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secao 4!

linha de pensamento educativo

política sensibilidade arte

Diogo Guermandi

Reginaldo Luiz Nunes Ronconi

Este é um trabalho final de graduação que objetiva organizar uma pesquisa teórica sobre um ensino libertador que promova a autonomia do indivíduo. Trata-se, também, de uma reflexão em torno do ensino político e sensível em nosso país e de como a arte poderia estar envolvida neste processo. O trabalho desenvolve-se na tentativa de esboçar o que seria uma linha de pensamento educativo e de demonstrar que esta, por sua vez, tem como objetivos ser politizadora e sensibilizadora. Em seguida, discute-se como o convívio com as artes pode ser elemento impulsionador destes objetivos. Por fim, através da descrição e análise de experimentos próprios, promove-se uma reflexão dos limites e das inúmeras possibilidades que se apresentam, para o ensino aqui proposto, diante do novo acesso tecnológico às artes e à informação na atual conjuntura.

Introdução

Em primeiro lugar, vale ressaltar que este trabalho não tem como objetivo fazer uma crítica ao ensino, até mesmo porque se trata de um trabalho final de graduação de um curso de Arquitetura e Urbanismo. Sua tentativa principal é formular e fundamentar uma pequena contribuição da visão de um Arquiteto em formação para uma construção social e, nesse caso, uma construção por meio do ensino, que teria grandes reflexos no meio urbano, na arquitetura e na profissão do arquiteto. Ademais, outro objetivo deste trabalho é encontrar o “enquadramento filosófico” daquilo que estou fazendo na vida profissional de educador. Ou seja, organizar uma pesquisa teórica em torno do ensino libertador.

O trabalho se configura pela formulação de uma linha de pensamento educativo que se pretende politizadora e sensibilizadora. Além disso, há uma tentativa de demonstrar como a convivência dos educadores e educandos com a arte pode ser um caminho para a realização desta linha de pensamento. A ideia deste projeto surge a partir da leitura diária da necessidade da construção contínua de uma sociedade mais politizada e mais sensível. Surge também da visualização das possibilidades deste exercício de ensino, através das experiências feitas em quatro anos de docência no Ensino Médio-Técnico.

Podemos supor, para efeito de introdução ao tema do trabalho, que as três maiores criações da humanidade são: a ciência, a política e a arte. A Ciência, aqui supostamente como capacidade racional do homem de buscar, organizar e criar conhecimento sobre as coisas, sobre o próprio homem e sobre o universo. A Política, como forma de relação entre os indivíduos, entre as culturas, entre as classes, entre os povos; a forma menos brutal de equacionar os poderes, de compatibilizar os interesses e de articulação da vida coletiva; como forma ampla de troca de ideias para melhorar o convívio. E a Arte, como forma máxima e livre de expressão do âmago humano perante a sua leitura do mundo, das relações humanas e perante o trato dos materiais; o exercício contínuo de encontro do homem com o mundo , o espaço destinado à sensibilidade estética, afetiva e emocional.

Estas três esferas podem se relacionar continuamente. A arte, muitas vezes, tem forte apelo político e conversa frequentemente com a ciência, além de poder ser estudada de forma científica. Do mesmo modo, a política pode ser estudada como ciência, também sendo a interface de diálogo entre as diferentes culturas, consequentemente entre as artes. A ciência, por sua vez, tem suas formulações estéticas e frequentemente dá subsídio para as artes, como, por exemplo, a atual arte mídia, além de ser, por si mesma, um ato político. O poder do conhecimento é muito importante dentre os demais poderes, por isso sua construção é necessariamente um processo político.

