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secao 4!

Veleiros de Oceano no Brasil

História Processos e Tendências

Daniel Bolsoni Castilla

Arthur Hunold Lara

No processo de projetar de um veleiro de cruzeiro, muitas questões contraditórias serão impreterivelmente colocadas à tona. A criação de um desenho de qualquer barco se depara com o constante conflito entre as diferentes áreas de projeto técnico, estético, prático e útil. O que requer do projetista primeiramente sapiência em todos os setores de projeto, como elétrica, hidráulica, mecânica, etc, para que o projeto funcione, como precisa manter a linha de evolução do processo criativo de forma que culmine no layout que converse e corresponda com as necessidades do cliente ou proposta de projeto. Explicando melhor, um projetista que como no caso do trabalho em questão, pretende criar um barco para cruzeiro de família, deve sempre estar em mente este objetivo, que constantemente o fará retrabalhar, redesenhar e até mesmo apagar uma parte do projeto que já estava pronto. Esta imagem retirada do livro Principles of Yacht Design, de Lars Larsson e Rolf E. Eliasson ilustra o método de evolução no projeto de um barco. O próprio autor afirma que em meio destas etapas de construção podem ser adicionados ou subtraídos métodos que a tecnologia trouxe para melhorar o barco, ou para ajudar nos processos de construção e idealização do projeto. Para o caso do veleiro de cruzeiro, fatores como a segurança, durabilidade e conforto são mais relevantes comparados ao processo de idealização de um barco de corrida, que preza mais pela dirigibilidade, praticidade e, obviamente, desempenho. O desenvolvimento do projeto força muitas vezes que o projeto saia do papel para que uma visão mais ampla seja alcançada e que problemas que antes não podiam ser notados, passam a ficar claros. Para tanto, são construídos protótipos, maquetes, (no caso do trabalho, eletrônicas), simulações computadorizadas ou matemáticas a fim de estressar determinado conceito. Como o livro de Larsson e Eliasson são mais técnicos, o desenho do casco foi um dos fatores que mais influenciam na análise de projeto. Porém para o TFG esta área não será considerada, será apenas usado um casco analisado, e com a fórmula proposta ,o layout e os princípios de projeto serão apresentados.

Outro fator a se levar em consideração é o fator de conflito entre as os princípios apresentados. Um barco de cruzeiro e um barco de regatas têm por definição propostas antagônicas. Mais água, equipamento, armários e ferramentas são as primeiras coisas a se prever em um projeto de veleiros para cruzeiro, por outro lado, qualquer excesso nestes itens são imediatamente cortados em um barco para regatas, menos peso significa menos arrasto e menos resistência com a água, resultando em mais velocidade. Obviamente o velejador não vai levar todas as suas louças e suas malas para uma regata curta, mas até onde pode-se aliviar o peso do barco sem grandes esforços? Será possível trazer a proposta de moldabilidade e mutabilidade à bordo?

Obviamente a proposta apresentada não será perfeita em todos os aspectos. Muitas decisões devem ser tomas baseadas no princípio da menor perda. Espaço, estética, praticidade, utilidade, segurança e conforto constantemente se colidem entre os costados, algumas vezes todas ao mesmo tempo, cabe portanto, ao arquiteto, saber ponderar os itens e alinhá-lo da melhor maneira à proposta do projeto. Neste ponto o desenho passa a entrar na segunda camada da espiral. No projeto serão apresentadas as soluções mais pertinentes e algumas das decisões que fizeram o layout ficar com esse aspecto.

É muito importe para criação do projeto se atentar mais aos aspectos arquitetônicos que venham a influenciar a composição do barco, e não confundi-los com características extras que a empresa fornece como “feature” do barco. Por exemplo, um recorte no piso, aproveitando um paiol como uma adega é útil, prático e inteligente, mas a pesar de ser vendido como uma característica do barco, foi um elemento simplesmente adicionado. Um velejador que possua um barco, consegue fazer essa alteração sem grandes problemas. Por outro lado, assim como o barco proposto, colocar duas catracas no deck, uma em cada lado da porta de entrada do barco também é útil, prático e inteligente. Porém algumas voltas na espiral do desenho foram dadas para que este item fosse viável. Levou-se em consideração, o tamanho do banco do deck que foi diminuído para que a fibra fizesse uma plataforma para a instalação do mesmo. A antepara da cabine de popa foi realocada para que a porta quando aberta não batesse no novo dente de fibra criado, a bancada da cozinha precisou ser remodelada para que se adequasse ao novo espaço que a antepara realocada criou, fazendo com que o encanamento tenha que ser repensado para chegar à caixa d’água. Com esse exemplo é possível visualizar como a adição de uma simples comodidade pode acarretar em diversas modificações nos mais diversos âmbitos técnicos, estéticos, espaciais e práticos do projeto. Uma catraca no deck, do lado de fora do barco altera o encanamento da pia para caixa d’água.

