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secao 4!

Espaços Livres em Limeira:

do Plano ao Projeto

Rafaela Pavanelli Chaves

Eugenio Fernandes Queiroga

Há décadas o planejamento urbano tem negligenciado a dimensão humana enquanto a acomodação dos automóveis se tornou uma das principais diretrizes para a construção das cidades, deixando marcas no tecido urbano, impactando não apenas no desenho do sistema viário, mas também na qualidade dos espaços livres públicos, desvalorizados pela ideologia modernista de planejamento. Gradativamente, para estratos de renda média e alta de várias cidades médias paulistas, o espaço livre público urbano perde sua prioridade como local de encontro, e os moradores deixam a rua e passam a frequentar prioritariamente espaços privados como shoppings centers, clubes e casas noturnas para convívio social.

O município de Limeira, assim como os demais municípios do interior de São Paulo, passou por grandes transformações no modo de viver urbano nas últimas décadas, contudo, ainda guarda resquícios da dinâmica urbana do início do século XIX, quando as donas de casa se encontravam na feira, os jovens marcavam encontros na praça da igreja do bairro e os mais velhos sentavam-se confortavelmente em cadeiras postas na calçada para olhar as crianças brincando na rua.

A grande motivação deste trabalho foi buscar soluções que reaproximassem a estrutura física da cidade às atividades humanas de convívio público, procurando adequar os espaços livres à apropriação que hoje se faz de forma informal ou improvisada, incentivar novos usos e contribuir para reaproximação do pedestre com as ruas.

A principal estratégia para a elaboração da proposta é a qualificação do subsistema, mediante o aproveitamento de vazios urbanos e demais espaços livres residuais, principalmente aqueles ligados ao sistema viário. A mobilidade de baixo impacto se mostrou, então, ferramenta eficiente para unir as atividades cotidianas, como a ida à escola e ao trabalho, às atividades de recreação e lazer, trazendo mais liberdade e qualidade de vida aos moradores locais, além de ser uma alternativa ao uso do transporte individual. Este trabalho buscou estratégias para resgatar o ciclismo e o pedestrianismo como formas de locomoção que podem compor o sistema de transporte municipal unidos a outras modalidades, principalmente ao transporte público.

A proposta desse trabalho se desenvolveu mediante a relação de interdependência de duas escalas de trabalho, onde uma complementa e desenvolve a outra. Na escala mais abrangente, a escala da cidade, buscou-se a elaboração de um projeto com visão sistêmica sobre questões recorrentes em toda malha urbana, denominado Plano Geral. Já na escala local, selecionou-se um setor específico da cidade para análise e desenvolvimento de um projeto mais detalhado, que foi denominado Plano Setorial, no qual se desenvolveu soluções e critérios a serem empregados nas demais áreas destacadas no Plano Geral.

O Plano Geral teve como foco os espaços livres ligados ao sistema viário e as Áreas (urbanas) de Proteção Permanente. O objetivo para este sistema foi a elaboração de um plano de integração dos espaços livres através da implantação de uma rede de ciclovias – que visa contribuir para a melhoria da mobilidade urbana - e o levantamento de espaços livres públicos não qualificados e com potencial paisagístico que podem ser objeto de projetos futuros visando à preservação e o incentivo à apropriação dessas áreas. A elaboração de um plano cicloviário tendo em vista a bicicleta como um componente do sistema de transporte urbano permite a criação de infraestrutura eficiente e segura para ciclistas e pedestres, incluindo-os nas políticas de mobilidade urbana das quais são historicamente excluídos no Brasil. Também permite uma mudança cultural nos padrões de mobilidade urbana e também nas formas de apropriação dos espaços livres públicos, tornando as cidades mais humanas e com mais qualidade de vida.

O Plano Setorial visou articular e requalificar o subsistema de espaços livres local e minimizar os impactos negativos da expansão urbana sobre a APP ali existente, através da implantação de um parque urbano, vias-parque e vias compartilhadas em toda a extensão do setor. A proposta buscou não apenas criar novos espaços livres, mas também qualificar o grande estoque de espaços livres existentes, conectando-os ao projeto das novas áreas. As soluções apresentadas não devem ser encaradas como modelos a serem aplicados indiscriminadamente em outros locais, entretanto, tais diretrizes empregadas podem ser balizadoras de intervenções futuras em outras áreas.

O novo subsistema proposto visa atender às demandas ambientais e sociais, a partir da união de elementos de drenagem natural com equipamentos de esporte e lazer, áreas de convívio e mobilidade de baixo impacto. Assim, espera-se construir uma paisagem urbana mais adequada aos usos existentes e contribuir para o aumento da apropriação de áreas com reduzida possibilidade de acesso.

As propostas apresentadas para as duas escalas de trabalho (a cidade e o setor urbano) se focaram na requalificação do sistema de espaços livres da cidade de Limeira com ênfase em três questões principais: mobilidade urbana, convívio social e conservação ambiental, com ênfase nas duas primeiras.

Toda a proposta foi possível devido ao estoque de áreas livres com potencial para requalificação paisagística, mas, sobretudo, à dinâmica urbana e a intensa apropriação dos espaços públicos que, ao se apresentarem de forma tão diversificada, conduziu grande parte das soluções de projeto apresentadas aqui.

O trabalho procurou responder de forma concreta às questões levantadas durante os estudos e análises elaboradas no local. As soluções empregadas são viáveis e poderiam ser empregadas em diversas outros locais da cidade, promovendo melhorias significativas ao espaço público e à vida dos cidadãos limeirenses.

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