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secao 4!

Espaços Revistos:

um projeto de revisão dos espaços urbanos por meio de intervenções artísticas

Mainara Amanda Cesar Avelino

Maria Cecília França Lourenço

A apropriação dos espaços da cidade é um tema cada vez mais recorrente no Brasil. Talvez pela crescente dificuldade de se viver nas metrópoles contemporâneas a medida em que se prioriza o transporte individual e as vias de passagem rápida em detrimento de espaços de estar, pensados na escala do pedestre. As cidades se tornam suportes de grandes avenidas, estradas e viadutos, muitas vezes inacessíveis aos pedestres, produzindo uma série de espaços residuais e escombros, transformando-a em um cenário para ser visto em velocidade e não um ambiente para ser habitado e apropriado em toda sua extensão.

A metrópole é compreendida, portanto, como um traçado de linhas imaginarias partindo de pontos de vista que se encontram entre as vias de circulação rápidas, caracterizadas por Paul Virílio como “ditadura do movimento” a qual impera nas cidades contemporâneas, estruturando o estar público pela passagem, não pela permanência. Além desse aspecto mecânico da velocidade, soma-se à dificuldade de “ver” e apropriar-se da cidade o aspecto de velocidade virtual, de fluxo de imagens e informações, que provoca uma anestesia e saturação uma vez que a mídia e a tecnologia nos lançam a todo o momento inúmeras atrações que não requerem uma atenção critica, um preparo particular e nem um esforço imaginativo .

Inserido nessa realidade de velocidades, o olhar sobre a cidade se dissolve, se esvai e não se fixa, dificultando a apreensão da cidade real, nos tornando cegos, ainda que enxerguemos. O presente trabalho visa discutir e analisar questões inerentes ao tema arte/cidade, sem que ambos sejam desvinculados, por meio de um projeto experimental compreendendo intervenções artísticas urbanas que permitam ampliar e provocar asserções relativas à cidade atual, com diferentes leituras e suportes de exibição, em um edifício público abandonado localizado no Campus Butantã da Universidade de São Paulo (USP), considerado um emblema de espaço de conflito típico das metrópoles contemporâneas, por ser um espaço residual decorrente de conflitos políticos.

A construção e metodologia de organização pensadas para evento constituem o corpo principal do trabalho. A proposta da exposição é colocada como um ensaio, sendo uma das inúmeras possibilidades de concretização do evento, que não será possível prever antes que seja executado de fato.

Aproximando o tema a uma realidade mais próxima e tangível à experiência e trajeto diário da rotina universitária, foi escolhido como estudo e suporte de intervenções artísticas o espaço abandonado localizado na cidade universitária, entre a Academia de Polícia e o Paço das Artes. Esse espaço intrigante e opressivo que carrega fortes características, por si só, pode ser considerado um objeto artístico, em meio à cidade que acontece fora dos alambrados que o cercam. Explorá-lo com intervenções artísticas, ações estas que o tornassem mais emblemático e provocativo, e permitissem às pessoas perceberem esse espaço, é a ideia base a partir da qual se desenrola o projeto.

Como ponto de partida, estabeleceu-se o conceito do projeto, que balizaria a escolha dos artistas, considerando uma composição com as obras já existentes no local. O intuito seria abordar o espaço abandonado como uma provocação, um emblema de espaço residual da cidade, e para tanto as intervenções propostas para o espaço contribuem para torná-lo mais desafiador e afirmá-lo como um objeto artístico, com variadas leituras da cidade e diferentes táticas para se fazer ver, seja interferindo diretamente na cidade ou utilizando-se dela - da experiência de vida urbana que ela proporciona - para produzir o trabalho.

A etapa de seleção dos artistas e obras de início representou um desafio por lidar com a dualidade entre o espaço livre, o qual seria a cidade, a rua, o urbano; e o espaço controlado: o edifício abandonado em questão. Fez-se necessária a seleção prévia de um grupo que atue sobre um tema tangível ao proposto. A seleção foi realizada por meio de percursos pela cidade, pesquisas em sites, conversas com colegas e professores e visitas à exposições. Dentro dessa busca, se procurou focar nas mais distintas possibilidades de intervenções, com base nas experiências que traduziriam melhor o conceito do projeto, configurando o seguinte grupo: Pike A.K.A Carango Sá, Ana Holck, Jan Nehring, Renato Atuati, Gustavo Godoy, Raphaelle Faure e coletivo Luzinterruptus.

A última e, pode-se dizer, mais complexa etapa do projeto consiste na elaboração estratégica da ocupação do edifício. Como exercício de curadoria e para dar vazão à experimentação, não necessariamente como solução final melhor resolvida, fez-se necessário adotar um prévio parcelamento dos ambientes e distribuí-los entre os artistas, visando a dialética utilizada por cada um em suas ações e a consequente fluidez da ideação, além da não sobreposição das intervenções já existentes no local. Dentro desse espaço previamente concedido ao artista, visando possibilitar a fluidez de ideias, ele seria livre para executar suas convicções e também propor novos limites espaciais que julgasse necessário.

A construção do olhar aqui proposta, portanto, se dá por meio da leitura do edifício em conjunto com as intervenções nele inseridas – tanto as propostas quanto as previamente existentes. No entanto, não se encerra no momento presente do evento, é parte de um processo que se estende ao longo da vivência na cidade, de percepção, compreensão e apropriação dos espaços.

Trabalho disponível em: issuu.com/mainaraavelino/docs/tfg_mainara

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