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secao 4!

Visões de cidade

Luís Fernando Zanagari Tavares

Marta Vieira Bogéa

O trabalho iniciou-se com uma busca pelos significa-dos contidos na ideia de cidade.

Analisa-se que, na verdade, existem infinitas formas de manifestação de cidade, mas que, no sentido maior, derivam de uma raiz contida no intercâmbio e na troca, no atrito entre diferentes agentes que convivem no mesmo espaço: quando dois caminhos se cruzam.

Para Michel Sorkin essa energia do contato, o calor, é capaz de definir perímetros de urbanidade: “Evidentemente, esta idea de encuentro constante produce de um modo inevitable la friccíon, el simple resultado de roce entre los sujetos. [...] Esta friccíon, mediante la señalización de la diferencia, situa los limites internos de la ciudad así como sus fuentes potenciales de conflito.”.

Ao mesmo tempo, propunha-se questionar as condições presentes e ausentes de cidade na metrópole de São Paulo: se ainda há condições espaciais que sustentem o comércio de ideias, culturas, diversidades.

No entanto, por esse mesmo motivo amplo, o desejo de realizar uma proposta de projeto provocativa/reflexiva que tratasse a cidade de São Paulo como um todo tornou-se genérica e, portanto, pouco objetiva, uma vez considerada sua grande escala de intervenção, já que qualquer regra imposta não consideraria a escala e os valores específicos de cada lugar. Uma provocação em escala metropolitana envolvendo a ideia primeira de cidade tornava-se, então, uma utopia.

A proposta foi reduzir a escala: detive meu olhar sobre a ideia de trabalhar percursos na cidade, acreditando ser esse um dos caminhos necessários para atingir urbanidades. Trabalhar exatamente a escala humana e sua relação com os espaços urbanos da cidade poderia ser determinante para o real convívio de seus habitantes, portanto um caminho para o caráter que o trabalho propõe.

Ao mesmo tempo, São Paulo apresenta-se como uma constelação de pontos de interesse, destinos de seus moradores; e o espaço restante, o espaço entre, mantém-se obscurecido, desapropriado e indiferenciado: o deslocamento dos seus milhões de habitantes todos os dias entre a casa e o trabalho, por exemplo, é um deslocamento no tempo e não mais no espaço, que poderia sediar tais manifestações de cidadania. De uma maneira geral, a cultura desta cidade nos impõe reconhecer as distâncias pelo tempo entre elas, antes um reconhecimento da geografia que se percorre, distâncias físicas, suas paisagens: o espaço urbano. A cidade torna-se simples origem- destino.

Nesse sentido, se mostrou oportuno trabalhar dispositivos que pudessem ser contribuidores de urbanidade e cidadania, estabelecendo lugares físicos de associação entre cidadãos, que caracteriza a vida urbana.

No entanto, a primeira questão foi, então, como projetar de fato um percurso numa paisagem urbana já existente? Eles já se encontram naturalmente pela cidade, uma vez que são resultado direto do ato de construir: são os espaços resultantes dos volumes edificados, que, às vezes, penetram seus térreos. Um caminho seria em vez de projetá-los, qualificar e revelar eles.

Estabelecer remansos em seus cursos, onde haja espaço e qualidades para inverter o ritmo incessante de São Paulo, que sejam reconhecidos como espaço de permanência e encontro, interferindo naquela vivência de constelação da cidade.

Associar tais pausas oportunas à visualidades da própria cidade, iluminando significados antes encobertos, a partir de enquadramentos visuais que pudessem dar perspectiva à interpretação da paisagem como representação diária da cultura de uma sociedade e, portanto, de sua própria identidade, conferindo a noção de lugar a esse território.

Aquela primeira pergunta sobre os significados da cidade seria então desenvolvida sobre compreensões particulares de quem a usa, como num exercício de leitura de uma narrativa coletiva no qual cada um é remetido a seu próprio repertório de imagens de vivências anteriores que constitui a memória.

Nessa fase, o trabalho buscou perceber as imagens da ideia de cidade compreendida na sua paisagem, sobretudo sobre as leituras do geógrafo Milton Santos e de Maria Angela Faggin, acreditando na sua potência comunicativa. Importante nesse período foi também ter participado do Seminário Espaços Narrados quando o objetivo deste trabalho (estabelecer mediações) se tornou mais claro.

Nesse momento, iniciei um processo de descoberta de pontos interessantes onde poderia se desenvolver a proposta no centro antigo da cidade, definido anteriormente como campo de atuação da pesquisa.

Vale ressaltar que, seguindo a lógica construída anteriormente, a região de intervenção escolhida pouco é exclusiva de recebimento da intervenção, uma vez que ela se aplica a qualquer contexto, sendo que o que varia são os significados de cada trecho de paisagem.

Meu processo investigativo desse lugar deu-se a partir da minha própria experiência física com ele, uma vez que busquei espaços significativos, espaços entre edifícios, proporções, luzes, miradas importantes, contextos, caminhando sem um trajeto definido anteriormente, apenas considerei investigar a região entre os Viadutos do Chá, Santa Ifigênia e a rua da Boa Vista. Andei em deriva pela região por cinco vezes até encontrar material suficiente para propor intervenções, buscando superar aquela perda de valores espaciais, elementos narrativos, que chamei de Constelação. Desses percursos apresento um diário de cada um.

Posteriormente, ensaiei três propostas de intervenção que materializassem o tema de pesquisa: na rua Libero Badaró, no Largo do Café e na rua 3 de Dezembro. Desse modo, estruturei o trabalho em quatro capítulos.

São eles: A Idéia de Cidade Contida na Paisagem, onde coloco que as trocas e intercâmbio que constroem cidade, espacialidades, narrativas permanecem materializadas na paisagem; Constelações, onde abro o meu diário; Atlas, onde apresento a coleção do imaginário dessa pesquisa e Pontos de Vista, quando ensaio projetos que dessem legibilidade à paisagem a partir da minha experiência e imaginário.

O trabalho encontra-se completo no link: http://issuu.com/luisfernandotavares/docs/tfg_issu

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