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secao 4!

Eixo Tamanduateí:

leituras de um espaço fragmentado

Isabella Maria Davenis Armentano

Eugenio Fernandes Queiroga

A importância que tem o arquiteto urbanista em seu papel de deixar de conceber a cidade somente em termos de modelos teóricos e de questões funcionais - ignorando a complexidade do fato urbano e a superposição de subsistemas - somada ao principal entusiasmo da autora quanto a influência que tem a arquitetura no cotidiano de um ou mais indivíduos formam as bases deste trabalho.

Esse interesse em se estudar a percepção de quem vive/anima/habita o espaço esteve presente na Iniciação Científica realizada pela autora no último ano, a respeito da percepção e representação das cidades contemporâneas. Para análise dessas percepções foi escolhida uma área de aproximação dentro da RMSP: o eixo que o rio Tamanduateí configura nessa região. Em uma das etapas dessa pesquisa, distribuiu-se câmeras descartáveis para alguns indivíduos ao longo desse eixo dando a seguinte questão: "Se você tivesse que descrever a região que trabalha/reside/passa a um amigo, quais imagens você mostraria para eles?"

O intuito maior dessa abordagem era saber qual a percepção que os habitantes da RMSP têm da região, analisando se esses usuários perceberiam e tirariam foto do rio, uma vez que se trata de um usuário para quem o rio está incorporado à paisagem, faz parte dos seus hábitos de leitura visual cotidiana.

Na maioria das fotos, o rio não aparece. Nota-se que é dada uma maior importância aos espaços de uso coletivo, equipamentos públicos, do que para o rio.

Diante do resultado dessa pesquisa escolheu-se o objeto e a área de estudo: a realização de uma proposta de desenho urbano que visa qualificar os espaços públicos, integrando esse rio não só ao espaço físico urbano, como também ao cotidiano da população que reside/trabalha/habita o seu entorno.

No entanto, para se chegar em um desenho, foi definido um recorte nesse eixo metropolitano, escolhendo-se o município de Santo André.

Para o estudo da área foi elaborada uma proposta de leitura do espaço baseada em uma interpretação da tríade lefebvriana a respeito do espaço concebido, espaço percebido, espaço vivido. Ainda assim, propõe-se uma quarta forma de leitura do espaço, uma investigação através do desenho; "um espaço a ser vivido".

Quanto ao "espaço concebido" foram realizadas análises tanto da formação do município - que se deve, principalmente pela instalação da ferrovia ao longo do eixo estudado - quanto do seu Plano Diretor, incluindo todos os processos que a região sofreu para se chegar a atual configuração, processo que possui alta relação com o projeto urbano "Eixo Tamanduatehy" lançado pela prefeitura da década de 90.

O "espaço percebido" refere-se às percepções da autora quanto à área estudada. A região em questão é predominantemente caracterizada como eixo metropolitano de passagem, um reflexo da ausência de espaços de permanência apropriados, relacionados à configuração espacial desse território, marcada por grandes quadras e uma estrutura viária voltada à macro acessibilidade e não à escala local. Além disso, a inflexibilidade e falta de mistura dos usos, acontecimentos, também contribuem para essa questão. A instalação da UFABC nesse eixo em 2010, no entanto, é vista como uma potencialidade para a região, já que pode garantir um maior adensamento dessa região, por configurar um novo vetor, um pólo atrativo de pessoas.

A leitura do "espaço vivido" parte da necessidade de se entender a dimensão urbanística e a escala vivencial do cotidiano dos cidadãos. Para isso, sugere-se uma possível forma de análise baseada no contato com outros indivíduos. A aproximação com o usuário, no entanto, não visa a legitimação do projeto ou torná-lo mais democrático, mas sim a oportunidade de trabalhar com outros interlocutores, aproximando-se mais da região pela ótica de quem a vivencia, garantindo assim, um maior envolvimento com o local. Foram realizadas oficinas tanto na UFABC como na Escola Carlina Caçapava de Mello (com universitários e crianças), adotando-se o método de pesquisa de Kevin Lynch sobre os mapas mentais. Em um segundo momento, propõe-se, nessas oficinas, a realização de um desenho do "rio ideal".

A última categoria de análise não pretende ser uma síntese ou resultado das três primeiras, mas sim, uma nova abordagem de investigação que busca um diálogo com as anteriores através do desenho. Aproximando-se da área mais central do eixo no município de Santo André, delimitada pelas estações de trem Prefeito Saladino e Santo André, propõe-se "um espaço a ser vivido". Um desenho que visa gerar urbanidades, considerando-se a complexidade do fato urbano: o sítio, as águas, a memória, a paisagem, usos, atores imobiliários, etc.

Trazer a cidade até a linha férrea, redimensionar as enormes quadras, criar três principais eixos de transposição da ferrovia, integrando não somente esse elemento como também todos os corpos dÕágua existentes na área ao desenho da cidade, priorizar a escala do pedestre, do cotidiano, em substituição àquela do "passageiro urbano" são algumas das propostas que aparecem nesta etapa do trabalho. Para isso, propõe-se algumas estratégias, diretrizes que aparecem como "ações" a serem implantadas no local: circular, coexistir, redimensionar, integrar, atravessar, abrir.

A última ação proposta - "abrir" - marca a conclusão do trabalho. Encerra-se o trabalho final de graduação com a reflexão daquilo que foi feito: propostas que têm como objetivo criar estratégias que quebrem as barreiras existentes, dando continuidade ao tecido urbano, "abrindo espaço", ou seja, construindo cidade.

Além disso, essa última parte possui o intuito de gerar uma reflexão a respeito do papel do arquiteto diante do movimento gerado por aqueles que habitam o espaço. Abrir espaços às possibilidades é garantir flexibilidade ao território e assegurar complementaridade e diversidade à totalidade urbana. Garantir flexibilidade, uma cidade aberta a novos cenários e apropriações.

"A história é sem-fim, está sempre se refazendo. O que hoje aparece como resultado é também um processo; um resultado hoje é um processo que amanhã vai tornar-se uma outra situação." Milton Santos

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