Empresas do setor de construção civil possuem muitas perdas durante seu processo, gerando grande quantidade de resíduos da construção e demolição. Simultaneamente, há entraves no suprimento de agregados naturais devido ao distanciamento das jazidas em relação aos centros urbanos, o que eleva o valor do transporte frente ao baixo valor agregado do produto. Surge como possível solução para essas questões a utilização de agregados reciclados, que permite o aproveitamento dos resíduos da construção civil (RCD) e a substituição parcial dos agregados naturais. O objetivo deste trabalho é avaliar a reciclagem de RCD do ponto de vista urbano, ambiental e financeiro.
Para as avaliações, foram realizados diversos estudos de caso: três pedreiras, três usinas de reciclagem fixa, uma usina de reciclagem móvel e um consumidor (grande construtora). Esses estudos de caso é que forneceram os dados utilizados, juntamente com revisão bibliográfica.
Do ponto de vista urbano e ambiental, compararam-se as atividades de extração mineral (agregados naturais) com a reciclagem móvel e fixa (agregados reciclados). Estudaram-se os impactos ambientais decorrentes de cada atividade e aprofundou-se a comparação nos impactos relacionados ao tráfego de veículos de carga e das emissões de CO2.
Os impactos ambientais mais significativos em ambos os tipos de atividade são os decorrentes do transporte: alteração das condições climáticas devido ao CO2 emitido e sobrecarga da infraestrutura viária.Os impactos exclusivos da mineração são: a interferência em áreas de preservação permanente, o esgotamento de recursos não-renováveis e a geração de áreas degradadas. A geração e deposição de RCD, por sua vez, também causam impactos, e a sua reciclagem ajuda a minimizá-los. A disposição ilegal de RCD gera proliferação de vetores (ratos, insetos, etc.) e contribui para o esgotamento dos aterros de inertes.
Como a questão do transporte de carga e das distâncias percorridas é crítica tanto na mineração como nas usinas de reciclagem, estudou-se seus distanciamentos médios. As pedreiras distam, em média, 30 km do centro geométrico da RMSP; os portos de areia distam 89 km e as usinas de reciclagem fixas distam, em média, 19 km. Assim, o tipo de indústria que menos gera impactos relacionados ao transporte é a reciclagem.
Realizaram-se ainda estudos de caso que apontam que a reciclagem móvel gera agregados que, em 2/3 das vezes, são consumidos no próprio local onde foi gerado. Assim, as distâncias são ainda menos significativas nesta modalidade de reciclagem.
Comparou-se a eficiência entre mineração de rocha e reciclagem do ponto de vista de área necessária para a produção de uma mesma quantidade de agregado. Constatou-se que as pedreiras estudadas utilizam de 2,9 a 3,7 m² de área para a produção de 1m³ de agregado ao mês. As usinas fixas, por sua vez, obtiveram índices entre 1,2 e 1,4 m² de área/ m³ de agregado produzido ao mês.
A emissão de CO2 é um aspecto ambiental crítico tanto para as atividades de mineração quanto para a reciclagem de resíduos. É também um índice internacionalmente adotado para a comparação de atividades e processos, além se serem umas das categorias de impactos mais facilmente quantificáveis.
As emissões de CO2 foram calculadas segmentando as atividades em produção e transporte. As emissões relacionadas à produção foram dividas nas relacionadas ao sistema de britagem e às relacionadas aos outros equipamentos. Pedreiras tem transporte significativo de agregados dentro da própria planta, da mina até o beneficiamento. Este transporte foi contabilizado dentro das emissões da produção (outros equipamentos).
O modelo de cálculo das emissões de CO2 foi feito com base no Greenhouse Gas Protocol (GHG) e levantou os equipamentos, sua produtividade e a quantidade produzida em cada estudo de caso. Assim chegou-se ao volume de diesel à potência elétrica consumidos. Tendo o consumo energético de cada estudo de caso, este foi convertido em CO2 por meio dos índices do IPEA (2011): 3,2 kg de CO2/l diesel e 0,087 kg CO2/ kWh. Assim, chegou-se às emissões unitárias para cada empresa estudada.
Verificou-se que as pedreiras emitem mais que as usinas fixas e móveis principalmente devido a seu transporte e outras atividades auxiliares, à diesel, como a decapagem e abertura de novos acessos às minas. As usinas móveis são as que menos emitem CO2, principalmente por seu transporte ser o menor, compensando, inclusive, as emissões de seu britador, que é a diesel (os outros são elétricos).
A análise financeira da reciclagem foi feita através da qualidade do investimento a partir de um protótipo aplicado para os cenários de usinas fixa e móvel, com e sem financiamento, com uma análise probabilística de intervalo de confiança de 90%. Dentro de todos esses cenários o empreendimento se mostrou viável e rentável, apesar dos diferentes investimentos iniciais necessários em cada caso.
Na análise da qualidade do investimento também foi feita uma análise da distância usina/consumidor em comparação com a distância pedreira/consumidor. Assim buscou-se avaliar o impacto da distância no preço final para o cliente e também até que distâncias é possível trabalhar com agregados reciclados de forma competitiva com os agregados naturais.
Os resultados obtidos apontam a menor agressão da reciclagem ao meio ambiente urbano, inclusive em termos de emissões de CO2, bem como a possibilidade de obter-se resultados satisfatórios no investimento financeiro em usinas de reciclagem.