Com tantos detalhes e pormenores, é muito comum que o projeto final tenha muitas lacunas e arremates. Pequenas soluções que saltam aos olhos num contexto geral. Uma filosofia interessante empregada no texto e Constantino, já citado inúmeras vezes nesse trabalho, é um lema que se deve ter na hora de projetar, planejar e cuidar do veleiro, trata-se da filosofia KISS
Keep
It
Stupid
Simple
Se a simplicidade é o último grau de sofisticação, está filosofia é essencial para projetar um bom veleiro.

Casco

Como já foi enunciado, as questões matemáticas de hidrodinâmica, arrasto, estabilidade etc não são competência deste trabalho. O casco que foi utilizado para o desenvolvimento do trabalho foi modelado a partir de planos disponibilizados pela RM na internet, colocado em escala no software Rhinoceros e modelado tridimensionalmente. A escolha deste casco segue o princípio que Skane cita para a vela: se funciona, deu certo, use este. Outro fator que trouxe o casco mais para próximo da escolha, foi a proposta inovadora de desenho do casco com diversos vincos, chamados chines. Essa tendência pode ser notada quando se analisa os barcos mas inovadores com os mais tradicionais. Essa comparação pode ser feita pelos barcos já apresentados nesse trabalho, por exemplo, o estaleiro Bavaria, que possui uma linha mais tradicional, com um barco mais pesado, processo construtivo artesanal, e linhas mais clássicas, possui um casco mais arredondado e nem chines. Já o Beneteau, grande investidor em tendências e tecnologia, criou um chine em cada costado. Outras empresas também aderiram ao princípio, inclusive a RM que levou um passo à frente, com diversos chines, as analises feitas para revistas apontam o RM 1260 como um barco veloz, e fácil de navegar, bonito e seguro. Para a proposta isso é suficiente. Junto com a proposta de casco, é importante trazer mais elementos que estão visceralmente conectados a este, tanto estruturalmente como em questões de desempenho e equilíbrio, estes são a quilha e o mastro (conjunto de velas, neste caso sloop). O projeto da empresa RM prevê um opcional de duas quilhas, para aumentar a estabilidade e desempenho do barco. Apesar de ser uma alteração significativa e estrutural, no projeto não tem qualquer influência. Esta alteração é percebida externamente e quando o barco está navegando. Portanto este serve também como opcional na proposta do projeto.

Instalações

Este tipo de informação dificilmente é fornecida quando se pesquisa sobre um barco. Salvo exceções que fogem à curva, o padrão de instalação de água e esgoto costumam seguir um padrão simples. Neste padrão um tanque de água salgada divide as necessidades dos tripulantes com um tanque de água doce. Eles fornecem água para pias, chuveiros e algumas vezes bacias sanitárias. Este último muitas vezes não tem devido ao adernar do barco, neste caso é utilizado soluções por sucção como em aviões e ônibus, em alguns casos, despejados diretamente ao mar. Aqui vale mais uma menção às tendências da vela: os velejadores comumente são apaixonados pela natureza e se preocupam com a interação que eles têm com ela. Hoje já está a disposição soluções menos nocivas ecologicamente para a questão do esgoto à bordo. Alguns barcos guardam seu esgoto para dispensá-lo quando estiver aportado, outros possuem uma cultura de bactérias que reagem com o esgoto consumindo as substancias nocivas ao meio ambiente, preparando-o para voltar para o mar inofensivamente. No projeto foi colocado um tanque com esta função. Trata-se do tanque de popa, na cor azul, que possui 141 l de capacidade. Os tanques no centro do barco são destinados para a água doce, e água servida. A água doce normalmente é abastecida na saída do veleiro para o mar, porém alguns barcos ainda dispõe de um sistema de dessalinização dando uma autonomia de agua doce maior ao barco. Porém um dessalinizador é recomendado para barcos acima de 40 pés, eles são grandes e caros, apesar de ser possível encontrar esses artigos para barcos de menores portes, eles são extremamente raros e com um preço, com trocadilhos, salgado.

A água servida é aquela que saiu da pia, do chuveiro e está aguardando para ser usada na descarga. Como os dois tanques centrais estão próximos eles podem ser divididos e anexados, ou seja como eles tem 290 l e 190 l, pode-se compartilhá-los a se deixar 500 l de água doce e 80 para água servida.

