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secao 4!

O Deslocamento

Leonardo Hideo Okamoto Marroquini

Klara Kaiser Mori

Um percurso cotidiano na cidade, no deslocamento da moradia até o trabalho, do trabalho até a moradia.
Um trabalho de vídeo e um texto que trata sobre uma tentativa de colocar em vídeo uma impressão sobre um deslocamento feito em um sistema de transporte público.

Justificativa: Interesse em vivenciar e explorar o tema do deslocamento diário de uma periferia de alta densidade até um centro de emprego através do sistema de transporte público. Em muitos casos os percursos são longos, sobrecarregados e envolvem a utilização de diferentes meios de transporte: A caminha a pé; o ônibus; o trem da CPTM; o Metrô.

O trabalho não se trata apenas daquilo que foi de fato colocado em vídeo, nem apenas a maneira como foi concebido, mas também as minhas próprias impressões do percurso filmado: Aquilo que pôde ser mais ou menos traduzido em imagens e muito do que não foi. Devaneios não estão excluídos.

Imagino que deva ser diferente de uma primeira observação sobre qualquer objeto ou coisa em situação real, onde qualquer conclusão/julgamento ou mesmo impressão à respeito do observado é carente de informações concretas que não a impressão estética em sí por parte do observador.

É inegável que não passam de imagens e sons, e que, em ultima instância, cabe ao observador ou espectador tirar conclusões (seja com a convicção que for, utilizando a informação que for, mesmo que concluindo que nada possa ser concluído realmente) através de sua interpretação. Contudo, no cinema ou vídeo editado tudo aquilo que é reproduzido e passado ao espectador faz parte de uma linguagem, o mundo real não. O mundo como um todo não tem intenção uníssona de comunicar nada com ninguém que o observa, simplesmente não há intenção inerente de nada, um filme ou trabalho de vídeo é inevitavelmente uma expressão da parte de quem o produziu.

Uma seleção de imagens nunca é neutra

«Isso não se limita ao cinema: trata-se de uma contradição oculta em todas as formas de expressão; pintar algo, ou narrar algo, não passa, afinal, de um jogo elaborado por um autor, no qual ele próprio decide as regras e as rompe para criar o drama, sendo ele mesmo autor e intérprete de um engodo» (YOSHIDA, 2003, p. 127, par. 4)

Uma narrativa estruturada e justificada pelas minhas impressões, no que diz respeito ao caminho de ida e volta do Grajaú até o Centro (por volta das 4h30 da manhã na ida, 17h30 na volta - horários de partida).
Algo está sendo mostrado: Um Caminho, um deslocamento.

O tema central do trabalho: O deslocamento.

Cada trecho neste deslocamento apresenta condições reais diferentes, que, para o autor deste trabalho, são traduzidas pelos recursos de vídeo de maneira diferente que não meramente a reprodução simples do que as câmeras captaram: As câmeras captam apenas imagens, sons, atrelados a uma unidade de tempo. O cansaço físico, as condições psicológicas de cada momento, cheiro, tato, paladar, e todas a impressões de quem estava filmando, não aparecem necessariamente. É através da utilização dos recursos que cabem ao vídeo, da edição, que se pode passar essas impressões, se desejável.

Então, questões da infraestrutura da cidade, condições da jornada de trabalho, a felicidade aparente e cansaço de quem faz o trajeto, a pressa, a reserva das pessoas, são todas submetidas no modo como aparecem nas imagens de experimentação e interpretação do o percurso.

Uma das grandes impressões/questões do percurso é o nível de desconforto e submissão/liberdade do indivíduo ao se deslocar em cada trecho - que pode ou não ter proporção direta ao tempo do trecho. Uma vez que uma das submissões (e possível desconforto) do espectador de um vídeo é justamente o tempo determinado por quem fez o vídeo (aqui, assumindo que só se assiste a algo quando na velocidade em que foi projetado - quem assiste em velocidade aumentada está a assistir outra coisa). Outros desconfortos, como o visual e sonoro simplesmente fogem demais ao que a amostragem de vídeo e as condições reais de desconforto são.
A questão do tempo de cada trecho em vídeo é principalmente tratada aqui como proporcional a limitação e submissão.

Não houve rigor científico para determinar o quão representativo (em termos de ocorrência) aquilo que foi filmado é, mas o propósito neste trabalho era descobrir um pouco o que o percurso é, e não retratá-lo através de uma visão pré-determinada.

A amostragem de imagens finalmente coletada e o tempo passado estabeleceram os limites do que poderia ser trabalhado posteriormente.Tendo uma determinada gama de imagens, como arranjá-las de maneira a constituir um vídeo que trate as questões que com elas posso e quero tratar? Foi assim que a estruturação do trabalho de edição se desenvolveu.

Como resultado, não é objetivo do vídeo ser de modo algum algo que vise o entretenimento e o agrado do espectador. Assim como o próprio trajeto, nada sugere que este seja agradável inerentemente. Mais frequentemente do que não, as condições ruins de transporte levam a uma experiência oposta, onde se vive de maneira a suportar, e não de admirar desmedidamente aquilo que é percorrido duramente todos os dias.

Dito isso, o fato do percurso poder ser indigesto não isenta o trabalho de tentar manter uma certa coerência e evitar trazer confusões. O objetivo não é fazer o espectador se perder em meio ao trajeto e ao vídeo, mas pelo contrário, lucidamente arrastar quem estiver assistindo até o centro, e de volta.

Inicia-se partindo de um portão, o qual tem como função principal separar de forma intermitente e controlável dois ambientes. Ambientes distintos pela maioria dos membros de uma sociedade humana: casa e rua; muitas vezes público e privado; às vezes lugar onde se mora e lugar onde não se mora; lugar onde uma pessoa tem maior poder de organização na composição do espaço e posicionamento dos objetos, e lugar onde isso torna-se mais muito mais difícil do ponto de vista do indivíduo.

Através do olhar de uma câmera de má qualidade, é possível captar alguma grande distinção entre esses dois ambientes? Ou seria o portão, porta, ou outro elemento separador em si aquilo que melhor distingue esses ambientes?

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