A proposta de Trabalho Final de Graduação baseia-se na realização de um projeto de habitação de interesse social (HIS) evolutiva com método construtivo industrializado. Busca explorar a identificação do morador com sua habitação através de mecanismos de flexibilização de projeto, que permitam adaptações e modificações acompanhando as necessidades e aspirações nos diversos momentos de vida, de trabalho e de evolução da composição familiar, permitindo, assim, a fixação do morador na em sua habitação.
É consensualmente perceptível que os modelos de HIS produzidos atualmente, em geral, estão aquém das necessidades dos usuários. Seja por questões de conforto ambiental, como por subdimensionamento das unidades habitacionais, a produção atual de HIS não assegura condições mínimas de qualidade para os moradores.
O projeto foi pensado a partir da reflexão sobre as composições familiares e partiu da elaboração de um programa de necessidades, prevendo o que uma habitação mínima deve possuir e qual o máximo que deverá chegar. Dessa maneira, foram determinados espaços de servir e espaços de serviços e dentre eles foram listados aqueles ambientes básicos numa habitação que devem, necessariamente, ser entregues inicialmente.
Na definição do programa de necessidades, os espaços fixos são aqueles de necessidade básicas e mais custosos, sendo ambientes que devem ser entregues na habitação inicial. Já os ambientes classificados como flexíveis, podem fazer parte das áreas a serem expandidas futuramente na habitação.
Assim, fez-se a combinação dos ambientes de maneira funcional, garantindo dimensões mínimas adequadas para layout e circulações e levando em consideração as áreas iniciais de entrega e as futuras expansões. A partir da definição das tipologias de plantas, foi aplicada uma modulação comum a todas, prevendo melhor aplicabilidade do método construtivo escolhido, dos fechamentos modulares, da composição das unidades em edifícios e das futuras expansões.
Foram criadas 3 tipologias, uma tipologia térrea A acessível com possibilidade de expansão para mais 2 dormitórios. Dessa surgiu outra tipologia B com WC comum não acessível. Na terceira tipologia C criou-se um duplex em que seriam entregues todos os ambientes do pavimento inferior e parte do pavimento superior, também com expansão de 2 dormitórios. Também foram criadas unidades comerciais localizadas no pavimento térreo de alguns edifícios na implantação. Estas unidades têm mesma modulação que as residenciais, possuem planta livre flexível.
O método construtivo utilizado visa racionalização no canteiro de obra, economias de materiais e de mão de obra e rapidez na execução, garantindo habitações de qualidade para a população e buscando reduzir o déficit habitacional nacional. O sistema construtivo fixo estrutural considerado no projeto é em concreto armado pré-moldado, tendo como componentes: pilares, vigas e lajes alveolares. A modulação considerada partiu do desenho inicial das tipologias, chegando a um módulo de 6x6m entre pilares.
Utilizando-se de mesmo material e associando-o a agregados leves, tais como: cinzas volantes, eps, perlita, vermiculita e argila expandida entre outros, tem-se os painéis em concreto leve. No projeto foram considerados painéis de concreto leve com largura de 95cm, altura de 2,30m e espessura de 10 cm.
Os fechamentos interiores foram projetados em dry-wall, dando a possibilidade para o morador, em sua construção posterior, optar pela mesma solução ou até mesmo realizar os fechamentos internos em outro material como divisórias e fechamentos em madeira, sendo soluções rápidas, fáceis e leves.
Com a justaposição das unidades determinou-se edifícios em lâmina, que proporcionam duas fachadas de insolação e ventilação cruzada. Em todo piso térreo tem-se a tipologia A (acessível), nos demais pavimentos as tipologias variam entre B e C. Essas variações determinam a composição dos volumes e cores da fachada, bem como a altura dos edifícios, proporcionando diferentes percepções do pedestre no espaço físico dos conjuntos residenciais.
No terreno foi criado um novo arruamento, sendo uma em cada extremidade do terreno em seu sentido longitudinal, enquanto que no sentido transversal as ruas foram determinadas a partir da extensão de uma das ruas do Jardim Jaqueline. Essa extensão busca a conexão e integração entre as duas áreas além de se buscar promover uma região de interesse para comércios e serviços. No térreo foram retiradas algumas unidades residenciais para locar unidades comerciais. Com o arruamento definido pensou-se na organização dos edifícios ocupando os arredores de cada quarteirão, criando espaços livres internos e estacionamentos para os moradores.
A cada dois conjuntos de edifícios tem-se uma circulação vertical, esta é executada em mesmo sistema construtivo descrito. As circulações horizontais entre os apartamentos são abertas sendo alternadas entre os edifícios, ora a circulação está voltada para o interior e ora voltada para o exterior do núcleo do conjunto. Os dois edifícios com circulação comum sempre terão na cobertura do mais baixo espaço para uma horta comunitária para os moradores, esta será acessível através do último lance de escadas da caixa de circulação.
A partir do desenvolvimento desse trabalho, foi possível perceber que a preocupação com o usuário deve ser não somente no tempo presente, mas como também no futuro, prevendo a sua própria evolução econômica e social. A técnica construtiva precisa prever a futura expansão e a facilidade de acesso do morador aos materiais e componentes necessários para isso. Essa possibilidade de participação do morador e de evolução da própria habitação traz um caráter mais humanitário criando um fator de fixação do morador na sua casa.
Dessa maneira, o trabalho proposto questiona a produção atual brasileira de HIS refletindo sobre as organizações espaciais da habitação, as dimensões mínimas, as necessidades dos moradores e as possibilidades e soluções construtivas dos edifícios.
