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secao 4!

Caixas de madeira:

uma exposição de fotografias de arquitetura no centro de São Paulo

Victor Buck

Artur Simões Rozestraten

Este Trabalho Final de Graduação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo é um projeto de exposição de fotografias documentais do acervo Ramos de Azevedo, arquivado na Biblioteca da FAUUSP. A exposição é pensada em duas instituições culturais do centro da cidade de São Paulo: a Casa da Imagem de São Paulo e a Biblioteca Mário de Andrade. O principal propósito desse projeto é apreender a cidade e sua paisagem, por meio de uma exposição que pudesse ativar a memória e a imagem de São Paulo, propondo um percurso pelo centro da cidade.

Localizar-se, e se reconhecer na cidade, é sentir que se faz parte de sua história. Assim parte-se da ideia de reunir imagens documentais, cujo valor histórico é inegável, com a percepção urbana da cidade contemporânea. O projeto expográfico, a curadoria e as manifestações gráficas constituem-se em uma proposição surgida a partir de questionamentos da paisagem urbana e a memória dos espaços.

Essa proposta é continuidade de pesquisa de iniciação científica realizada no ano de 2011, em que se discutiu a relação da fotografia com espaços e arquiteturas da cidade, representados no acervo de fotografias do Escritório Técnico Ramos de Azevedo. Na pesquisa foi feito um recorte, entre os mais de 4000 negativos de vidro, de mais de cem imagens que se referiam ao que veio se chamar de “caixas de madeira”.

“Caixas de madeira” são tapumes em edifícios em construção, durante às décadas de 1920 a 1940, que encobriam todo o volume do edifício, formando um invólucro provisório de madeira do chão do canteiro até o último pavimento. Com imenso valor documental, procurou-se identificar quais eram os edifícios retratados e os motivos do envelopamento por ripas de madeira durante a construção.

Tendo como eixo principal essas “caixas de madeira”, propõe-se neste trabalho montar um percurso específico por essas fotografias, a partir das conclusões da pesquisa de iniciação científica. A este trabalho de seleção e organização das imagens para mostrar o ponto de vista da pesquisa se deu o nome de curadoria.

Dentre as 270 imagens digitalizadas do acervo de mais de 4000 imagens, foram escolhidas 120 fotografias para serem expostas. As fotografias foram divididas em onze seções, a saber: identidade, caixas de madeira, superfícies de madeira, propaganda, canteiro, luzes, paisagem construída, estrutura, fotografia moderna, fotografia como objeto e Light.

A divisão baseia-se nas conclusões da pesquisa realizada sobre esta coleção de imagens. As diversas partes são divididas entre os dois edifícios, a partir de dois eixos expositivos: a imagem e a memória. A compreensão das fotografias do acervo Ramos de Azevedo se dá pela linguagem visual (descritores formais) e pela memória (descritores icônicos), isto é, há o discurso da fotografia como um objeto de linguagem que apreendemos pelos pontos de tomada da fotografia, sobreposições, etc., e há o discurso da fotografia pelos elementos que nela estão representados, como os edifícios que podem ser reconhecidos.

Assim a divisão é entre a imagem (descritores formais) e a memória (descritores icônicos), em que a Casa da Imagem recebe as seções que se referem a memória e identificação dos edifícios, já a Biblioteca Mário de Andrade recebe as seções que se referem à imagem e a forma que ela é composta.

Já quanto a expografia, tem-se como principal escolha do trabalho o local da exposição, dividido em dois espaços do centro da cidade. Propor uma exposição fragmentada é propor duas visitas a dois locais diferentes; sendo esses dois pontos de encontros próximos, é propor um percurso pela cidade. Como o principal objetivo de expor fotografias de arquitetura da primeira metade do século XX seria reconhecer a cidade em que se vive e conhecer seu processo de construção, estimular que visitantes caminhem pela cidade para olhar os edifícios somente reforça a ideia principal.

Foram escolhidos, portanto, a Casa da Imagem de São Paulo e a Biblioteca Mário de Andrade, pois são dois pontos opostos do Viaduto do Chá que finalizam um caminho que passa pela maioria dos edifícios retratados nas fotografias estudadas.

No entanto, possuir dois espaços expositivos cria o problema de falta de unidade entre eles. Como reconhecer que os dois lugares são a mesma exposição? Desse problema posto, surge a proposta de exposição a partir da leitura da arquitetura que a abriga. A resposta para esse questionamento é construída a partir da leitura dos livros No interior do cubo branco: a ideologia do espaço da arte, de Brian O’Doherty, e Estética relacional, de Nicolas Bourriaud, e do artigo de Ulpiano Bezerra de Meneses, Do teatro da memória ao laboratório da História.

A exposição proposta então é entendida como uma exibição de objetos capazes de gerar uma reflexão no visitante, pelo valor documental do acervo que seria democratizado em seu acesso, criando uma consciência histórica a partir dos marcos da paisagem do centro de São Paulo. Para tanto, há a necessidade de ter uma postura crítica perante às fotografias.

Uma exposição crítica que possa contribuir com produção de conhecimento precisaria, assim como para uma pesquisa, apresentar seus objetivos e fontes. Reunir objetos escolhidos para serem expostos é mostrar as relações entre eles, segundo a visão de uma pesquisa, o que constitui por fim o conhecimento a ser construído.

Nesse panorama teórico, chega-se a um partido para o projeto: a expografia deve partir da arquitetura de onde é instalada. Do entendimento da importância em expor um acervo documental (Do teatro da memória ao laboratório da História), conclui-se que os objetos expostos incluem toda a gama capaz de explicitar o ponto de vista da curadoria; da crítica ao espaço da arte (Estética relacional e No interior do cubo branco), conclui-se que a postura crítica da exposição deve gerar novas possibilidades de convívio no interstício social e que a arquitetura não deve ser mascarada pela convenção clássica de exposição moderna.

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