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secao 4!

Parque Dom Pedro II:

(Re)conhecimento e (Re)conexões

Claudia Freeland Gracia

João Sette Whitaker Ferreira

A disputa do território por diferentes classes sociais durante os anos criou na cidade de São Paulo uma dinâmica social especialmente rica, que mostra uma realidade maior em termos de ocupação urbana do que é possível perceber à primeira vista. Os espaços residuais presentes na região são ocupados por uma população muitas vezes marginal, que, pelo simples conhe-cimento da existência da área enxerga nela uma possibilidade de ocupação e mudança, exercendo atividades que fazem a manutenção de uma cidade informal e que, ao final, acabam agregando valor para a cidade como um todo. Apenas por uma questão de olhar que muda e agrega novos valores à cidade.

Para a maioria das pessoas, as cicatrizes deixadas pelo traçado viário, como viadutos e pontes, ou até mesmo casas antigas, prédios abandonados representam nada mais do que o vazio, parte inerente da paisagem ou uma consequência do processo de urbanização acelerado. No entanto, quando essa perspectiva muda e o olhar toma conhecimento do espaço, surgem possibilidades de ocupação e intervenção não antes pensadas que podem contribuir para o crescimento e enriquecimento da cidade.

O presente trabalho tem como desafio analisar o processo de formação desses espaços ditos “residuais” e também destrinchar suas diferentes abordagens de ocupação, trazendo à luz suas variadas soluções e valores arquitetônicos.

Busca-se compreender (ou re-conhecer) as dinâmicas de transformação espacial nos diferentes âmbitos da cidade que cercam e influenciam os espaços residuais, fazendo uma leitura do ob-jeto em estudo que resulte numa proposição coerente com o ambiente em que se insere, uma vez que acredita-se que a intervenção na cidade existente não pode nunca ser dissociada das características do espaço já construído e dos condicionantes presentes, como desenvolvimento histórico, padrão de ocupação, condicionantes ambientais e dinâmicas sociais que atuam no momento em que se projeta.

Neste caso, o objeto de exercício de projeto escolhido são as áreas residuais e fragmentadas do Parque Dom Pedro II. Inicialmente tinha-se como objetivo conhecer as transformações e principais atores que ditam a maneira de ser do espaço atualmente para, então, elaborar uma proposição seja ela única ou plural, coerente com e que provocasse uma mudança em relação ao “olhar” desse espaço no coração da cidade.

Com a aproximação do objeto de estudos, percebeu-se que o caso do Parque é muito mais do que parece à uma primeira vista. Ao longo da pesquisa feita no segundo semestre, especificamente dentro da esfera de transformações espaciais e políticas urbanas, foi possível perceber que sua atribuição de “resíduo” está enraizada nas políticas de mobilidade urbanas feitas ao longo dos anos. Por isso, viu-se a necessidade de, na proposição final, investigar maneiras de amenizar os efeitos das cicatrizes viárias que hoje impõem sua condição de abandono ao Parque Dom Pedro II, abrindo o espaço para a cidade novamente, convidando à permanência e à novas possibilidades de uso.

A leitura do objeto de estudos feita aqui teve como base a compreensão dos fatores históricos que levaram à condição de resíduo ao Parque Dom Pedro II como um todo, e não apenas às áreas embaixo de seus viadutos, suas cicatrizes do sistema viário. Todo o trabalho de investigação feito teve como objetivo encontrar maneiras simples e baixo orçamento, que poderiam ser viabilizadas facilmente frente à prefeitura da cidade e que agregariam alto valor ao espaço novamente.

Acredita-se que, acima de tudo, existe uma forma de planejamento urbano que é passível de ser realizada sem grandes obras ou a necessidade de alto financiamento por parte da prefeitura. Já foi mostrado anteriormente que todas as tentativas de projetos já feitas para a área tinham o mesmo ponto em comum: intervenções de grande porte, prevendo demolições e outras construções que demandariam invariavelmente uma parceria público-privado. Como também já foi dito, estes tipos de projetos não são realizados justamente porque não existe na região o interesse do mercado em investir e, consequentemente, o interesse do governo também é inexistente.

Por isso, o tipo de intervenção apresentada por este trabalho busca um novo viés de atuação, uma nova forma de fazer planejamento urbano. Busca-se um projeto mais humano, junto ao usuário, entendendo suas necessidades e solucionando-as de maneira simples.

O foco da intervenção é, portanto, reconectar o parque ao resto da cidade, permitindo que ele seja melhor percebido por aqueles que transitam por ele todos os dias, amenizando o sentimento de insegurança que paira pela região nos dias de hoje. A chave do projeto é realmente a reconexão de um espaço de qualidade, porém que não é visto ou usado, que possibiliita o reconhecimento de um espaço verde de qualidade na cidade de São Paulo, abrindo espaço também para o futuro desenvolvimento de diversas outras atividades, capazes de agregar e desenvolver cada vez mais a região da várzea do Carmo.

Quem determina se o espaço cai na categoria de residual é o seu uso, e este trabalho visa exatamente isto: repermitir o uso do Parque Dom Pedro II na sua condição de espaço público através de ações que permitem o descobrimento e a retomada do espaço por parte da população.

O papel da intervenção proposta, neste caso, nada mais é do que possibilitar a mudança do “olhar” de quem passa, (re)conhecendo um espaço antes obscuro, impulsionando a permanência e o uso, recolocando-o nas dinâmicas da cidade urbanizada.

Trabalho disponível em: http://issuu.com/claudiafreeland/docs/tfg_ii_-_publica____o

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