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secao 4!

ARQUITETURA FAVELADA:

redesenho urbano habitacional em heliópolis

Tiago Martinelli Lourenzi

Fabio Mariz Gonçalves

As favelas são muitas vezes comparadas com centros históricos europeus medievais, principalmente italianos e gregos. Apesar de terem origens e contextos totalmente diferentes, as ruelas, as sinuosidades, arquitetura vernacular e formas de apropriação do espaço se tangenciam. As reentrâncias e diversidade de espaço quebra a monotonia desses lugares não planejados e encantam as pessoas que visitam os centros medievais. Entretanto, diferentes destes, nas favelas as qualidades genuínas desaparecem diante da falta gritante de infraestrutura básica e simbolizam a precariedade e miséria.

Sua marcante presença em nossas cidades é um reflexo da desigualdade de nossa sociedade. Enquanto regiões ostentam o luxo, outras evidenciam a precariedade. Paradoxalmente, a cidade formal se caracteriza pela monotonia e provoca o individualismo, enquanto a informal apresenta uma forte rede de inter-relações.

Diante disso, o trabalho fez um levantamento histórico do problema habitacional nacional e propõe um projeto de redesenho na Gleba N de Heliópolis, desenvolvendo uma tipologia de habitação e um desenho urbano que incentivasse à aproximação do morador com os espaços públicos e a apropriação da rua, procurando estimular a interação social através da organização espacial.

A gleba fica junto à Avenida das Juntas Provisórias, avenida de grande fluxo pela ligação com o ABC paulista. Em cada esquina com esta avenida, há a presença de viadutos se unindo com as vias de acesso à Heliópolis.

Primeiro foi trabalhado o desenvolvimento dos edifícios, para conseguir um padrão que levasse ao desenvolvimento na escala da gleba.

Por ser necessária a criação de um grande número de habitações, não seria possível a concepção de projetos particulares com diferentes características. Entretanto, vê-se que a particularidade da moradia leva a um melhor vínculo e cria afeição entre morador-moradia. Com essa limitação de diversidade das habitações, procurou-se um desenho do edifício que propusesse uma variedade no arranjo entre eles, isto é, por mais que se repita o tipo de construção, a ordenação dos edifícios proporcione unicidades de disposição, criando ao morador particularidade e familiaridade com área e não apenas do edifício.

Outro ponto para desenvolvimento das unidades foi a máxima diminuição da distância da porta de acesso da casa com a rua. Foi preciso a verticalização para atender a densidade necessária, porém foi desejada a maior eliminação possível de áreas de circulação comum que tem custo de construção, manutenção e ainda frequentemente se tornam lugares vazios e de pouco uso. Além disso, entende-se que a distância entre a porta da habitação e a rua favorece um desvinculo entre o morador e a mesma e o que se propõe é o oposto, a apropriação da rua, dos espaços comuns, públicos e da cidade. Com isso, chegou-se ao conceito demonstrado na figura 1.

As unidades térreas - vermelha e roxa – são acessadas diretamente pela rua e todas as outras teriam acesso às unidades no primeiro andar, utilizando da escada principal. As unidades amarela e ciano seriam de apenas um pavimento enquanto as outras quatro (verde, azul, rosa e laranja) o morado – a partir do primeiro andar – ao entrar na unidade utiliza sua escada privativa para acessar à unidade duplex.

O edifício foi modulado em 4,5 x 4,5m, o que permite variar a área das unidades. Ele não precisa variar uniformemente na sua modulação, podendo ter cada metade dos blocos em modulações diferentes (fig 1 – direita). Assim, foi desenvolvido três tipos de habitações: para famílias de até duas pessoas (Tipo A), três e quatro (Tipo B) e cinco ou mais (Tipo C). Essa variação de blocos, seguindo um mesmo conceito, ajudou na variação dos arranjos urbanos. Assegurou-se o alinhamento vertical das áreas molhadas, favorecendo a economia do edifício. Os edifícios são feitos por alvenaria estrutural.

A concentração das aberturas em uma fachada possibilitou o espelhamento do edifício e, mantendo os mesmo conceitos, criar um bloco duplo, com quatro unidades sendo acessado pelo térreo e outras quatorze pela escada principal. Assim, o projeto possui dois tipos de edifícios. O simples (fig 2) e o duplo (fig 3).

A variedade dos tamanhos dos blocos e o seu desenho permitiu uma rica variação de arranjos. O projeto urbano utilizou dessa riqueza para que a implantação das habitações criassem praças de convívio, com diversas variedades – tamanhos, retilíneas ou retangulares -, formando também jardins privados para algumas unidades e as vias de acesso. Essa diferenciação das praças foi a unicidade alcançada para criar a particularidade aos moradores, que assim desenvolvem maior vínculo com suas moradias.

Na escala da Gleba, algumas diretrizes foram importantes para o projeto:
- Procurando a interação da gleba com o entorno próximo, foi escolhido uma via de ligação unindo as ruas Pilões e Coronel Silva Castro. Os acessos para o interior da gleba é feita por vias de uso misto, priorizando o uso dos pedestres e com a intenção de sua maior apropriação
- Ainda para melhor vinculo com o entorno, foi criado um eixo de equipamentos (foram respeitado os 5% de área total para equipamentos institucionais) no sentido transversal dessa via. Os equipamentos institucionais escolhidos foram: posto de saúde, creche, jardim de infância e um centro comunitário com área verde de lazer.
- Os viadutos constituem fortes barreiras, por isso em suas esquinas foram criadas escadarias de acesso à gleba com chegada em praças de uso misto.
- Foram implantados pontos comerciais em regiões onde se imaginou mais propenso. Nestes casos, os andares térreos das habitações foram transformados em comércios ou ainda criados andares extras em regiões que o relevo permite, com entrada do edifício realizado na outra cota.
Utilizando a tipologia desenvolvida e as diretrizes urbanas, desenvolveu-se o plano urbano da gleba.

ficha técnica:

Área total: 67.693 m2
Habitações: 1.689 hab.
Habitantes: 5.747 pessoas
Densidade: 848,91 hab/há

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