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secao 4!

Casa de acolhida do Carmo –

adaptação de quartel histórico em abrigo para pessoas em situação de rua.

Flávia Santos Santana

Fábio Mariz Gonçalves

Ao passar diversas vezes pela Avenida do Estado pude perceber que em baixo do Viaduto 25 de março se aglomeravam pessoas em situação de rua. Por ser um trecho gradeado, com uma tenda e banheiro químicos, ficou claro que essa era uma ação do poder público. Mais adiante, ainda na Avenida do Estado, um prédio antigo, visivelmente degradado e em clara situação de abandono também me chamou atenção. Da observação dessas duas situações constatei que ali, muito próximos, havia um prédio sem pessoas e pessoas sem prédio. A partir dessa conclusão proponho que o prédio histórico, o Quartel do Segundo Batalhão de Guardas, seja adaptado para receber essas pessoas em situação de rua.

A princípio, tal uso para uma edificação histórica pode parecer contraditório, entretanto, o edifício em questão sempre foi utilizado para funções que comportavam grande número de pessoas. Primeiramente foi uma chácara, mas nos aos que se seguiram foi convento, seminário, hospício, quartel da força pública, quartel do exército e por fim batalhão da polícia de choque do Estado. Assim sendo, o uso proposto nesse projeto resgata o caráter de acolher muitas pessoas que este prédio sempre teve.

Um desafio foi definir o programa. A ideia inicial era que o fosse desenvolvido somente um abrigo para pessoas em situação de rua, mas na condição de projetar para pessoas que nem casa tem, foi impossível não desviar o olhar para aqueles que não conseguiriam uma vaga no abrigo. Pensando nessas população – excluída entre os excluídos – decidi ter dois programas paralelos e semelhantes. Desta forma setorizo o espaço e proponho o albergue Casa de Acolhida do Carmo e a Casa de Apoio.

Os dois programas estão organizados através de quarto praças que compõem o conjunto do projeto: a Praça Primeira, a Praça de Acolhida, a Praça da Memória e o Pátio Interno. A Praça Primeira é o primeiro contato que se tem com o edifício; a de Acolhida o local que recebe todas as atividades de intersecção entre a Casa de Acolhida e a Casa de Apoio; a da Memória resgata a história da edificação ao manter o antigo muro de tiro como elemento do novo projeto e o Pátio Central, que apesar de reservado a princípio, se mostra como área generosa ao ser acessível a abrigados e demais pessoas.

CASA DE APOIO

PROGRAMA: BABAGEIRO – VESTIÁRIOS – RESTAURANTE POPULAR

O bagageiro consiste em 200 armários para guardar pertences diversos. Cada pessoa, mediante a cadastro, tem acesso a um armário para guardar seus objetos.

Os vestiários estão na nova ala esquerda. Há os vestiários masculinos e femininos, com 16 chuveiros cada, mas há também seis vestiários (individuais) reservados para pessoas com crianças e dois para deficiente.

Por fim, o Restaurante Popular completa o programa da Casa de Apoio. Localizado na ala central, à esquerda da cozinha, ele oferece 184 lugares, divididos em dois pavimentos. O pavimento superior do Restaurante é o único local nesse nível ao qual alguém não abrigado tem acesso.

CASA DE ACOLHIDA

PROGRAMA: RETIRADA DE DOCUMENTOS – ENFERMARIA – SANITÁRIOS – CABELEIREIRO/MANICURE – VETERINÁRIO – SALA DE CONVIVÊNCIA/LEITURA/TELEVISÃO - COPERATIVA – BAGAGEIRO – VESTIÁRIOS MASC./FEM. – DISTRIBUIÇÃO DE PRODUTOS DE HIGIENE – RESTAURANTE POPULAR – ASSISTÊNCIA SOCIAL – CORTE COSTURA – INFORMÁTICA – SALAS MULTI USO, DE ALFABETIZAÇÃO E ARTESANATO – REFEITÓRIO – COZINHA – LAVANDERIA – COPA E SANITÁRIOS PARA FUNCIONÁRIOS – CANIL – QUADRA POLIESPORTIVA – ARQUIBANCADA/ ESTACIONAMENTO PARA CARRINHOS.

Apesar de carregar o nome “CASA”, a Casa de Acolhida pretende ser na verdade um local de passagem, uma etapa para reinserção social de quem está em situação de rua. Para obter bons resultados é necessário intervir a curto e longo prazo. Oferecer boas instalações e horários de retorno mais flexíveis ajudam a manter o indivíduo no abrigo, mas num segundo momento é preciso instrumentalizá-lo, para que possa adquirir autonomia.

Portanto, além de contar com as atividades oferecidas na Praça de Acolhida, o Abrigo conta com serviços voltados somente aos abrigados. No braço direito inferior do edifício histórico estão localizadas salas para cursos como de corte costura, de artesanato, aulas de alfabetização e aulas de informática

No andar superior serão prestados outro tipo de serviços. Em sua maioria são atividades relacionadas a cuidados médicos, como assistência odontológica, médica e psiquiátrica, além de assistência jurídica. Existe também uma sala de tv e jogos, e uma biblioteca. Importante salientar que a biblioteca não tem controle de acesso já que esse cuidado foi tomado ao entrar no Abrigo.

Nesse segundo pavimento também estão os dormitórios. O módulo básico contém quatro leitos, e tem suas medidas definidas a partir da medida da janela do edifício histórico. No total há 34 dessa tipologia, sendo 26 masculinos e 8 femininos, com 104 e 32 leitos, respectivamente. Além deste, existe ainda a tipologia voltada para pequenos grupos familiares, composta por um quarto de casal, um de solteiro, com duas camas e um banheiro. Esse módulo totaliza 6 unidades, e ainda há 4 unidades adaptadas a pessoas com necessidades especiais. Ou seja, a Casa de Acolhida do Carmo oferece 164 leitos.

A opção por quartos menores em detrimento de grandes salões dialoga com a constante busca de recuperação da autoestima. Quem está em situação de rua sofre um processo acentuado de perda de identidade. Possibilitar que essas pessoas fiquem em quartos pequenos, com uma escala mais próxima do indivíduo auxilia a retomar as relações que havia se perdido.

Na nova ala, à direita fica o espaço de acesso exclusivo para quem trabalha no abrigo. Ali ficam a lavandeira, os vestiários masculinos e femininos de funcionários e a copa, também de funcionários.

Ainda constam no programa canil e estacionamento de carrinhos.

A importância de um projeto como esse perpassa alguns campos. O histórico, ao revalorizar um prédio que atualmente está abandonado. O social, ao propor tal programa. E por fim o urbanístico, ao possibilitar que uma área degradada com o Parque Dom Pedro II seja resgatada, através de um equipamento que revaloriza o local, que atrai pessoas, que estimula a circulação de pedestres, por também ter sido pensado na escala destes.

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