um Ensaio Projetual para o Recife Antigo
Rodolfo Mesquita Macedo
Karina Oliveira Leitão
Este Trabalho Final de Graduação perpassa por inquietações pessoais. Simples sonhos e indignações de um estudante de Arquitetura e Urbanismo que queria ver a vida das pessoas melhorarem.
Para isso, busquei alguém tema que me atraísse. Percebi que poderia ser interessante entender um lugar diferente de São Paulo, cidade com a qual trabalhei durante a maior parte do curso de graduação. Passei então a buscar algum lugar especial, que tivesse grandes características e alguns problemas interessantes. Desisti de trabalhar com minha cidade natal, após algumas conversas com professores. De repente, depois de muito procurar, me deparei com o Recife.
Aqui se pode ler como é o Recife que eu conseguir ver, que é limitado pela distância e tempo de convívio, mas que acredito ter apreendido (e refletido nesse trabalho) algo da sua essência. Portanto, mais do que ser um trabalho para ser implantado, este projeto reflete a minha interpretação do espaço e a aplicação de algumas ideias que foram se organizando na minha cabeça, e de certo modo, mostram um pouco o que seria a minha ideia de cidade ideal.
Ideal, mas não sem problemas, porque estes jamais deixarão de existir. Nem mesmo utópica, porque não proponho, e também não posso propor, mais do que minha formação me permite. Mas sim como um lugar onde as dificuldades existentes não podem ser escondidas por um muro, ou ignoradas, e sim enfrentadas, e quem sabe, resolvidas.
Um espaço que não privilegie o dinheiro, mas as pessoas. Que aquele seja apenas uma ferramenta para garantir mobilidade urbana, relação de identidade com o espaço e sua história, com seus cursos d’água, etc.
Assim, o que quero mostrar é, o que talvez possa se chamar, meu sonho, que nada mais é do que uma cidade mais justa, democrática, em que todos têm acesso às necessidades básicas, com conforto e qualidade de vida.
O presente projeto se localiza na área central do Recife. A importância desse lugar está relacionada à história de todo o Brasil. Desde os primeiros anos da colonização brasileira, Recife tem sido um ponto estratégico nas rotas de comércio entre Europa e a América do Sul. Esse aspecto fez com que a cidade se desenvolvesse ao redor de seu porto. No último século, com a expansão da cidade para a periferia, o centro de Recife sofreu um processo de abandono parcial de seus edifícios, assim como em outras grandes cidades brasileiras. Ao mesmo tempo, a área central pôde ser ocupada pelas classes menos abastadas. Seu caráter diverso passa por quase todos os elementos, como por exemplo, a variedade de usos que existem no centro. Afinal, nele está o porto, com indústria, bem como áreas de uso de serviços e comércio, edifícios de governo e habitação, inclusive uma favela.
Outro parâmetro interessante é a questão das águas para a cidade. Chamada de Veneza brasileira, Recife possui uma área permeada de rios, meandros e arrecifes. Por essa razão, o território é formado por ilhas que poderiam ter relações bem mais próximas com as águas, no sentido de espaços públicos e de transporte. A cidade também é destino turístico de muitos brasileiros. Ela é atrativo nacional pelas praias e pelo patrimônio histórico.
Entretanto, essa área central não é esquecida e existem alguns projetos de intervenção para o território. Porém, as propostas são na maioria das vezes processos gentrificadores que negam a cidade e o espaço público, como o caso do projeto Novo Recife. Este projeto prevê a criação de finas e altas torres na costa do bairro de São José, obstruindo o mar para a cidade e transformando a área urbana historicamente construída em plano de fundo para espaços de concentração de renda.
O projeto aqui apresentado se propõe a trabalhar com a problemática urbana em diferentes aspectos, utilizando-se das inúmeras potencialidades para um desenho urbano. Diferentemente do que se tem proposto majoritariamente na cidade, a ideia é de uma transformação urbana mais democrática, no sentido de manter a população existente e aumentar a capacidade do espaço para abrigar novas atividades. Essa intenção abarca geração de renda para os moradores mais antigos, urbanização de favelas e utilização máxima da infraestrutura urbana, além de criação de novos espaços públicos de cunho cultural e ambiental. Para tanto, estudou-se artifícios e parâmetros urbanísticos previstos no zoneamento e no plano diretor para viabilizar uma estratégia de intervenção.
Outra questão importante é a de mobilidade urbana e transporte. Existe um potencial enorme para transporte fluvial através do sistema hídrico da cidade. Além disso é necessário priorizar o transporte para pedestres, ciclistas e coletivo, em oposição ao transporte individual motorizado.
A questão harmônica do projeto tem uma importância em diferentes níveis. Por se tratar de um local histórico, as novas intervenções não podem ferir o seu atual aspecto arquitetônico. Portanto é necessário que haja uma linguagem e conexão entre o antigo e o novo. Assim como o patrimônio histórico, é essencial que a cidade e o porto possam coexistir em harmonia. Ao mesmo tempo, existe um número alto de edifícios históricos, como mais ou menos importância, que estão abandonados em espera especulativa pela preservação ou demolição.
A última premissa está na relação entre a cidade e a água. Este talvez seja o nível mais profundo, pois não se trata de uma questão meramente ambiental ou paisagística. Tal relação deveria conter essas questões, mas fazer com o que a água tenha nova importância para a cidade e seus moradores. Ela atualmente é uma barreira urbana e depósito de esgoto e poluição. Historicamente, ela possuía questão econômica para pescadores, e de certo modo, ainda possui, inclusive para o porto. A ideia é que os rios e o mar adquiram função oposta: a de conexão, e de espaço público.
Trabalho disponível em: http://issuu.com/rodolfo.macedo/docs/a_margem_da_cidade_-_tfg_2013_web_r
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