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secao 4!

Desenho urbano entre o Rio Tamanduateí e a Orla Ferroviária -

Diagonal Sul

Renan Rodrigues Ferreira

Silvio Soares Macedo

O desenho urbano é o principal ponto de interesse deste trabalho. Ele é aqui entendido como um campo de atuação dos Arquitetos e Urbanistas, tendo suas próprias questões e características, mas se funde com outros campos de atuação desses profissionais, como a arquitetura de edificações, paisagismo, planejamento urbano e até mesmo questões de engenharia civil.

Estruturamos duas linhas mestras que nortearam o trabalho: uma crítica a quadra bloco convencional e o processo de "repensar" um setor da cidade de São Paulo. Desse modo, a área de intervenção está inserida dentro do perímetro da Operação Urbana Consorciada Mooca-Vila Carioca ou do que a minuta do Plano Diretor de 2012 denominada Macroarea de Estruturação Metropolitana.

A área já foi fruto de um trabalho realizado em disciplina na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, onde adotávamos a quadra bloco como solução formal para o projeto. Nesse sentido, o objetivo foi evoluir o pensamento sobre o desenho urbano da cidade contemporânea para algo além dessa solução estudada.

Buscamos algumas referencias de formas de ocupação e implantação das edificações nas quadras. Assim como também abordamos questões teóricas e conceituais que influenciam o projeto.

Partimos da desconstrução da quadra bloco tradicional, mas mantendo as características da malha reticulada - a quadricula. Isso estruturado por um sistema de espaços-livres com foco na recreação, lazer, circulação e percepção ambiental dos usuários.

As relações de continuidade e ruptura - horizontais e verticais - e a contenção e abertura dos espaços-livres foram a principal questão balizadora para a definição da volumetria dos edifícios e das características dos espaços-livres. Essa dicotomia permitiu um enriquecimento da experiência do usuário com a cidade, deixando claro a hierarquia dos espaços - público, coletivo e privado.

O Sistema de espaço-livre público para lazer é composto essencialmente por um parque ao longo do eixo ferroviário e outros parques menores juntos ao rio Tamanduateí e a Avenida do Estado. Eles tem funções de recreação e lazer como também de passeio e descanso, compatibilizando os diferentes usuários.

A esse sistema estrutural, acrescenta-se algumas praças, pulverizadas por toda a área de intervenção, conectando os parques e percursos. Trabalhando o espaço-livre público em suas diversas escalas.

Os espaços coletivos surgem sobretudo devido a desconstrução da quadra-bloco, são espaços de transição entre o público e o privado, de gestão particular vinculados com o uso do térreo dos edifícios - essencialmente comerciais. Podem ser lidos também como espaços ambíguos. São pórticos de entrada para o privado, amortecendo a passagem entre ambientes.

Os edifícios são divididos em duas categorias segundo o uso proposto: residencial e de serviços. Os edifícios mais altos (média de 16 pavimentos com pé-direito de 4m) são de serviços - escritórios e instituições de ensino. Funcionam como barreira acústica, diminuindo a poluição sonora oriunda das vias de tráfego intenso, como a Av. do Estado. Estes edifícios são implantados de modo a não sombrear as unidades habitacionais e variam a altura conforme visuais estudas para que eles sejam lidos também como marcos na paisagem urbana. Nesse sentido, adotamos um gabarito menor para as edificações de uso residencial para percebermos os marcos visuais em meio a trama urbana.

Os edifícios residenciais são mais baixos (embasamento comercial + 7 a 10 pavimentos) de modo a propiciar a criação de espaços públicos que permitam ao pedestre um total envolvimento na área e um controle da escala do edificado com a rua - principal espaço público.

As ruas são classificadas em quatro níveis: estrutural (Avenida do Estado e Presidente Wilson), principal, local e "superfície compartilhada". As avenidas conectam a zona com a cidade, fluxos metropolitanos mas a velocidade dessas conexões é distinta das que lá estão pois procuramos criar pontos de interesse ao longo desses eixos, o que acaba diminuindo a velocidade dos veículos. As vias principais fazem as ligações com o entorno, transpõem barreiras e complementam a acessibilidade metropolitana. As vias locais tem menor capacidade e por fim estruturam a malha viária proposta. Já as vias de superfície compartilhada são de trânsito lento e estruturam a micro-acessibilidade dos edifícios e dos espaços públicos.

Os acessos aos edifícios seriam circulações verticais para um certo número de unidades, de 4 a 6 apartamentos, evitando grandes corredores de circulação internas e criando um ritmo de acessos no térreo dos edifícios. Logo, no térreo temos os acessos às unidades habitacionais e algumas lojas, bares ou restaurantes, o que nos remete ao conceito de "fachada ativa".

As atividades do cotidiano estão relacionadas com a rua, elas acontecem nas ruas das cidades, o que implicaria ter uma boa qualidade. Propusemos ruas com calçadas largas de 5 a 6 metros com uma faixa arborizada de 1 metro de largura próxima a guia e iluminação do leito carroçável e das calçadas - abaixo do nível das copas das árvores. Em situações onde as calçadas tinham dimensões maiores, conseguimos implantar áreas permeáveis, jardineiras com bancos e áreas de descanso, como se fossem pequenas praças.

A água também é um elemento presente em diversos pontos do projeto, seja em espelhos dÕágua ou fontes, mas principalmente o rio. Buscamos trazer o contato com o rio à tona para os usuários, seja de maneira indireta - observar o rio, caminhar ao lado - ou direta - descer e tocá-lo, ou como uma nova via de transporte fluvial complementar aos outros modais.

A proposta apresentada tem como característica uma grande diversidade funcional e morfológica, compatibilizando usos e formas urbanas pouco recorrentes na cidade de São Paulo. Buscou-se criar uma nova centralidade de bens, serviços e moradia para toda a população, a fim de atender demandas crescentes por espaços para além da habitação, para além do muro, onde a vida pública possa ter lugar e se desenvolver.

Os espaços públicos de recreação e lazer foram pulverizados pela região, desde a pequena praça e "parque de bolso" ao parque regional. Estruturam o tecido urbano através dos espaços livres públicos e coletivos, conectando e aumentando a acessibilidade para todos os usuários, principalmente para os que se deslocam a pé. A escala do pedestre foi - e deve ser - ponto fundamental quando se propõe a caracterização dos espaços livres e as visuais do projeto, como o usuário percebe o espaço que o envolve e como se dão os deslocamentos entre eles.

Para além disso, temos a escala metropolitana do projeto, com sua torres empresariais: um novo pólo de negócios - visto que se trata de uma região com infraestrutura capaz de absorver esta nova carga de bens e pessoas que por lá passarão a circular - ainda que tentando manter regiões "menos agitadas" para os moradores.

Em suma, as principais diretrizes da proposta foram atingidas. Apesar de termos em mente que ela dificilmente será construída, o exercício de pensar outra maneira de produzir cidade foi muito enriquecedor. Um projeto utópico-pragmático, possível. Uma opção para além do que o mercado imobiliário produz: a torre isolada no lote. Tentando quebrar o paradigma, surge, por exemplo, uma quadra bloco descontruída. Indo além dos índices urbanísticos e mantendo a qualidade urbana em altas densidades (quase 500 hab/ha).

Projeto para uma cidade onde possamos equalizar os diversos interesses, a fim de construir uma cidade justa e acessível a tudo e a todos.

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