Como é possível de se notar na imagem, os tanques estão sob o piso, o que quer dizer que a não ser que tenha um agente externo a água não sairá pelas torneiras. Portanto a melhor saída é que o sistema de água seja completamente vedado para que possa aplicar uma pressão superior à atmosférica de forma a forçar a água a sair. Esta pressão pode ser feita por bombas ou manualmente. As bombas não são grandes e podem ficar à popa do motor, na oficina. Caso seja optado utilizar esta bomba, ela serviria também para sugar eventuais entradas de água no porão do barco, manualmente ou automaticamente caso seja instalado um sensor.

Anteparas

As anteparas possuem uma parcela importante da responsabilidade estrutural do barco. Além disso, uma antepara estanque garante ao barco mais tempo e chances de aportar em segurança caso uma colisão venha a ocorrer. As anteparas estanque dividem o barco sem comunicação de um lado para o outro. No projeto é possível ver que a proa e a popa possuem uma área de 1,5 m a 2 m que não possuem ligação com o resto da parte interna do barco, o que significa que caso uma colisão de vante ou de ré venha a ocorrer, mesmo com a câmara inundada, o barco tem condições de navegar para segurança antes de afundar. Mesmo com esse espaço isolado, é muito comum tê-lo como compartimento para guardar coisas pertinentes a serem acessadas pela parte externa do barco, como velas, cabos, ancoras, coletes etc.

Piso

A posição do piso é de suma importância para o projeto e extremamente conflitante no quesito desempenho na navegação, conforto e mantimentos. Caso o piso seja alto, os tanques e o espaço de porão ficam maiores, o barco fica mais pesado, porém com maior capacidade de armazenagem. Ao subir o piso o pé direito diminui, tornando o espaço mais apertado, é possível levantar o teto, aumentando o pé direito, porém com essa alteração o centro de gravidade do barco sobe, tornando-o mais instável e de mais difícil navegabilidade.

Um veleiro fica bastante tempo adernado enquanto navega, um obstáculo para quem se locomove de um ambiente para outro. Quanto mais livre e plano o piso for, melhor. Muitos degraus, saliências da estrutura e obstáculos prejudicam a experiência de estar em um veleiro. No projeto foi buscado um piso que mantivesse o equilíbrio entre o pé direito, capacidade de carga, sendo o mais plano possível. Desta forma o único degrau necessário foi o da cabine de popa, um ambiente que não é de circulação e não é usado constantemente.

Deck

Um dos lugares mais utilizados e importantes do veleiro. É de lá que o capitão navega, controla e dá as coordenadas do barco. Um barco moderno, bem equipado e desenhado fornece a possibilidade do barco ser navegado por uma pessoa. Um barco familiar deve possibilitar a interação dos tripulantes sem que atrapalhe quem está no comando. Este barco possui uma boa área de convivência externa com bancos de 1,70 m e uma mesa que projetada para recolher e ficar coplanar ao piso do deck. Sendo assim tem uma boa área livre para circulação quando esta é necessária e um bom ambiente de interação caso queira se servido uma refeição ou utilizar a mesa para qualquer outra finalidade. As soluções de cabos e velas foram trazidas do RM 1260, porém o estudo em campo teve uma conclusão que favorecia a mudança de algumas características do barco. A mais visível sem dúvida é a targa, que integrada à parte superior do convés forma um arco com um trilo de forma que o carro da retranca possa deslizar sem oferecer nenhum perigo àqueles que estão em pé no deck. Muitos velejadores usam uma capa, uma espécie de cobertura para se proteger do sol e do vendo conhecida como dog house ou bimini. A targa, por ser uma estrutura rígida e oca pode comportar a capotaria desarmada e dar estrutura a mesma quando armada.

É facilmente notável a tendência em veleiros recentes para outra área do deck, extrema popa. Uma solução simples, útil e conveniente é o rebatimento do banco do timoneiro e da portinhola de entrada do barco, assim como na figura. O rebatimento aumenta a área do deck e cria um espaço como uma plataforma para nadar, sentar e ficar. Neste projeto é possível rebater apenas a parte central da plataforma para que os bancos do timoneiro seja preservado. Pelo fato da espessura do banco ser maior que a parte central, esse sistema requer dobradiças distintas para que a plataforma fique sem degraus quando baixada. A solução da plataforma de natação está presente na esmagadora maioria dos projetos de veleiros de lazer novos, inclusive neste.

