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secao 4!

Paisagem histórica e espaço livre em Botucatu

Isadora Marchi de Almeida

Fábio Mariz Gonçalves

O projeto aqui apresentado representa um conjunto de propostas relacionadas a meu olhar pessoal sobre Botucatu neste momento. Não se trata, portanto, de uma tentativa fechada de compreensão dos complexos sistemas que regem a vida urbana, mas sim de uma visão que lancei sobre a cidade.

Botucatu, município de cerca de 130.000 habitantes, pertence ao centro-oeste paulista e está localizado a 230kmda capital São Paulo. Sua característica mais marcante é a localização da cidade no topo da cuesta basáltica, conjunto rochoso que faz parte da Serra Geral e possui relevo assimétrico, com uma escarpa e uma descida suave. Por este marco rochoso, os níveis de altitude no município variam de cerca de 450m em relação ao nível do mar até cerca de 900m.

O foco dos estudos aqui realizados é indicar a necessidade de que olhares se voltem para as paisagens históricas e a para as possibilidades sistemáticas que elas oferecem, pois são relevantes para a estruturação da cidade e para a formação social de seus habitantes. A tentativa principal deste trabalho é trazer tais áreas para o cotidiano urbano, a fim de reafirmá-las no imaginário social e na memória individual ou coletiva daquelas que a puderem desfrutar.

As paisagens históricas botucatuenses, representadas por locais e elementos significativos para momentos específicos de desenvolvimento da cidade, são relacionadas à água e ocupação das terras do alto da serra; à terra e desenvolvimento econômico trazido pela cultura cafeeira; à ferrovia e inserção do município no mapa da rede de conexões estaduais e nacionais; e ao ensino e consolidação da cidade como polo de ensino superior e referência regional.

Assim, são organizadas análises e propostas a partir de visões que não são estáticas nem imutáveis, de maneira que o resultado final - o projeto - também não deve sê-lo. O esforço principal do trabalho foi articular os diferentes espaços, temáticas e locais envolvidos, embora existam possibilidades de agir pontualmente e, mesmo a partir de tal simplicidade, gerar ganhos para o reconhecimento de tais áreas. Cabe ressaltar que a criação de um sistema de espaços livres visa fortalecer possíveis relações entre cada área, os períodos históricos e valores intrínsecos a elas, sem perder de vista o potencial individual de cada área.

A elaboração de um sistema de espaços livres visa criar possibilidades para reger e implicar maneiras variadas de aproximação com as paisagens históricas em cada área da cidade. A maior qualidade possível quanto à conceituação deste sistema de espaços livres é a de permitir-se refazer no tempo e no espaço, ser uma crítica de si mesmo construída cotidianamente pelos habitantes da cidade. Ou seja, permitir que da multiplicidade de olhares, surjam múltiplas possibilidades urbanas e sociais.

Atualmente, a percepção dos elementos que um dia foram primordiais para a formação da cidade é pequena. Rios urbanos situam-se enclausurados entre muros e fundos de lote, o potencial cafeeiro foi trocado por culturas de cítricos e cana-de-açúcar, a ferrovia cruza a cidade sem nenhum tipo de benefício direto para a população de Botucatu e nem mesmo para as indústrias locais, e o ensino ainda pertence ao modelo enclausurado dos campi localizados em franjas urbanas de difícil acesso.

O projeto visa apropriar-se das paisagens históricas botucatuenses e os espaços residuais delas resultantes para a criação de sistema de espaços livres com diferentes caráteres ao longo de seu percurso. Estes variados caráteres visam fortalecer diferentes escalas de aproximação entre a população e os novos espaços da paisagem histórica botucatuense, auxiliando sua inserção no cotidiano urbano.

Assim, a área de projeto delimitada procura estabelecer espaços de exceção dentro da cidade que sejam capazes de reforçar ligações entre diferentes momentos históricos e paisagens deles resultantes. O tratamento desta grande área com princípios que diferem daqueles aplicados comumente na cidade visa possibilitar a criação de novas relações urbanas e de mobilidade.

O objetivo principal do projeto é pensar os novos espaços da paisagem histórica botucatuense a partir de continuidades urbanas, sejam estas pautadas pelos desafios de transposição dos vales, sejam pela costura do tecido urbano sobre a grande cicatriz que corta a cidade de leste a oeste, por onde passam a ferrovia e os vales dos ribeirões Lavapés e Água Fria, sejam pela possibilidade de apreender os vales históricos ao longo dos rios urbanos.

A criação de nova malha sobre o vazio urbano principal dentro do perímetro urbano - soma das orlas ferroviária e fluvial –é ferramenta de valorização do vazio como componente da estrutura urbana, e não tentativa de perder sua leitura contínua. Esta nova percepção dos valores do vazio se dá por sua inserção no cotidiano da cidade, podendo criar diferentes ambientes ao longo do vale, de acordo com as necessidades e o caráter da vizinhança.

Este trabalho procura entender de que maneira o vazio, elemento também responsável historicamente pela formação das manchas urbanas ao seu redor, pode ser agora visto como suporte de valorização e estruturação da cidade. O sistema de espaços livres pode repensar a mobilidade urbana, a relação entre habitantes de Botucatu e elementos históricos que ainda marcam a paisagem da cidade, o ensino e a atmosfera universitária como participantes ativos da cidade fora dos muros do campus e um novo entendimento urbano geral que beneficie a população em diversos momentos e escalas.

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