O foco deste trabalho foi explorar de forma experimental as possibilidades dos meios influenciarem diretamente a linguagem do design gráfico.
Quando o design se utiliza das possibilidades máximas das técnicas, elas consequentemente contribuem de forma expressiva na linguagem do trabalho gráfico. O entendimento de que as limitações podem ser exploradas como possibilidades, assim como em diversas áreas da cultura humana, exerce um grande papel na evolução estética do design.
A técnica escolhida para a execução do trabalho foi a da gravura em relevo. A gravura em relevo é uma das mais antigas técnicas de impressão registradas. A técnica de impressão com carimbos, cujos primeiros indícios datam de alguns milênios a.C., nada mais é do que o princípio da gravura em relevo, onde o topo da matriz é impresso.
É típico da gravura em relevo seu caráter gráfico e expressivo, que vem dos contrastes entre as áreas negativas da matriz, que ao serem excluídas formam o vazio do meio impresso, e as áreas positivas, que são deliberadamente deixadas para que sejam entintadas, criando assim a imagem.
Desse caráter direto e simplicidade resultam imagens fortes, enérgicas e algumas vezes bruscas. Ainda que seja possível se produzir imagens detalhadas e minuciosas com essa técnica, trabalhando com grandes formatos e com o uso de ferramentas especiais pode-se gravar detalhes de forma mais delicada e sutil, essa não é uma característica própria da natureza essencial dessa mídia.
O jogo de contrastes é a natureza fundamental da gravura em relevo. E neste trabalho procurou-se justamente investigar essas dicotomias – o fundo e a figura, o controle e o acidente, o espontâneo e o deliberado.
Apesar dessa técnica já ter sido por muito tempo utilizada como método de impressão em maiores escalas, desde a ampla difusão da impressora de tipos móveis de Guttenberg até os dias de hoje, não há sentido em se querer produzir em massa peças gráficas com a gravura em relevo e não é isso que se busca neste trabalho. O que serviu de grande motivação para o seu desenvolvimento foi o resgate estético das técnicas manuais. A intenção foi explorar a relação entre o design gráfico e a técnica manual, trabalhando nos dois lados do processo – conceito e impressão – de maneira não-linear, procurando dentro de um caráter extremamente experimental, compreender a relação estética que existe entre a mídia e a linguagem.
O material escolhido para a matriz foi a borracha sintética.
A borracha tem um desempenho muito semelhante ao linóleo – material mais conhecido para a confecção de gravuras – tanto na gravação da matriz quanto na impressão, nota-se apenas uma diferença maior com relação à gravação pois a borracha é um pouco mais resistente ao corte que o linóleo. A borracha, no entanto, é uma opção mais econômica encontrada no mercado brasileiro.
Para a gravação das matrizes foram utilizadas goivas e formões de diversos formatos, as mais amplamente usadas foram as goivas com formato em U e V, e também estiletes.
Todas as tintas aplicadas têm fórmula à base d’água. São tintas mais fáceis de trabalhar, pela facilidade de limpeza e por não terem odor, ao contrário das tintas com base oleosa. No entanto elas são mais sensíveis às condições ambientes, como temperatura e umidade, que frequentemente alteram a viscosidade da tinta, algumas vezes dificultando o entintamento das matrizes e a impressão.
Rolos de borracha com 10 cm de largura foram utilizados para entintar as matrizes.
Uma colher de pau (de arroz, estilo japonesa) foi usada para a impressão, feita sempre manualmente.
Diversos papéis foram empregados. Os testes de impressão eram geralmente feitos em papéis japoneses e as impressões finais em papéis especiais comerciais, todos não-revestidos, porosos e, na maioria das vezes, coloridos.
Papel carbono, caneta permanente, fitas adesivas e outros materiais foram utilizados para transferir o desenho na matriz e/ou desenhar diretamente nela.
1. Conceituação
Essa etapa variou para cada uma das imagens desenvolvidas. Algumas vezes envolveu fotografias próprias, outras iniciavam com uma pesquisa de imagens em sites e livros, e às vezes partiam de desenhos. As imagens e desenhos eram trabalhados quase sempre em programas gráficos no computador e um projeto inicial da gravura surgia. Estudos de layouts, aplicações tipográficas e cores eram feitos. A composição final das imagens nem sempre era prevista nessa etapa inicial, em alguns casos os testes de impressão indicavam os caminhos a serem seguidos.
2. Gravação da matriz
Depois do projeto traçado, eram gravadas as matrizes. As imagens de cada matriz eram impressas espelhadas e transferidas a ela com papel carbono. As matrizes então eram gravadas com as goivas. A forma como os cortes são feitos na maioria das vezes é planejada, uma vez que existe a possibilidade de que eles se tornem visíveis na impressão.
3. Testes de impressão
Na maioria dos casos, testes de impressão eram feitos. Muitas vezes para investigar o resultado da gravação, se as linhas ficaram claras, se ficou muita “sujeira”, como as imagens imprimiam em texturas etc. A “sujeira” se trata das marcas da gravação que às vezes são impressas acidentalmente. O efeito pode ser desejado ou não, dependendo da intenção e de cada imagem, o que as tornam interessantes é que elas identificam o “traço” na gravação, e às vezes essa característica agrega à imagem final.
3a. Refinamento da gravação
Para melhorar alguns aspectos da impressão, algumas vezes são feitos ajustes na gravação das matrizes.
3b. Recomposição das imagens
Em alguns casos, o conceito pensado incialmente foi reformulado depois da impressão-teste. Na maioria das vezes isso se deu porque a imagem impressa trouxe informações estéticas que puderam ser melhor vistas depois de prontas.
4. Impressão final
São definidos os papéis a serem usados e finalmente são impressas as séries de cada imagem. As matrizes são impressas conforme a camada de cores e sobreposições que se deseja criar pois a ordem de impressão influencia no efeito final.