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secao 4!

Arquitetura Deconstrutivista:

Teoria, Projeto e Formas

Bruno Juliani Mentone

José Tavares Correia de Lira

Trabalho de análise da relação entre formulações da filosofia deconstrutivista e a arquitetura de mesmo nome. Para tal foram vistos textos do filósofo Jacques Derrida e produção, tanto teórica quanto projeto, arquitetônica. O rol de arquitetos deconstrutivista foi selecionado a partir de exposição realizada no MoMA em 1988, sob curadoria de Philip Johnson e Mark Wigley.

Jencks e Montaner fornecem algumas características destes arquitetos. Jencks distingue um estilo deconstrutivista, inaugurado por Frank Gehry e uma formulação teórica a partir de Peter Eisenman. Montaner separa dois grupos distintos sob o nome de arquitetura deconstrutivista. Um mais preocupado com o processo, compreendendo neste Eisenman e discipulos. Outro voltado ao traço autoral, aos primeiros desenhos, neste encontraríamos Hadid e semelhantes.

Mark Wigley fornece uma aproximação de como este discurso filosófico pode relacionar-se com a arquitetura. Levanta esta questão como essencialmente de tradução. São a arquitetura e a filosofia, discursos distintos, não estando nenhum acima do outro. Interações entre eles ocorrem de forma horizontal, relacional. Endereça como ilusão de hierarquia entre teoria, filosofia, e prática, arquitetura, o uso desta segunda como metáfora fundamental. Metáfora legitimadora das instituições por representar a solidez, a imagem do edifício: solo estável, fundação, estrutura e ornamento. Esta dá as instituições uma legitimidade universal, escondendo seu caráter de assentada sobre um solo fissurado. Esta instabilidade decorreria das instituições serem construídas a partir de acordos intersubjetivos arbitrários.

Estas condições ressoam junto às duas categorias de Jaques Derrida que aparecem com a arquitetura: o evento e khôra. O evento seria a inauguração de um novo endereçamento no discurso. Derrida caracteriza o evento como indecidível, como momento inaugural não pode haver algo no discurso que já o pré-diga o momento eventual. Neste caso ele perderia sua força. Como já observado com Wigley, há a condição da intersubjetividade. Como estamos dentro de um feixe histórico qualquer mudança não ocorre ex nihil, ela se apóia sob elementos já existentes.

O evento aparece claramente junto ao arquiteto Bernard Tschumi. Este questiona, rompe o binômio, fortemente enraizado na arquitetura desde o movimento moderno, forma/função. O arquiteto define a arquitetura como a relação as vezes harmoniosa, as vezes conflituosa entre espaços e usos. Segrega a forma da função, se a forma é projetada a função, o s usos também. Formula categorias de projeto destes: crossprogramming, transprogramming e disprogramming. Aparecem estas discussões no seu projeto para o parque de La Villette. Este se baseia na sobreposição de três sistemas: as follies, trechos de parques, e a circulação.

Outro conceito de Derrida, khôra, remete a possibilidade do discurso. O filósofo não a define, apenas se aproxima dela por analogias. Sendo ela parte do que permite o discurso ela não pode ser nomeada dentro deste. Derrida a compara a mãe, a ama, a um receptáculo, a Sócrates no discurso de Platão. Ela retoma a condição de intersubjetividade, cedida a palavra o discurso é construído por aqueles que falam a partido do que pode ser endereçado.

Esta segunda categoria aparece no trabalho de Peter Eisenman. Este arquiteto busca destituir a forma arquitetônica de um significado pré-definido. Tendo um momento de instituição do significado da forma arquitetônica, portanto relativizado, ele é questionado. Eisenman defende a questão de que ele é incontrolável. Diferente de regras pré-estabelecidas o significado se constitui a partir da relação entre os diversos elementos envolvidos: sujeito, obra, contexto, etc.

Constituído este repertório puderam ser observados algumas obras de arquitetos ditos deconstrutivistas chegando a relação entre discurso filosófico e discurso arquitetônico até edifícios propriamente ditos.

Observamos de Peter Eisenman sua série de casas. Nelas há o uso do diagrama. Como primeira instancia neste pesquisa sobre a ausência de significado da forma arquitetônica esta ferramenta ganha destaque por sua autonomia em relação a outras formas de representação bidimensional. O projeto para a Cidade da Cultura apresenta um momento de maior maturidade no pensamento do arquiteto onde diagramas, instrumento de elaboração de material de projeto, são sobreposto como em uma montagem. Por fim seu projeto para o Memorial aos Judeus Mortos na Europa, que exemplifica a ausência de significado da forma. O arquiteto mostra um cartaz de um partido político italiano que para referir a cultura judaica vê-se obrigado a sobrepor a estrela de Davi a uma foto do memorial. Portanto a forma por si não remete diretamente a esta cultura.

Passamos a Zaha hadid. Esta diferente do anterior, busca um estilo pessoal, um traço autoral. Se Eisenman trabalha a partir da montagem, de uma composição não-orgânica, Hadid trabalha em uma composição tradicional, orgânica. Seus projetos remetem a uma idéia central. Projeto The Peak e Estação de Bombeiro em Vitra, são exemplos analisados que materializam uma idéia elaborada pela arquiteta em pinturas.

Grupo Coop Himmelblau aparece as mesmas características de Hadid. Como Vidler levanta, o traço deste grupo seria o motivo da asas. Os projetos observados Rooftop Remodeling, Hot Flat e Resort na Montanha Dawang, mostram esta mesma forma em diferentes contextos.

Por último o arquiteto Frank Gehry. Por mais que uma primeira faze sua, do restaurante Kobe, da casa da família, se aproxime das formulações deconstrutivista pela autonomia da forma, apesar de mais concreta do que Eisenman, por exemplo, seu momento recente cristaliza um traço autoral. Tal qual Hadid, produz objetos orgânicos. Desde o Guggenheim em Bilbao um estilo é elaborado pelo arquiteto.

Com isto concluímos que há relação entre a filosofia deconstrutivista e arquitetura. Apesar de não ser com todos os arquitetos que levam este nome, alguns como Eisenman e Tschumi de fato tem relação. Por fim que esta troca se dá também num plano teórico da arquitetura, como Wigley.

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