No entanto, o que aqui podemos supor sobre a existência destas esferas dentro das instituições de ensino brasileiras, sobretudo do ciclo básico – ensino infantil, fundamental e médio, no séc. XX, é que houve grande avanço no campo da ciência, mas não nas outras esferas. É visível que o desenvolvimento científico é presença quase unânime nas escolas brasileiras, que, mesmo com todos os seus problemas, estão constantemente tentando atualizar seus materiais, seus laboratórios, suas tecnologias e suas teorias. Entretanto, a presença das outras duas esferas (política e arte) é quase nula. Com relação à esfera da arte, ela ainda permanece viva, porém sempre subjugada e vista como assunto de menor importância, como veremos mais a frente no trabalho. Já a esfera da política, esta tem participação praticamente inexistente na formação dos alunos. Ainda muito estigmatizada, a política não se faz presente como objeto de estudo, no cotidiano escolar e, mesmo suas raras aparições não podem ser consideradas substanciais perante a complexidade do tema.

Podemos tomar como base, para efeito ilustrativo, que as instituições de ensino, sobretudo as universidades, lidam com dois momentos do ciclo gnosiológico , que Paulo Freire destacará: “o que se ensina e se aprende o conhecimento já existente e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente.” (FREIRE, 1996 p.29). Simplificando este processo, podemos resumir estes momentos em algumas frentes, como: 1 – formar uma base de conhecimento técnico; 2 – se aproximar das ideias, soluções, resoluções e das filosofias mais significativas na história e também das recentemente produzidas; 3 – pesquisar as “demandas” de soluções, de novas formas de pensamento e de novas técnicas, algum estudo de caso ou campo possível de desenvolvimento de projeto; 4 – verificação das “condições” que limitam ou dificultam a aplicação de uma nova ideia, projeto, diretriz; 5 – exercícios de produção de um novo conhecimento, projeto, tecnologia, linha de pesquisa, conceito, teoria.

A estruturação destas cinco frentes, que podem ser trabalhadas linearmente ou paralelamente, é discutível e pode variar em cada instituição, curso e filosofia de ensino. No entanto, sua breve ilustração serve para demonstrar que este trabalho discutirá como é preciso incluir um olhar mais aprimorado para as frentes de identificação das “demandas” e das “condições”. Sobre ambas é necessário compreender não só quais são elas, mas porque existem, quando surgiram e por quem foram estimuladas. Isso significa compreendê-las politicamente.

Portanto, é eminente a necessidade de configurar uma educação que não se baseia apenas no estudo científico, mas também no campo das artes e da política como forma mais ética e sensível de apropriação do conhecimento técnico e como formação de cidadãos participantes. Não cabe ao objetivo deste estudo fundamentar e demonstrar claramente esta necessidade, mas ela será evidenciada, consequentemente, aos poucos ao longo do trabalho.

”Primeiro experimentei, depois refleti. Depois, Paulo, li seus livros e consegui o enquadramento filosófico daquilo que estava fazendo.”
Ira Shor em conversa com Paulo Freire, no livro Medo e Ousadia – o cotidiano do professor.

Giulio Carlo Argan (1909 – 1992) – foi um historiador e teórico da arte italiano, e em sua obra Arte Moderna, afirma que a arte “...é justamente a realidade que se cria a partir do encontro do homem com o mundo.”.
Gnosiologia (ou gnoseologia) é a parte da Filosofia que estuda o conhecimento humano. É formada a partir do termo grego “gnosis” que significa “conhecimento” e “logos” que significa “doutrina, teoria”. Pode ser entendida como a teoria geral do conhecimento, na qual se reflete sobre a concordância do pensamento entre sujeito e objeto. Nesse contexto, objeto é qualquer coisa exterior ao espírito, uma ideia, um fenômeno, um conceito, etc., mas visto de forma consciente pelo sujeito. O objetivo da gnosiologia é refletir sobre a origem, essência e limites do conhecimento, do ato cognitivo (ação de conhecer). – fonte: significados.com.br
Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) – foi um educador e filósofo brasileiro. É Patrono da Educação Brasileira. Paulo Freire é considerado um dos pensadores mais notáveis na história da Pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica.

Trabalho disponível em: http://issuu.com/guermandi/docs/iussu-linha_de_pensamento_educativo

 

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