e da escassez, o que esclarece em termos, a origem da plena inaptidão em superar o setorialismo das operações que incidem na produção do espaço metropolitano.

Nos acostumamos a achar normal adotar uma lógica fragmentada na construção do território de São Paulo: em resposta ao trânsito, avenidas; em resposta às enchentes, piscinões; em resposta ao descarte, lixões; e assim por diante. Em meio à desarticulação, a população se limita a [sobre]viver. Não é exagero apontar que a fragmentação e desestruturação do suporte físico metropolitano de São Paulo se devem fundamentalmente à reprodução exaustiva de políticas setoriais que expressam a profunda incompreensão do potencial transformador inerente às operações de implantação de infraestruturas.

Neste contexto, a implantação de uma linha de alta capacidade isolada e ensimesmada, pode tanto contribuir na formação do espaço urbano como também, trabalhar no sentido contrário, potencializando o estrago que pretendia rever.

Aquilo que parece surgir como essencial é a nitidez das conjecturas com as quais se trabalha, e em última instância, dos objetivos pretendidos: ampliar a oferta global de transporte de passageiros e equilibrar sua distribuição territorial com o intuito de balizar uma reorganização estrutural do espaço urbanizado da Região Metropolitana de São Paulo.

O que fica evidente, é que o aproveitamento pleno do potencial das infraestruturas de transporte está condicionado primordialmente à sua provisão conjugada a outros programas e operações, como o adensamento de moradia, de equipamentos de educação, saúde, serviços, comércio e lazer. O objetivo final desta articulação é devolver à população os ganhos decorrentes da transformação físico-social dos altos investimentos realizados.

Fica definida a conjunção entre duas escalas de intervenção que nunca se uniram plenamente em São Paulo. O sistema de transporte abrangente e concebido plenamente como rede, assegura a redução das disparidades de acessibilidade e mobilidade metropolitana. As estações, devem intermediar a articulação entre a rede e o tecido urbano, catalisar a reestruturação do lugar e reverter a segregação das atividades urbanas.

É comum às duas escalas a perspectiva de transformação do tecido urbano, que permita simultaneamente fortalecer os vetores existentes e criar continuidades e articulações espaciais novas que, em última instância, assegurem a liberdade e amparem a imprevisibilidade da vida. Trata-se afinal, de uma hipótese de mudança nas condições cotidianas definida pelo lançamento de uma visão da cidade pretendida.

É essencial que a proposta de ampliação da rede estrutural de alta capacidade sobre a qual este trabalho se debruça estabeleça a amarração imprescindível entre o âmbito econômico e a gestão técnica da metrópole. Neste estudo, a gestão técnica da metrópole é entendida como o processo de sucessiva aproximação a padrões de funcionamento desejados. E é precisamente a partir destes padrões que se equaliza o conjunto de soluções técnicas compatíveis com a dimensão das intervenções e a intensidade dos investimentos.

Um ponto importante a ser destacado na elaboração deste estudo é o reconhecimento da enorme complexidade técnica inerente ao planejamento de infraestruturas de transportes. Não existe aqui a pretensão de reproduzir a completude de um trabalho de engenharia de transportes profissional, que é realizado em um contexto multidisciplinar, demanda muito mais tempo e faz uso de metodologias e instrumentos técnicos específicos.

O estudo pretende, no entanto, contribuir para a reflexão sobre a formação do suporte técnico na qual a produção de infraestrutura seja reconhecida de fato, como catalizadora fundamental à organização, qualificação e transformação social e espacial que pretendemos alcançar. É preciso reverter o modelo de construção de infraestrutura que se limita tão-só a remediar as falências consolidadas, em uma corrida invariavelmente defasada e sem fim atrás do prejuízo.

Até que esta reversão não se dê, será invariavelmente mantida a segregação das atividades urbanas na Região Metropolitana de São Paulo.

A decantação dos apontamentos iniciais em consonância com a dimensão da intervenção fixada, baliza a proposição de um sistema de transporte hierarquizado, estruturado pela espinha dorsal formada pelos modos de alta capacidade que ampare os grandes deslocamentos metropolitanos e se articule simbioticamente aos outros modos de menor capacidade e maior vascularidade no tecido urbano.

O traçado preliminar da rede metroviária é composto por 11 linhas que somadas, correspondem aos 395 quilômetros fixados, pelos quais estão distribuídas 387 estações. A rede proposta realiza 75 integrações de alta capacidade.

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