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secao 4!

Escola das Coisas

Melissa Kawahara

Luís Antônio Jorge

A idéia inicial para o presente Trabalho Final de Graduação surgiu a partir do contato com as obras de um grupo de artistas japoneses dos anos 60 chamado "mono ha" - ("escola das coisas"), cujas obras procuram tencionar certos materiais considerados elementares através de simples composições, fazendo com que o próprio significado desses materiais seja relativizado e colocado como questão principal das obras.

Pelas dificuldades em encontrar material sobre esse grupo, acabei optando em buscar referências mais acessíveis, artistas nacionais e internacionais, que trabalhassem com o mesmo tema de forma semelhante ao mono-ha. Essa busca acabou me levando a configurar um grupo de obras que de uma forma ou de outra dialogam com a matéria - a qual ficou cada vez mais evidente como tema central deste trabalho. Nessa conversa de obras cito artistas e arquitetos como José Resende, Isamu Noguchi, Amélia Toledo, Artur Lescher, Richard Long, Amilcar de Castro, Richard Serra, Willis de Castro, Gego, Peter Zumthor, Alvar Aalto, Alberto Martins, Lygia Clark e Constantin Brancusi.

Feito esse recorte, optei em abordar a questão da matéria através de uma pesquisa prática que a colocasse em primeiro plano. A pesquisa se concretizaria pela elaboração de uma série de objetos não funcionais que evidenciasse o processo de pesquisa e o processo de suas produções. Adotei duas frentes de estudo para o desenvolvimento do trabalho, a primeira seria uma análise das poéticas que os materiais possuem e a segunda, uma aproximação com suas propriedades físicas.

A partir da idéia de poética dos materiais, escolhi três objetos de estudo: o papel, a madeira e o metal. A escolha desses materiais se deu sobretudo pelo meu imaginário acerca deles, e assim algumas características subjetivas, derivadas desse olhar, se fizeram relevantes no trabalho.

Dentro desse imaginário o papel é interpretado por sua leveza, translucidez e claridade; a madeira por sua textura atraente ao tato e sua consistência aconchegante; e o metal, por seu efeito cortante e resistência imponente. Os arranjos entre esses materiais e suas características podem se dar de diferentes formas, seja pela complementaridade, pelo confronto, pela sobreposição e pela justaposição. No entanto, tendo em vista a investigação sobre as propriedades físicas desses materiais, optei por uma relação complementar entre eles.

Logo de início, as aproximações se fizeram fundamentais para o desenvolvimento do trabalho. Percebi que não caberia a mim o total controle sobre o processo, pois seriam as respostas dadas pelos próprios materiais às intervenções externas que direcionariam a pesquisa. Já nas primeiras experiências com o papel, essa especulação acerca da metodologia se fez bastante clara: o comportamento do papel após o corte e a dobra, por exemplo, já deixava claro algumas questões a serem trabalhadas nos próximos exercícios e a partir dessa estrutura dei continuidade às investigações sobre os três materiais.

Por um lado o campo da pesquisa prática é muito fértil, mas por outro, sua inconstância exigiu paciência e muita persistência. Tive dificuldade em dar o primeiro passo nesse campo, muito pelo vício do desenho e também pelo próprio receio do incerto. Tendo em vista a escolha pela pesquisa das propriedades dos materiais e não tanto pelo desenho ou projeto, as aproximações iniciais foram muito frutíferas, e as respostas dadas pelos materiais após as intervenções foram esclarecedoras e surpreendentes.

A produção durante o período de exploração foi tão acelerada que em alguns momentos tive que frear o ritmo para conseguir selecionar um entre os inúmeros caminhos que foram abertos. Porém, após essa primeira fase, os erros acabaram sendo mais frequentes que os acertos, talvez erros e acertos não sejam bem os termos a serem utilizados nesse caso, e talvez impertinências e pertinências sejam mais adequados. A pesquisa foi construída também com desapontamentos, mas que acabaram por contribuir no percurso para os objetos finais. Durante o processo de investigação, houve uma fase intermediária difícil, quando o retorno do material apenas evidenciava as impossibilidades em se prosseguir com os exercícios em andamento. Só depois de muitas tentativas é que começaram a surgir as primeiras descobertas que de fato pareciam ser significativas.

Após alguns meses de "laboratório" me deparei com um número imenso de exercícios de papel, madeira e metal espalhados por toda a casa. Percebi então que seria o momento de restringir a pesquisa e selecionar alguns temas para serem aprofundados. Apesar de parecer um momento complicado, foi bem mais fácil do que eu imaginava, pois durante o processo do fazer dos objetos - cortar as tiras de papel, lixar a madeira, dobrar o metal - já foi possível sentir os temas que me atraíam ou que me instigavam. E foi dessa forma que selecionei os trajetos a serem percorridos para cada objeto. Assim, o resultado formal de cada um deles é totalmente decorrente desse modelo de pesquisa descrito acima.

Analisando os objetos considerados finais, percebe-se que as escolhas para todos eles se guiaram pelos temas do movimento e da repetição. Isso só ficou claro para mim na fase de conclusão do trabalho; durante todo o processo encarei a questão da constância, do fio condutor, sempre como um problema a ser urgentemente solucionado. As escolhas que antes pareciam ser completamente empíricas, na verdade eram determinadas pela minha própria sensibilidade, a qual se mostrou seduzida pelo movimento e pela repetição.

Trabalho disponível em: http://issuu.com/melissakawahara/docs/tfg-melissakawahara

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