É muito comum encontrar projetos com uma placa de proteção aos cabos no “teto” do salão, pela parte externa. Esta canaleta que aparece dobrando em direção ao mastro serve para organizar os cabos que subirão pelo mastro até as velas. Esta proteção a primeira vista é uma solução para a questão se segurança, organização e conforto para quem está nesta parte do convés, porém o desconforto que um cabo enrolado dentro da placa de proteção fez com que o projeto fosse alterado para apenas receber a canaleta, e caso a tripulação prefira, encaixe uma placa removível.

Como o deck é uma área muito intensa de muito movimento é de suma importância o acesso rápido à áreas especificas do barco, como o banheiro, caso esteja molhado, entrar de pronto no banheiro é essencial para que o barco não fique inteiro molhado. Neste cenário também temos aquele que vai buscar um lanche, uma bebia ou algo para se alimentar do lado de fora do barco. Logo a geladeira é outro item que deve estar próximo à entrada do barco para que ele se mantenha limpo por mais tempo.

Muito comum também é o caso de receber uma chamada via rádio, ou precisar checar algum equipamento especifico, uma carta náutica ou qualquer item que remeta à mesa de comando do salão. Situações emergenciais não podem ser prejudicadas por uma falha de posicionamento dos ambiente do barco. A área de convivência pode estar mais afastada da entrada, assim como as cabines, portanto já se tem uma boa noção da configuração ideal do salão.

Salão

Partindo do princípio proposto das necessidades de quem está no deck, já se dá para criar uma noção da configuração geral do salão. Com o objetivo do trabalho será proposta uma solução volumétrica harmônica, simples e prática, ainda seguindo a filosofia KISS. A proposta principal é evoluir o espaço de forma que seja ampliado em todos os sentidos. Um ambiente claro, amplo e leve ajudam nessa sensação de amplitude. As tendências que acompanham a evolução do desenho do veleiro de cruzeiro já revelam a busca por um ambiente claro e bem iluminado. As vigias (janelas) estão aumentando conforme a evolução dos modelos. Pela comparação de dois barcos, como o Spray e o RM1260 citados aqui, essa evolução já é gritante. Porém o aumento das gaiutas não possui apenas a finalidade estética e de conforto e iluminação. Ao utilizar a mesa de navegação é muito útil que o tripulante tenha uma visão geral do que acontece em volta da embarcação, até mesmo para se localizar ou procurar alguma referência que as cartas apontam. Não são muitas embarcações que se propõem a oferecer uma vista à vante da embarcação, mas claramente aos poucos essa característica vem se tornando uma boa tendência. A RM já adotou esse tipo de sistema, que pode ser encontrado também no barco proposto neste trabalho.

Para ampliar mais o ambiente um conceito simples que reflete a evolução das residências pequenas foi proposto. A integração da sala com a cabine de proa faz com que a cabine e a sala se amplie, como acontece em um “kitnet”. A antepara não pode ser completamente removida por questões estruturais, mas a ausência da parte central já proporciona uma sensação de ambiente único, o prolongamento do sofá, a continuidade dos armários e o desenho das gaiutas, inclusive o teto de vidro, intensificam ainda mais essa sensação. Apesar de ser uma solução cômoda, a antepara pode ser recolocada caso a privacidade seja preferencial, o interior da antepara, que se divide em duas placas e a porta são encaixadas em uma trava fazendo a sala ter seu aspecto original.

A proposta de mobilidade e adequação do espaço vão além da antepara, o arranjo é projetado para um velejador que deseja ter o melhor desempenho e a melhor experiência de cruzeiro. Para tanto, o layout foi pensado para ser destacável e mutável para um padrão específico para regatas, ou seja, leve e ainda mais amplo. Os armários são removíveis e assim como a mesa, um pedaço do sofá e até mesmo parte do gabinete da cozinha. A proposta do salão é ser um ambiente de interação que se adapte ao desejo do velejador, com uma linguagem simples e prática. E mesmo assim atendendo as necessidades pertinentes a um velejador comum como a mesa dobrável que atende aos dos sofás, sendo um deles próximo à mesa de navegação caso seja necessário dormir próximo a um radio e ter acesso rápido ao mesmo.

Cozinha

A cozinha por ser do mesmo ambiente da sala, traz o mesmo princípio. Com uma parte da bancada que se destaca, mantendo o resto e o mais importante intacto, a cozinha foi pensada e arranjada para ficar próxima à entrada do barco, atendendo quem está no deck assim como quem está na sala.

