O trabalho foi desenvolvido em parceria com alunos da Faculdade de Engenharia Civil da Escola Politécnica na primeira fase. Nesta foi dedicado de maneira mais intensa na pesquisa da madeira como matéria prima de fonte renovável destinada ao uso estrutural com enfoque nas propriedades do material e a origem e processo, ou seja, desde sua plantação até a fabricação dos subprodutos. Ainda que em grande abundancia no Brasil, a madeira é subutilizada em sistemas rudimentares para a construção civil como em escoramentos ou em formas e caixões perdidos. Ainda nesta fase estudamos sistemas construtivos que utilizam a madeira como material essencial para a estrutura e as produções arquitetônicas que fazem uso dos mesmos.
A evolução tecnológica permitiu que até mesmo madeiras consideradas de qualidade inferior como o Pinus, por exemplo, pudesse ter uso estrutural. Para isso, o material deve ser bem manejado desde a plantação. Uma floresta bem gerida é a base para uma boa madeira. A escolha de boas sementes e o manejo correto das árvores fazendo os devidos desbastes e descartes permite maior produção em volume e também reflete na qualidade da madeira que terá menos nós e apresentará melhor resistência.
O pinus, madeira escolhida para a proposição do trabalho, é muito porosa e considerada fraca, porém esta qualidade permite que os tratamento destinados a proteção a fungos, bactérias e outros organismos xilófagos seja mais eficaz. Com uma plantação considerável no país, o pinus tem rápido desenvolvimento e pode ser aplicado em diversos métodos construtivos. O desempenho da madeira em relação ao fogo é um tema importante tendo em vista os tabus criados entorno deste material em situações de incêndio. A madeira quando combinada com outros materiais e em construções bem executadas tem ótimo desempenho em ocasiões de fogo pois, na primeira fase de desidratação, o material ganha mais resistência e garante mais tempo para a evacuação dos edifícios. Outra preocupação em relação ao material é a troca de calor com o ambiente externo, porém, assim como no caso do fogo, as boas escolhas técnicas e de materiais permitem uma construcao passiva onde o usuário tem controle total da temperatura interna se bem combinadas as proteções externas, aberturas e vedações.
Após essa fase, houve a escolha do sistema construtivo baseada na pesquisa que no meu caso foi o de painéis estruturais em madeira laminada colada cruzada e com isso dei sequencia em um estudo mais profundo desta técnica e de como projetar tendo em vista o sistema escolhido. O sistema é composto por painéis que são fabricados com lamelas de madeira coladas perpendicularmente entre si com resina e estas placas compõe tanto as lajes quanto as paredes internas e externas dos edifícios. Os painéis são fornecidos em diferentes espessuras e com comprimento de 17 metros máximo e 2,95 metros de altura. Eles saem da fábrica cortados com máquinas CNC (Corte Numérico Computadoriza) de acordo com as especificações dos projetos, ou seja, portas e janelas, pórticos, aberturas e shafts são recortados previamente. Sendo assim, a construção é seca e veloz, evitando desperdícios de materiais e com grande precisão.
O projeto proposto foi o de módulos habitacionais para residências multifamiliares com 1, 2 ou 3 quartos que podem ser dispostos de maneiras diferentes dando flexibilidade a modulação. Os apartamentos tem áreas molhadas separadas das servidas como modo de tornar mais eficaz os subsistemas prediais assim como sua manutenção. O módulo é de 1,1 metros e as paredes internas das áreas de quartos e sala podem ser dispostas de maneira independente Todos contam com um pequeno balcão com proteção em painéis de porta camarão com venezianas que permitem total abertura ou fechamento controlando a entrada de iluminação natural e ventilação.
Para dar mais embasamento ao estudo de caso, foi feita também uma proposição de um exoesqueleto misto em concreto e aço para a possibilidade de se construir em maior altura com a mesma técnica sem perda de qualidades como habitabilidade e área interna. Ainda que não fosse o escopo do projeto, não seria possível ignorar a implantação e a relação do edifício proposto com o entorno e, levando em conta o terreno escolhido para a aplicação do estudo de caso, que encontra-se no centro da cidade de São Paulo em uma região de ZEIS 3, o mesmo tinha necessidade de contemplar uma densidade elevada. Os módulos foram dispostos sobre uma base de concreto com 3 subsolos para estacionamentos e 4 pavimentos destinados ao comércio, serviços e escritórios com uma praça central de uso público dando ao edifício caráter estruturante e podendo servir como ponto modal pois a área está a poucos metros de uma das saídas do metro Luz. Apoiados em treliças de aço, os pequenos edifícios de madeira tem o acesso através de torres de concreto com escadas e elevadores. No caso deste projeto são 3 pequenos edifícios de madeira apoiados sobre as treliças e trabalhando individualmente. Esta solução permitiu maiores aberturas e espessuras menores para os painéis.
Acredito que a experiência foi muito importante para a minha formação no que tange estudar um material novo e métodos construtivos em um nível maior de detalhamento. Sem perder fundamentos importantes aprendidos no decorrer da minha formação que tem a cidade como material de estudo e proposição, este projeto visa, na escala do edifício, questionar de que maneira é feita a escolha dos métodos e materiais e sua influencia na arquitetura. De maneira crítica, acredito que mesmo contendo detalhes construtivos, esse projeto teria muito que evoluir e ser estudado em suas questões estruturais e materiais, de qualquer maneira, o exercício foi muito válido e enriquecedor.
Edificio de Residencial de Uso Misto
Local São Paulo – Avenida Prestes Maia x Paula Souza x Florencio de Abreu
Área do Terreno – 2450 m2
Área construída – 9730 m2
Área destinada a habitação- 8502m2
Número de pavimentos – 18 – 4 comércio e servicos
12 habitacionais
2 áreas comuns
Trabalho disponível em: http://issuu.com/anapaola7/docs/caderno_final_issuu
