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secao 4!

Sobre projeto e cidade:

espaços públicos e território urbano

Marcela Alonso Ferreira

Alexandre Carlos Penha Delijaicov

O trabalho investiga, no âmbito da discussão sobre o papel da arquitetura na condição urbana contemporânea, as potencialidades dos espaços públicos na transformação do território urbano. A investigação estrutura-se em quatro capítulos: “Substrato”, “Aproximações”, “Ensaios” e “Hipóteses”.

1. Substrato: O capítulo introduz o panorama no qual se insere o trabalho. São feitas “observações” sobre a graduação na FAU USP que estimulam entender o trabalho como um híbrido de arquitetura E urbanismo, teoria E prática e, ao mesmo tempo, dedicado a uma situação particular E uma discussão global. A “observação” sobre a graduação na FAU USP aponta para o “impasse” vivido pela arquitetura e urbanismo, pouco influentes nas transformações urbanas recentes. Ainda que os novos problemas colocados hoje sejam mais abordados, ao que parece não se construiu uma outra forma de pensar a arquitetura na condição urbana contemporânea no Brasil.

Sendo uma questão em debate e formulação, cabe pensar como os trabalhos acadêmicos poderiam discuti-la. Aqui aproveita-se da especificidade do TFG para uma proposição “meta-projetual” – os projetos elaborados são a base para uma reflexão à luz das questões contemporâneas da disciplina.

2. Aproximações: A área de estudo, o Carmo no Centro de São Paulo, é abordada conceitual, analítica e propositivamente. A primeira consiste na apropriação do conceito de “território usado” de Milton Santos como referência a intervenções urbanas, as quais acredita-se, devem ser pensadas “territorialmente” – o que implicaria considerar aspectos físicos e também sociais.

A aproximação analítica é feita por uma leitura urbana, envolvendo transformações históricas e a situação atual. Cartografias divididas em três séries temáticas, complementam essa leitura. Em “Histórico” são comparadas cartografias de diferentes períodos e analisadas as transformações. Nas “Transições” analisou-se a ocupação e o relevo. Nos “Acontecimentos”, foram mapeados espaços e edifícios públicos que compõem a esfera pública do bairro.

As “Aproximações” se concluem com uma proposição, de quatro ações em duas chaves de abordagem. A primeira chave “Infraestrutura e tecido urbano: barreiras” discute a implantação de sistemas infraestruturais sobre o espaço urbano sem a devida articulação com a escala local. A segunda chave “Geografia e morfologia urbana: espaços residuais” aborda os resquícios de uma ocupação alheia à geografia, e se utiliza desses espaços residuais como articuladores do território urbano.

3. Ensaios: Dentre as duas chaves propostas, optou-se pela segunda chave para ser desenvolvida no trabalho.

O primeiro ensaio, a “Infiltração na Rua Tabatinguera”, reconsidera a encosta sudeste da colina histórica, hoje enclausurada entre as edificações voltadas à Rua Tabatinguera, na cota superior, e à Rua Oscar Cintra Gordinho, na cota inferior. A proposta, uma situação “corriqueira” de encostas em áreas consolidadas, cria infiltrações em meio às edificações existentes conectando os dois níveis. São propostos elementos de transposição vertical acompanhados de pequenos equipamentos públicos, que transformam essas descidas em pontos de referência e encontro. As descidas são feitas junto a duplas de programas (casa de cultura e centro comunitário; biblioteca e creche; restaurante-escola e telecentro). Sugere-se também o uso comercial nos térreos dos edifícios, como já existe em alguns, e a abertura dos fundos desses lotes, para o que poderia vir a ser um quintal coletivo.

O segundo ensaio, uma situação excepcional de encontro entre a colina histórica e a várzea, se apropria do terreno em desnível do estacionamento da Secretaria da Fazenda, e propõe o “desdobramento” da Praça do Carmo em terraços, até a cota da várzea. São três os níveis, condicionados pelo viaduto do metrô: o mirante, a “rua-praça” e a praça de equipamentos, para a qual voltam-se os programas instalados no espaço intermediário entre essa cota e a anterior. Esse miolo divide-se entre a creche da Secretaria, e a escola de circo proposta como programa social e como ativador do espaço público. A conexão vertical é feita por uma galeria de circulação, que dá acesso também ao estacionamento, nos dois subsolos.

4. Hipóteses: A conclusão do trabalho – também entendida como sua abertura – coloca, a partir dos ensaios elaborados algumas hipóteses.

Uma delas, seria a de pensar os espaços públicos como uma possibilidade projetual, diante das dinâmicas da cidade contemporânea, entendendo que seria possível transformar o território urbano a partir do espaço público, sem necessariamente acrescentar novos objetos à paisagem. Essa hipótese é entendida por duas condições uma interna e outra externa, que remetem ao conceito de território usado: a primeira seria a do espaço público como suporte à articulação social. E a segunda seria a possibilidade de através do espaço publico transformar a paisagem existente, criando hierarquias e referências que conferem legibilidade ao espaço construído.

A segunda hipótese seria então a de pensar o projeto arquitetônico como operação – uma ação projetual ou um conjunto de ações que tem como objetivo produzir uma determinada transformação. Essa operação é entendida como um primeiro gesto, que vem antes do projeto arquitetônico propriamente dito. Ou seja a operação não tem uma forma previamente definida, mas consiste numa estratégia espacial antes dessa forma. O interesse particular em pensar o projeto como operação é o de poder ser considerado como um raciocínio sistêmico, que poderia ser assim aplicado numa escala maior.

A terceira ideia é a de que a arquitetura seja pensada enquanto relação, isto é, que a arquitetura poderia transformar o contexto no qual se insere. A arquitetura entendida como relação seria a “ponte” (Heidegger), que para além de cumprir sua tarefa de possibilitar a travessia, transforma a situação em que se insere, criando o lugar nas margens. O que significa também que talvez não seja necessário que o projeto se estenda às margens, ele poderia acontecer num lugar onde se identifica o potencial para se criar uma “ponte”.

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