Cabine Proa

Com a proposta de uma cabine para passar o dia ou para passar mais tempo (com armários), a cabine de proa possui um grande teto de vidro para o convés de proa, que além de aumentar o pé direito da cabine, dar uma visão de 180 graus a partir da cabine de proa, essa vigia serve de apoio para as costas para quem está no solarium do convés.

Cabine de Popa

Esta cabine é o ambiente mais apertado da embarcação. Ele deve possuir o acabamento para fibra não ficar aparente e ao mesmo tempo deve ter seu espaço melhor utilizado possível. o espaço para cabeça varia de acordo com o encosto do banco do deck. Sendo assim o espaço melhor aproveitado é aquele que deixa a área do encosto do deck como corredor na cabine abaixo. Este é o único ambiente no barco que possui um degrau.

Oficina

Simetricamente oposto à cabine de popa, a oficina é um conceito que faz muita falta para o velejador quando não empregado. Ter á disposição um espaço para guardar as velas, kit de savatagem, ferramentas, motor, bombas e ainda uma bancada para poder trabalhar realmente faz falta quando a necessidade aparece. No caso do projeto foi escolhido uma opção de layout que condiz com o que foi observado nas pesquisas feitas em campo. Muitos donos de veleiros deste tamanho fazem charter (aluguel) de fim de semana em que não estarão no barco. É uma tentativa de diminuir as despesas do barco. É o barco fazendo com que ele se pague. Para tanto o marinheiro deve acompanhar os clientes do charter, afinal, ele é o responsável pelo barco.

Nesta situação uma boa saída seria manter a oficina como cabine do marinheiro. O acesso seria feito pelo deck, dando privacidade ao marinheiro e aos tripulantes. Através de um banco dobrável seria possível o acesso externo à cabine, porém a partir do banheiro também é possível chegar à oficina. Desta forma é possível chegar à oficina caso o tripulante não queira sair do barco. A caixa de motor no projeto proposto pode ser completamente removida, expondo o motor para facilitar qualquer tipo de reparo. Mesmo assim a caixa da escada deve ser articulável para um acesso rápido ao mesmo (vale lembrar da necessidade do furo que essa caixa deve ter para em caso de incêndio, colocar o tubo do extintor no buraco para que não tenha que abrir a caixa).

Banheiros

Decidir por um banheiro apenas se mostrou uma grande tarefa de desapego. Será que é necessário mais de um banheiro em um barco de 40 pés? Esta decisão veio junto com a perda de qualidade de espaço que o barco começava a demonstrar no processo de criação do layout. Realmente um ambiente em que 4 pessoas irão dividir o espaço, um banheiro para duas pessoas é um exagero, ainda mais em alto mar que o racionamento de água já é automático. Poder trazer a sala para dentro da cabine de proa foi mais um fator que culminou na retirada do outro banheiro, assim pela regra de “uma medida leva a outra”, o banheiro principal mostrou-se maior e mais confortável. Um banheiro mais espaçoso para 4 dividirem sem dúvida é melhor do que dois pequenos banheiros para quatro pessoas. O aumento da cabine de proa e a harmonia e continuidade do desenho da sala foi apenas um bônus.

Conclusão

O processo criativo no projeto de uma embarcação como um veleiro requer que uma série de cuidados técnicos e espaciais não fujam à mente. Conceitos como a interferência de duas áreas aparentemente distintas porém que se influenciam diretamente fazem com que o projeto muitas vezes pareça andar em círculos, porém assim como mecionado por Larsson e Eliasson, este processo é uma espiral. Sem dúvidas o ato de projetar um espaço tão restrito e com tantas exigências seria ainda mais desafiador se a questão matemática do formato do casco, peso e equilíbrio fossem adicionados à equação. Mesmo assim o projeto desenvolvido neste TFG abordou muitos dos conceitos básicos presentes na grade de necessidades à bordo, buscando sempre a simplicidade, praticidade e usabilidade das questões propostas. Com embasamento em pesquisas de livros, pesquisas em campo e no processo histórico da criação da vela no Brasil, o projeto tentou se aproximar o máximo possível daquilo que um hipotético velejador com as características previstas poderia necessitar, visando as tendências e evoluções estéticas, tecnológicas e conceituais que são notadas com o tempo. Este rico cenário de ideias e rabiscos aos poucos foi criando forma e diversas soluções foram trabalhadas, questionadas aprovadas ou rejeitadas durante todo o processo. Todas estas etapas, sem exceção, foram enriquecedoras como bagagem no processo de projetar, que futuramente deve e será utilizada para uma segunda etapa no desenvolvimento deste projeto ou de outra embarcação.

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